sábado, junho 18, 2022

A espiritualidade em mim

Tão sem palavras...
No meu último retiro, esse espaço ou lugar que gosto especialmente porque me encontro com Deus de forma ímpar, o orientador, aquele que me ajudava a encontrar-me e a encontrá-lo, disse-me algo que ainda hoje me inquieta. Os seus olhos, de um azul e de uma expressividade que me faziam lembrar a imensidão e infinitude do mar, pousaram em mim para me dizer “És um homem com uma espiritualidade forte”. Eu pensava que não, e reagi. Acenei com a cabeça e com o corpo. Olhei para o lado. Acenei que não com tudo e fiz de conta que ele não falava comigo. Mas eu rezo tão pouco, disse. Rezo tão pouco, repeti. E ele voltou a mim. “És intenso na tua intimidade com Deus!” Não disse mais nada. Acho que também não quis ouvir. Passei umas horas a olhar para estas palavras, na tentativa de as deixar dizer o que significavam. É certo que me deixo arrebatar quando me sinto arrebatado na oração. É certo que sou honesto comigo – ao menos comigo – quando tento atravessar os meus sois e sombras. É certo que me gasto com um tu que sinto amar na pessoa de Cristo. Mas isso, para mim, sempre foi apenas um poucochinho de nada. Tão pouco e tão insignificante. Tão raro. Tão anónimo e escondido. Tão sem palavras...

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Na lareira 2"

3 comentários:

Anónimo disse...

ó padre, às vezes invejo-o no modo como está com Deus.

Gostei muito deste texto!

Mª Antonieta disse...

Muito obrigada por partilhar este episódio tão íntimo connosco. Ajuda saber que não estamos sós nesta busca por amar o Amor que cada dia nos desafia a mais.

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
O seu orientador consegiu ler-lhe o coração.
Sente-se nos seus artigos, nas suas expressões, essa sua espiritualidade e fidelidade a Deus.
Desejo-lhe uma boa semana.
Ailime