quarta-feira, março 25, 2020

os funerais covid

Contaram-me que alguns colegas têm ouvido reclamações e desaforos de pessoas por causa das restrições dos funerais e por não haver missa de sétimo dia. É verdade que, a cada dia que passa e diante das evidências, têm diminuído este tipo de atitudes e reacções. Mas ainda há poucos dias, um agente funerário me contava que uma neta de uma senhora falecida discutira com ele, porque queria ver a avó a todo o custo. Queria velório como se nada fosse. Queria tudo e mais alguma coisa a que achava que tinha direito. Isto é duro. Muito duro. 
O primeiro funeral a que presidi, com uma pequena celebração no cemitério, na presença de pouquíssimos familiares, doeu muito. Doeu tanto que, ainda antes de começar, olhei para os rostos daquelas pessoas e as lágrimas caíram-me pelo rosto sem eu lhes dar licença. É bem provável que tenhamos de buscar uma nova forma de fazer o luto! Mas também é importante não deixarmos que a dor seja mais forte que a nossa racionalidade! Neste momento há um bem maior do que a nossa própria dor. O bem comum. E é bom recordar o que ocorreu, por exemplo, num funeral, em Espanha, onde se contaminaram dezenas de pessoas. Ou o que, no Irão, e diante da enorme dificuldade em tratar da sepultura de quem morre com o vírus, como dizem algumas informações, os corpos têm sido sepultados em valas abertas. Assim como é de supor o que poderá acontecer em paróquias onde o pároco contrair o vírus e tiver de ficar em casa. 
É doloroso ouvir estas coisas. Saber delas. Pensar nelas. Imaginá-las. Tudo é doloroso neste momento. Rezemos. Rezemos por quem tanto sofre num momento como este e partilhemos da sua dor na oração!

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Como serão os funerais quando não houver padres?"

5 comentários:

Anónimo disse...

Só me ocorre chorar!

Ailime disse...

Tudo muito doloroso, Sr. Padre, tudo muito triste.
Só nos resta mesmo rezar, rezar muito e pedir a Deus que dê bom senso ao seu povo.
Desejo-lhe uma boa noite tranquila.
Ailime

Anónimo disse...

Fiquei com pensamentos hoje dia todo, só resta as lágrimas e rezarei pra tudo volta um pouco amenizado com o tempo. Só ele cicatriza.

Anónimo disse...

Imagino o quão doloroso não será para o senhor padre ser padre. Deverá repensar o chamamento? Questione-se, os tempos são propícios. Bendito seja o silêncio. Amén.

Confessionário disse...

27 março, 2020 17:27
Qualquer vocação ou forma de vida tem associada dor e sofrimento.
Não será esse o motivo pelo qual uma pessoa deixa a sua vocação ou missão.
Aliás, poderá ser um plus para a abraçar ainda mais.
Mas custa, custa!