A noiva sentara-se à minha frente para dialogarmos sobre o seu casamento. Pormenores. Alguma logística. Acerca das leituras não quis saber. Deixou ao meu critério de escolha. Mas sobre a homilia, largou um pedido. Senhor padre, gostava que não falasse de divórcio no meu casamento. Pois muito bem. Falar só coisas bonitas e positivas, que a moça não quer que na festa dela se falem de coisas menos boas. E tem razão, a moça. Tem toda a razão. Os casamentos não servem para falar de coisas tristes. São celebrações do amor e o amor é o caminho da felicidade. Não é o caminho da tristeza. É o caminho da união e não da separação. Por isso, não falarei de divórcio no casamento desta noiva. E evitarei nos casamentos de outras noivas que hão-de vir. Aprendi que nos casamentos só se deve falar de coisas boas, não vá ser mau agouro da coisa. É que uma vez, num casamento, contou-me ela, eu apresentara alguns dados de divórcios em Portugal e acontece que, passado pouco tempo, aqueles nubentes se divorciaram. Foi mau agouro. A tal homilia começara por constatar que o amor era o que mais nos fazia felizes, depois perguntava então porque motivo é que havia tantas divórcios, e no final apresentava pistas do que seria ou deveria ser o verdadeiro amor, aquele amor que não redunda em divórcio. No entanto, a noiva só escutara os dados. E o mais certo é que toda a assembleia só tenha ouvido os dados. E o agoiro agoirou. Pronto, prometo que não vou agoirar mais. Mas olhem que isto me fez lembrar aqueles pais que evitam que os filhos encarem a morte dos entes queridos e fazem de conta para que estes não se aflijam. Não vá ser mau agoiro também e as crianças fiquem tristes.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O caso descaso!"
6 comentários:
Boa tarde Senhor Padre,
Não assente o casamento em amor e a sua construção ao longo dos anos não se baseie no respeito mutuo, na tolerância, compreensão e muitos outros fatores, que não será a palavra divórcio na homilia do dia do casamento a causa de separação.
Ailime
Acho que na homilia o senhor padre devia deixar decidido para quem ficara a casinha. So em caso de divorcio, claro esta.
Imagina, caro Confessionário, que no dia da tua ordenação, o sr. bispo se lembrava de deixar alguns dados sobre aqueles que fracassaram na sua vocação sacerdotal ou aqueles que foram castigados com a redução ao estado laical. É possível que dissesses que o bispo estava simplesmente a ser realista; mas até que ponto seria considerado apropriado ou de bom tom?
Faz um pouco lembrar aqueles padres que aproveitam os funerais para fazer catequese sobre o inferno e a condenação eterna...
Tens toda a razão, JS.
mais uma razão a acrescentar às razões!
Mas também é verdade que há um grupo crescente de vidrinhos, de não-me-toques, de gente que se ofende com a mínima coisa, de malta que desmaia ao ver uma hóstia com glúten ou que considera que o Corpo de Cristo não é suficientemente vegano. Vai-se intensificando um turismo sacramental em que as pesoas vão à procura do padre que conta mais anedotas ou que não incomoda consciências. Homilias na tal linha do cristianismo ligth e descafeinado que é como o Melhoral: não faz bem nem faz mal.
Como te compreendo JS!
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