Também tive resistências em mudar o meu e o hábito das pessoas com o novo missal que, em Portugal, foi preparado e aprovado pela Conferência Episcopal Portuguesa a 19 de Novembro de 2019, validado pelo Papa Francisco e confirmado pela Santa Sé a 13 de Outubro de 2021 e que entrou em vigor a 14 de Abril de 2022. Recordo a dificuldade que tive em aceitar a mudança e as justificações que fui arranjando para adiá-la. Percebi em pouco tempo que, mesmo que não concordasse com algumas das alterações a nível metodológico, teológico e litúrgico, fazia sentido dar esse passo, sobretudo em razão e em nome da comunhão que defendo na Igreja.
Entretanto, para meu espanto, passados estes dois anos, nalgumas paróquias - pelos vistos bastantes - continua-se a usar o missal antigo e alguns colegas pouco ou nada fazem para usar o novo. Ainda há dias um deles me dizia que não mudava porque não gostava da linguagem de algumas orações. Naturalmente que estranhei a justificação, uma vez que ele ainda não manuseava o novo missal. Também não deve ter sido muito diferente quando, em 1969, Paulo VI promulgou o novo missal romano, fruto da determinação do Concílio Vaticano II. As mudanças custam sempre. Mas se não existissem, não sairíamos do passado e nunca seria presente. Valha-nos ao menos que, por este andar, em Portugal os novos missais serão sempre novos.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O padre não é bom da cabeça"
6 comentários:
Boa tarde Senhor Padre,
Confesso que sou um pouco distraída, mas só dei por uma alteração.
Será que na maioria das igrejas se tem seguido o método da não mudança?
No meu fraco entendimento essas alterações deviam ter sido aplicadas.
Assim não estamos a cumprir com o que foi aprovado e é mau para nós e igreja.
Emília
É mais fácil permanecer no "sempre se fez assim"!
Há vários factores a considerar.
Por um lado, as mudanças nos textos não parecem ser suficientemente significativas para justificar uma substituição urgente e forçosa do missal anterior.
Por outro, a introdução do novo missal ficou marcada por várias peripécias de adiamento e de insuficiência de stock (lembre-se, a propósito, que o texto original saiu em 2002...).
Por outro lado ainda, não se trata propriamente de um livro barato. E não são poucas as paróquias que se viram forçadas a renovar nos últimos anos o missal antigo e se vêem agora na situação de ter de o arrumar e fazer nova despesa.
A tudo isto pode acrescer um certo desleixo, que era típico no passado e que ainda é sentido hoje em algumas paróquias, relativamente ao cuidado a se ter com os objectos e os espaços sagrados: sacristias desarrumadas, paramentos a precisar de uma lavagem, alfaias a necessitar de conserto, rituais manchados...
Mas a razão principal, penso que tem que ver com um misto de memória muscular e de saber de cor que vêm em auxlio dos senhores padres na celebração eucarística, ao permitirem a poupança de energia (com os riscos, claro, inerentes à rotina). Para muitos padres, o missal anterior quase se abria sozinho na página pretendida; e muitas das fórmulas eram pronunciadas de cor, rezadas ou cantadas, sem sequer ser preciso consultar o livro. A nova edição obriga a um retreinamento e a um redobrar de atenção que são algo penosos, sobretudo (e volto ao início) se as alterações não parecem significativas.
Conclusão: o melhor mesmo será as autoridades em cada diocese fazerem como aquele bispo célebre que, ao sair para as visitas pastorais, levava na bagageira exemplares da edição mais recente dos diversos livros litúrgicos e tratava de substituir imediatamente o material antigo que encontrasse na paróquia visitada. Uma limpeza...
Comentário muito interessante e a reflectir, JS.
Esse JS deve ser jornalista, ou escritor...Amo quando escreve assim depois do Confessionário..
Pouco sinodal como método. Lá está a autoridade, a hierarquia a impor!
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