a sala ainda tinha o cheiro dos sapatos e da lama.
a porta da frente estava aberta e a da rua escancarada
chovia lá fora e, como sempre, cá dentro, a casa
sempre fora uma rua de gente sem sapatos e pés molhados.
quando ela entrou, vestida de linho e um ramo de flores
a sala perdeu-se e o soalho despareceu, não havia
nada onde a gente se pudesse acoitar, era como se fosse
eternamente de dia e profundamente terra sem chão.
ainda hoje recordo aquele dia, como se fosse além
do olhar e das horas e dos sonhos e do que mais houvesse
que não fosse somente a realidade de uma sala com cheiro
de sapatos e da lama onde os sapatos viviam e não viviam.
2 comentários:
Acabei de abrir este blogue e logo fiquei Uau...
Boa noite Senhor Padre,
Um poema magnífico (como eu gostaria de escrever assim), em que as metáforas lhe dão um brilho especial.
Emília S.
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