domingo, fevereiro 19, 2023

Jesus no escuro

A capela fica no andar de baixo e é convidativa. Passam-se lá uns bons bocados. De vez em quando, chama-me e eu entro. Geralmente durante o dia, sem horas pré-programadas. É o que mais gosto dela. Está ali sempre, à mão, e pronta a receber-me sem horários e que fazeres. Mesmo durante a noite. E foi numa noite destas que entrei e me sentei ao fundo, numa das últimas cadeiras almofadadas. Não acendi a luz porque as duas lâmpadas acesas, embora discretas, chamavam a atenção para o essencial, o sacrário e a cruz. A luz desta última era tão ténue, mas tão ténue, que mal se percebia a silhueta de Jesus. Era o meu Jesus escondido, pensei. Para que eu soubesse que estava lá, mesmo quando só desse para perceber uma linha ou duas da sua presença. Porém, o mais curioso ocorreu passados uns largos minutos no escuro. Quanto mais tempo permanecia na escuridão, mais o seu rosto se desenhava e se tornava visível. A luz ia crescendo e tomando-lhe forma por inteiro. Quanto mais tempo estava na escuridão, mais se notava a sua presença. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "A fissura do braço de Cristo"

1 comentário:

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Um belo momento de intimidade com o Senhor.
É na maior escuridão que a Luz brilha mais e, neste caso, o foco se vai tornando mais presente.
Ailime