quarta-feira, julho 19, 2023

Catequese para miúdos sem fé

Não rezam e não vão à missa. Não sabem estar na missa. Não se confessam nem se sabem confessar. São capazes de comungar só porque os outros também vão comungar. Não sabem o que é a oração da via-sacra e sobre o terço têm uma vaga ideia. Só ouvem falar de Deus na catequese, quando conseguem ouvir a catequista no meio da barulheira e da distração. Não se lembram de Deus. Passam-se dias e dias sem que Deus venha ao pensamento. Pouco mais sabem que o nome de Jesus. Não entendem o que é o Espírito Santo e confundem Deus com Jesus. Sabem que Nossa Senhora é a mãe de Jesus e os pais já os levaram algumas vezes a Fátima. Não faltam à festa religiosa da terra. Mas são capazes de gozar com as beatas. Sabem da existência do Natal e da Páscoa. O primeiro talvez mais pelas prendas e o segundo talvez mais pelos ovos de chocolate. E ambos pelas férias. Ouviram falar de advento e de quaresma, mas são nomes estranhos. São capazes de gostar de algumas coisas que se fazem na catequese ou nas festas da mesma. Todos têm fotos da Primeira Comunhão e da Profissão de fé. A maioria aguenta-se até ao crisma para poder se padrinho. E, no meio disto tudo, os nossos catequistas, grande parte deles não tão bem preparados pedagogicamente como era necessário, lá vão tentando fazer uma catequese que, a maior parte das vezes, é mais escolar que kerigmática, é mais passar conhecimentos que alimentar e ajudar a crescer a fé. Sei que estou a escrever uma hipérbole, e sei que a fé é muito mais que celebrações, sacramentos, credos e doutrinas. Mas parece-me que temos promovido uma catequese a pensar que os miúdos têm fé e não proporcionamos experiências de fé. No fundo, temos fomentado uma catequese para miúdos sem fé que dificilmente a irão ter.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Queria saber como posso ter fé"

7 comentários:

Lugar de Partilha disse...

Senhor Padre, continuo por aqui também à procura da minha fé... Tempos difíceis, grandes desafios para os catequistas. Por estes dias ando a ler Ruy Belo. Um dos poemas é bem actual: Nós os vencidos da fé. Cumprimentos, Senhor Padre.
V. F.

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
Penso que quando somos crianças e frequentamos a catequese, o que nos é ensinado é vivido de forma meio aérea. Não há capacidade para assimiliar tantos conceitos. Com o decorrer da idade e se alguma semente ficou aparece em muitos casos a vontade de aprofundar a catequese, porque já se tem uma maior compreensão dos factos, ao mesmo tempo que algumas respostas começam a fazer sentido aos questionamentos que se apoderam de nós. Durante este processo algo em nós começa a florescer e eu chamo-lhe fé. Claro que isto tudo acontece se na igreja houver quem nos oriente e nos dê verdadeiro conhecimento e testemunho de Deus e de como encarnou e se fez Homem, para nos ensinar as leis do amor. O suporte em casa é de extrema importância também.
Desculpe se me alonguei.
Ailime

Anónimo disse...

Olá Conf.,
Há quanto tempo não "passava" por aqui !
Tenho duas filhas. Não obstante ao percurso que fizeram até à profissão de Fé, ao facto de saberem estar numa igreja, não lhes reconheço qualquer Fé, nem elas negam não a ter, quando abordamos o assunto. Ao ponto de eu, sendo uma pessoa de Fé, as ter desaconselhado a continuarem na catequese só porque "às vezes é giro". Na educação que lhes dou, tento incutir a coerência. Na religião tento manter o princípio. Daquilo que observo, a inexistência de Fé no miúdos é quase tabu. Os catequistas encontram muitas razões para o comportamento dos miúdos, mas, raramente é abordada a falta de Fé de forma frontal... Como se a religião fosse uma tradição que os pais devem ajudar a manter. Também o é... Mas, vai muito além disso... julgo eu, que posso estar errada.
SL

Anónimo disse...

Exatamente o que me aconteceu 🙂. Mantenho a esperança que essa semente tenha ficado com as minhas filhas. Como lhes digo, a porta da Igreja está sempre aberta!
SL

Confessionário disse...

SL, não estás errada. Vai muito mas muito mas muito além disso. Eu diria que pouco deveria ter a ver com isso.

Anónimo disse...

É preciso mais JMJ, a nível interparoquial ou de vigararia. É preciso recuperar a sério o encontro anual de jovens em Fátima fundado pelo saudoso Feytor Pinto. Mas haverá energia, vontade de arriscar? Querer-se-á mobilizar recursos? Ou vamos continuar a propôr o caminho da fé sentados numa cadeira?

Anónimo disse...

Não sei se é assim uma hipérbole, Sr. Padre. Acho mesmo que, no geral, os miúdos hoje não têm fé. E mesmo as atividades de Pastoral Juvenil muitas vezes são para eles isso mesmo: atividades (muitas vezss menos interessantes do que outras). Não sinto que a fé fique fortalecida depois dessas atividades.
Atravessamos uma época difícil, creio que será preciso repensar todas estas questões e tentar perceber como se consegue levar ao conhecimento íntimo de Deus, aquele conhecimento que vem de uma intimidade que se sente.
Até eu me sinto com pouca fé nos últimos anos...