domingo, janeiro 03, 2021

A pastoral das mensagens

O Bispo disse isto. O bispo falou de. O bispo escreveu uma carta pastoral. O bispo redigiu uma nota. Na mensagem do primeiro dia do ano o bispo afirmou. Na de Natal pediu. Ou alertou. Na homilia tal referiu que. E por aí fora, num rol de notícias ou ocorrências que mais não são que dizeres e mensagens. Ou seja, a pastoral que fazemos parece, muitas vezes, reduzir-se a notas, cartas pastorais, mensagens e similares. 
Sem desprimor do conteúdo desses conjuntos de palavras, acaba por se tornar cansativo ler tanta coisa que se diz e se repete, quase como que a ver quem diz primeiro aquilo que toda a gente já sabe que vai ser dito. Não digo que não seja importante, mas acaba tornando-se muito cansativa tanta leitura ou mensagem que se consome por estes dias. Ainda por cima, a pandemia causada pelo novo coronavírus e as condicionantes pastorais que trouxe consigo, vieram acicatar esta como que necessidade de se dizerem coisas. Vieram fomentar a necessidade de nos fazermos escutar e de manifestarmos uma presença. 
Este proceder é, de certo modo, consequência de uma sociedade líquida e pós-moderna, em que tudo é volátil e há uma necessidade constante de ter uma palavra e preencher o vazio do silêncio. Contudo, pessoalmente acho que o silêncio da intimidade com Deus é capaz de ser escutado com mais intensidade que as muitas palavras proferidas. E sou de opinião que a melhor acção pastoral são as obras. 
Por isso, ao ver alguns canais de comunicação da nossa Igreja, canso-me de tanta mensagem que pouco acrescenta ao que já foi dito noutras mensagens. Quando a mensagem é só uma. Quando o mensageiro é só um. A mensagem da Igreja é a Boa Nova da Salvação. E o seu mensageiro é Cristo. Assim o dizem os documentos da Igreja e assim o creio também. Mesmo que as centenas de mensagens sejam valiosas e importantes, a nossa Igreja deveria dar mais espaço à Mensagem.  
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "As mensagens de natal ou que tal"

5 comentários:

Anónimo disse...

Têm um valor muito especial para mim as mensagens que recebo personalizadas. Pessoalmente também costumo, para um número muito restrito, escrever como se costuma dizer "com o próprio punho". Mas também tenho de reconhecer que, por vezes, reencaminho algumas mensagens porque lhe acho, simplesmente graça, com o intuito de alegrar quem as recebe. Acontece que o que me fez dar umas boas gargalhadas, pode não ter o mesmo efeito nos outros, dependendo do estado de espírito ou porque simplesmente podem achar banais, perda de tempo... Quando finalista de curso, fiz o que geralmente todos fazem, entreguei fitas a colegas, professores e familiares. Conversando com colegas comentei que ainda não tinha entregado a fita a um professor. E a resposta: conhecendo-te como te conheço, não lhe vais dar qualquer valor, lê as nossas e basta, são todas iguais! Entretanto, encontrei o professor em questão e não resisti a entregar-lhe a fita mas com o seguinte recado: o que escrever nessa fita, é para mim, não se esqueça! Valeu mesmo o lembrete porque foi a mensagem mais personalizada que recebi e que guardo com muito carinho! Estes são presentes que nos tornam presentes.

Confessionário disse...

Caro(a) 03 janeiro, 2021 16:52
As mensagens a que se refere o texto não são tanto as mensagens que trocamos nesta época natalícia através dos telemóveis ou das redes sociais (no texto que vem "a propósito ou a despropósito" talvez sim) ou similares (como a que refere da fita e do professor).
Este texto refere-se à informação dos órgãos e agências de comunicação católicas (nomeadamente no nosso país) que se gastam a dizer o que os nossos bispo dizem... como se a acção pastoral se reduzisse a mensagens!... entre outros pormenores...

Anónimo disse...

Tem razão, Confessionário, é que eu fui lá atrás ler o texto " a propósito ou a despropósito" e esqueci o atual. Mas estou totalmente de acordo com o que diz no atual: É uma enxurrada de mensagens que cansa e muitas vezes não atingem o essencial.

Confessionário disse...

03 janeiro, 2021 18:09
Também fiquei com essa sensação de que estava em modo de "a propósito"! heheheh

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
Tem toda a razão. Acredito que seja cansativo ler tantas mensagens repetitivas. O problema da Igreja e do mundo em geral é falar-se (escrever-se) muito e fazer-se pouco.
Que na Igreja se dê mais atenção e se divulgue com mais entusiasmo a Mensagem de Cristo.
Desejo-lhe um bom Ano Novo com muita saúde e paz.
Ailime