terça-feira, abril 04, 2023

O Joaquim que gritava ao crucifixo que tinha desaparecido

O Joaquim tem um pequeno atraso. O seu grande corpo físico não corresponde ao tamanho das suas capacidades intelectuais. E estas ainda são diminuídas a cada dia pelo vício do álcool. É raro não andar bêbado. Não porque tenha muito dinheiro para alimentar o vício, mas porque muita gente lhe paga copos só para o ver tonto e a tombar! Os amigos do Joaquim são aquele tipo de amigos que merecem a verdadeira designação de ‘amigos dos copos’, sem mais amizade para além disso. No entanto, o Joaquim tem um amigo Grande, tão grande que não há dia nenhum que ele não o visite na igreja. É seu hábito ir lá fazer umas orações. Mas ontem estava muito zangado e gritava para o crucifixo que tinha desaparecido. O pároco tinha mandado tapar todas as imagens da igreja na semana santa. Todas, sem excepção. Foram todas escondidas com panos e colchas velhas. E o Joaquim não conseguia ver o seu Grande amigo do crucifixo: onde estás, Quem Te levou, Quem fez isso, Vou prendê-lo, Sai daí que eu estou aqui à Tua espera, Eles são doidos, São malandros, Deita isso fora, Vão pagar tudo, Vais ver! E não parava de gesticular, de esbracejar e de gritar a plenos pulmões. Na verdade, Deus ainda hoje gosta de falar pela boca dos que a sociedade chama tontos.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Uma certa liberdade"

2 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre
Um verdadeiro testemunho de fé.
Deus fala aos pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus.
Desejo-lhe boa Quinta Feira Santa.
Ailime

Anónimo disse...

"Na verdade, Deus ainda hoje gosta de falar pela boca dos que a sociedade chama tontos."
concordo, padre