São os funerais de hoje. É o que tenho sentido em cada funeral que tenho presidido durante este período de contingência. No cemitério. Distantes uns dos outros. Com máscaras e outras protecções. Pouquíssimas pessoas. Familiares que nem podem ir. Amigos, só se a família for muito reduzida. Chora-se para dentro. Chora-se mais, mas para dentro. É o desespero de não ter espaço e tempo para chorar.
Ainda me recordo do primeiro funeral. Precisei de um minuto para me recompor e limpar as lágrimas. Recordo de modo especial o funeral de um jovem de dezoito anos. Chorei do início ao fim, em solavancos com as palavras. Não consegui aguentar a máscara. Não consegui limpar os olhos. Não consegui senão manifestar que estávamos unidos até neste não saber como fazer e sofrer.
Habitualmente tardo uns quinze minutos. Depende um pouco. Tento dar dignidade à celebração. Pelo menos tento. Ela é digna por si mesma. Vale pela presença de Deus e não pela presença das pessoas, em multidão. Não vale pelo que digo, mas pelo que Deus diz. Mas fico sempre com a sensação de que toda a gente quer sair dali o mais depressa possível. Toda a gente tem pressa. Dizem-me os cangalheiros. Demore pouco, padre. A família olha para mim a ver a hora em que termina o desconsolo. Os senhores da funerária querem ir desinfectar-se para casa. Para mim é tudo muito estranho. Depois da leitura do evangelho, partilho umas palavras. Mas soam-me a palavras que sobram. Nalgumas ocasiões pelo menos. Rezamos. Estamos. Unimo-nos. Mas tudo parece correr. Tudo parece ser a fugir.
Ainda me recordo do primeiro funeral. Precisei de um minuto para me recompor e limpar as lágrimas. Recordo de modo especial o funeral de um jovem de dezoito anos. Chorei do início ao fim, em solavancos com as palavras. Não consegui aguentar a máscara. Não consegui limpar os olhos. Não consegui senão manifestar que estávamos unidos até neste não saber como fazer e sofrer.
Habitualmente tardo uns quinze minutos. Depende um pouco. Tento dar dignidade à celebração. Pelo menos tento. Ela é digna por si mesma. Vale pela presença de Deus e não pela presença das pessoas, em multidão. Não vale pelo que digo, mas pelo que Deus diz. Mas fico sempre com a sensação de que toda a gente quer sair dali o mais depressa possível. Toda a gente tem pressa. Dizem-me os cangalheiros. Demore pouco, padre. A família olha para mim a ver a hora em que termina o desconsolo. Os senhores da funerária querem ir desinfectar-se para casa. Para mim é tudo muito estranho. Depois da leitura do evangelho, partilho umas palavras. Mas soam-me a palavras que sobram. Nalgumas ocasiões pelo menos. Rezamos. Estamos. Unimo-nos. Mas tudo parece correr. Tudo parece ser a fugir.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Os funerais Covid"
6 comentários:
tristeza tão grande SrPadre
Muito triste, Padre. Sabe o que eu acho? Que, actualmente, os falecidos andam com muito más companhias. Pode ser que melhor, nunca se sabe.
Grata pelo testemunho.
Boa noite Sr. Padre,
Muito triste e como deve ser tão difícil!
Só à luz da fé e com muita compaixão poderá enfrentar e superar tais momentos.
Boa semana, com saúde.
Ailime
É de extrema angustia em um momento desse. Ainda bem graças a Deus, ELE é por nos. Não consigo imaginar sem a presença de Deus, para por isso mas Suas mãos.
Estamos a voltar ao ritmo normal, mas também me parece que anda tudo a fugir!
tão triste, padre!
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