Depois de meia hora sem sinal, numa manifesta apatia, e depois de rezar várias vezes a oração do Pai-nosso a olhar para ele (o pai que me trouxe à vida e que está agora numa Unidade de Cuidados Continuados), disse-lhe que o amava muito. E pela primeira vez nessa visita, deixou de olhar o vazio, sorriu a olhar para mim, e disse 'Também me amo muito, meu filho'. Depois voltou à apatia. E não mais segurei as lágrimas. Nem as seguro agora. Porque não quero, como não queria que fosse assim. Sei que há palavras que dizem tudo e não precisam de outras palavras. Mas também há coisas que ultrapassam as nossas forças e só as lágrimas conseguem ter força suficiente para fazer alguma coisa.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO (desta vez imensamente a propósito): "Feliz dia do pai"
5 comentários:
Boa tarde Senhor Padre,
Pois que as lágrimas purifiquem a sua dor.
Um abraço,
Ailime
As lagrimas lavam a alma, muito lindo o dizer em vida. É tudo que alguém pode expressar ao outro. Chm
Um abraço...
É difícil ver a fragilidade daqueles que amamos, os nossos herói, tornarem-se dependentes. Experiência própria. Quantas vezes recordo episódios que não voltarão a acontecer porque agora os papéis inverteram-se, os heróis agora, somos nós! Recordo-me de um episódio entre muitos: a mãe foi fazer o almoço, o pai, no lameiro arrancava alguns milheiros para que as espigas fossem maiores e eu, ainda criança, dormia numa sombra perto do pai. Entretanto acordei e fiquei a contemplar o trabalho dele e quis dar uma ajudinha... e mãos à obra... comecei a arrancar os milheiros e a pô-los ordenadamente com a raiz para o mesmo lado... Quando o pai olhou para traz e viu a minha obra de arte, um bon pedaço do lameiro sem milho, ficou desesperado...agarrou em mim e fez o gesto brusco de me atirar para dentro do ribeiro. E eu fiquei tão contente que desatei a rir... e o pai ficou desarmado. Para mim, o pai, é a imagem terrena da bondade do Pai do Céu.
Como é bom saber de que: nos ama tanto
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