Numas localidades não muito remotas, onde o colega padre concentra o cuidado de mais de uma dezena de paróquias com uma população bastante envelhecida, muitos dos funerais são presididos por um senhor a quem o bispo da diocese pediu que auxiliasse este sacerdote. O senhor deve ser idóneo, pela formação que já teve e porque, dizem-me, é muito bom cristão. O colega padre não consegue estar em todo o lado ao mesmo tempo e são raras as semanas que não tenha mais de cinco funerais. Claro que a necessidade obriga a mudanças que em tempos eram impensáveis. Claro que não basta justificar esta mudança com a necessidade. Claro que ainda não é muito comum este procedimento, porque as mudanças têm custos. Claro que há um longo caminho a percorrer. Mas o caminho está ai, aberto. A abrir-se.
4 comentários:
Eu já fiz funeral e não sou padre e não precisa ser homem. Numa grande cidade, quando se andam muitos kms para ir supultar a pessoa numa aldeia do interior, para cumprir o último desejo da mesma, é complicado ter sempre padre disponível. Acredito que há consagradas que o fazem com muita dignidade.
Boa noite Senhor Padre,
Acho muito bem que assim aconteça.
Pois se os leigos e leigas já prestam os seus serviços nas várias vertentes, porque não fazerem também funerais?
É sinal que a Igreja também se sabe adaptar às necessidades
Ailime
Sem dúvida que é um caminho a experimentar. Para lá das pessoas consagradas, como referia o comentário acima, e evidentemente dos diáconos permanentes, poder-se-á aproveitar a potencialidade dos ministros extraordinários da comunhão e dos que orientam celebrações dominicais na ausência do presbítero. Pode-se também recorrer a alguns movimentos, como a Legião de Maria ou o Apostolado de Oração, que muitas vezes já asseguram e conduzem momentos de oração durante os velórios. Em algumas terras ainda persiste a tradição de um elemento da confraria ou irmandade (das Almas, do Santíssimo, do Rosário...) fazer algumas preces pelo falecido, na hora do levantamento ou já no cemitério. Em algumas comunidades estão a criar-se equipas de acompanhamento no luto que poderiam também assumir a dimensão celebrativa-ritual. E temos ainda os ministérios recentemente renovados de leitor, acólito e catequista. Pistas de acção não faltam.
Todavia, para muitas famílias o caminho é já outro. A pandemia obrigou-as a viver funerais em que o corpo do ente querido não teve a possibilidade de ser velado numa capela ou entrar na igreja paroquial. As despedidas duraram meia dúzia de minutos, no cemitério, orientadas pelo agente da funerária, com a assistência reduzida aos familiares mais próximos e mais saudáveis, e sem ninguém que representasse oficialmente a comunidade cristã.
A tendência irá intensificar-se para cerimónias curtas, discretas, vividas na intimidade. Umas palavras de memória e homenagem por parte de um familiar, e a escuta de alguma música de que o falecido gostava. Uma reunião simples e uns momentos de recolhimento no crematório, antes do corpo ser incinerado. E talvez uma missa mais tarde, diante da urna das cinzas ou de uma foto da pessoa chorada. Uma nova realidade.
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