A Clara participou num encontro religioso que mudou a sua vida. Pelo menos mudou a sua relação com Deus. Fez-lhe muito bem. Saiu daquele encontro, tal como a maioria dos jovens que nele participara, cheia de Deus, como me dizia. E notava-se abundantemente no seu rosto, que era muito mais descoberto e aberto que outrora. Senhor padre, quando houver mais coisas assim, lembre-se de mim. Lembre-se de me informar. E lembro. E ela participa. Faz-lhe bem. Mas fica nesse consumo de experiências. E a fé não vive de um conjunto de experiências de fé. A fé não se consome. Vive-se. É um processo de vida. É um caminhar constante, mesmo por entre altos e baixos, entre momentos mágicos e momentos sem magia. É um caminho para fazer diariamente e para se alimentar da correnteza do dia, da normalidade das coisas, da quotidianidade da vida. Não lhe chega o acumular de experiências marcantes. Porque o dia a dia, mesmo por dentro do consciente, marca muito mais quem somos e quem nos fazemos, para onde vamos e como vamos.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Não há caminhos certos"
4 comentários:
Ó Confessionário, estarás a criticar os jovens por não serem adultos?
Para além de não fazer sentido, não parece justo.
Ou quererás apenas manifestar a tua inquietação por aqueles jovens que se viciam nas experiências espontâneas e passageiras, e resistem ou recusam evoluir para um estado de vida mais estado de vida mais estável, sólido e permanente?
A mim, preocupam-me as (muitas) comunidades cristãs que continuam a não dar espaço aos jovens e às suas experiências, em que os responsáveis consideram desperdício usar o dinheiro da comunidade para apoiar as actividades deles, em que alguns sectores se sentem ameaçados nas suas capelinhas de conforto e de poder, em que os animadores de grupos juvenis (difíceis de encontrar e de formar) são sistematicamente atacados pelo seu espírito inconformista e de natural rebeldia.
JS,
Não critico nem pretendo criticar os jovens por não serem adultos, nem pretendo propriamente manifestar a minha inquietação pela busca de experiências momentâneas. Estou convencido que, cada vez mais, precisamos de experiências intensas de intimidade com Deus e esse tipo de experiências não acontecem todos os dias e a toda a hora.
Não obstante, é preciso ter a noção de que a fé é uma vivência sistemática, corrente, diária, que não pode excluir momentos altos e até com uma certa magia no nosso coração, mas que vê nesses momentos apenas mais um empurrão para uma vida diária comprometida, tanto ad extra como ad intra eclesialmente falando. A vivência da fé não pode ser exclsuivamente um acumular de experiências de fé.
O caso da Clara é o caso de muitos jovens e adultos que buscam experiências intensas de contacto com Deus ou com a espiritualidade, mas depois diariamente vivem quase como se o engajamento na comunidade e o compromisso missionário não fossem importantes. Alimentam-se de experiências, muitas vezes, fugazes, que não têm correspondência com o compromisso eclesial.
Tomara eu que a Clara e outros jovens como ela se entregassem mais pela e na comunidade paroquial.
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