O desabafo iniciou com os olhos lacrimejantes. Depois com o rosto macerado e inclinado para baixo. A olhar para dentro. Não me identifico com esta Igreja. Com esta forma de ser Igreja acorrentada ao sacramental e ao sempre se fez assim. Olho a construção do reino e o anúncio da Boa Nova como os pilares da missão da Igreja, como um todo, e da minha própria missão como sacerdote. Não sei tudo. Mas sei que estamos a ir pelos caminhos errados. E esta pandemia veio desvelar o equívoco. Olho para o meu bispo e para os meus colegas padres e sinto-me estranho. Por mais diálogos que faça, soam-me a monólogos. As discussões pastorais destes tempos de pandemia circulam à volta do mesmo de sempre, na busca de um novo modo de fazer o mesmo de sempre. A manutenção. A conservação. Estou cansado. Saturado. Desidentificado. O colega para quem estava a desabafar ouviu sem interromper. No final do desabafo, este lembrou-o de que ele não tinha que se identificar com o bispo, os colegas ou a Igreja, mas sim com Cristo. Com Cristo é que tens de te identificar, disse. Os olhos levantaram-se para o escutar com o olhar, e a pedir que repetisse. Com Cristo é que tens de te identificar.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Rezar na verdade da dor"
5 comentários:
Muito tenso, essa situação pra ser bem real, o que as igrejas prédios viraram empresas e nada se alteia ao próximo. Poucos com o sr preocupa com individuo que traje em necessidades. Situação dolorosa que Deus lhe monstre un rumo à seguir
Boa tarde Senhor Padre,
Não deve ser nada fácil ser padre nos tempos que correm. Nota-se que que a Igreja está parada no tempo e não há inovação, que a Pandemia em nada veio ajudar. E é natural que o cansaço se instale.
Resta a esperança da identificação com Cristo para prosseguir o caminho com mais alento.
Ailime
Infelizmente sinto o mesmo neste momento, e pergunto-me muita vez aonde vamos parar!!Igreja tem pedras vivas no templo do Senhor a servir interesses próprios, não da missão de Cristo não do anuncio do acolhimento do estar com!!. Vejo os momentos de Jesus quando andava junto do seu povo, e ... estamos a reviver esse tempo, de nada interessa. Como catequista ninguém quer saber delas, cuitadinhas são uns seres que nada têm que fazer!!!até os próprios catequizandos, não querem saber de nada.. os sacerdotes têm uma missão muito difícil, com este povo tão sem a fonte de Jesus. Ainda querem ir ao supermercado dos sacramentos, mas vamos ver até quando!. temos neste momento as New Age que estão a tomar terreno, e os seres humanos sentem-se bem, sim porque não têm que ver estas lutas de interesses dentro da Igreja, em que o Amor , o carinho, o acolher aonde existe...Deus tenha compaixão de nós pobres pecadores. Ainda me dizem que na televisão e nas redes sociais é melhor acolher a palavra de Deus, e assim vai continuando.. Se têm sede vão beber à fonte a agua viva, ou ficam com sede ( TV, internet e basta), morrem .. Padre bem haja por todos estes momentos, de desanimo que também são os desânimos das suas ovelhas.
Depreendo do seu sentimento em relação á Igreja que este surge por o Sr. Padre estar tão bem identificado com Deus, eu não estou muito esperançado com o futuro das mesmas nos moldes em que atuam neste momento, infelizmente. Haveria que fazer uma mudança de fundo no modo como se vivee transmite a fé, a começar pela catequese que deveria ser de adultos, as festas religiosas não lhes dou duas gerações para ficarem completamente obsoletas, enfim são tempos difíceis os que vivemos.
Se identificar com Cristo, era tudo o que eu precisava escutar hoje. Essas ideologias de direita que estão entrando na igreja as vezes me deixa triste, mas não é com isso que eu devo ser obrigada a me identificar, mas com Cristo.
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