quinta-feira, maio 28, 2020

Agora só vão as beatas

Como referia Rino Fisichella há uns dias, a fé precisa dos sentidos. O homem é feito para o relacionamento e isto é ainda mais verdadeiro para a dimensão da fé cristã. Obviamente que vivemos uma época adversa a esta realidade e somos obrigados a viver confinados e a guardar distâncias. Contudo, a distância não pode ser o futuro da existência pessoal ou da fé. 
Falo destas coisas porque ouvi dois paroquianos que me fizeram pensar. Falaram comigo em horas e contextos diferentes e disseram-me quase o mesmo, também de maneira diferente, perante o retomar previsto das celebrações comunitárias. O primeiro, homem, com alguma formação, humana e cristã, depois de ter lido as muitas orientações e regras a cuidar, disse que era melhor ficar em casa e assistir à missa da televisão. O segundo paroquiano era uma mulher, talvez com menos formação, mas pessoa de missa dominical. Em amena cavaqueira foi dizendo que agora quem ia à missa eram só as beatas. E que ela não ia, pois preferia ver a missa em casa. 
Claro que entendo a reação própria do receio. Eu também tenho os meus receios. Mas ouvir estas coisas ditas com tanta naturalidade e facilidade, só veio reforçar a ideia que tenho vindo a ter de que tanta multiplicação de missas nos meios de comunicação social e virtual pode ter confundido as pessoas. Numa sociedade que já privilegiava, por si mesma, o individualismo, pode ter-se reforçado a ideia de que a nossa fé pode ser uma coisa privada, sem comunidade, uma vivência privada, sem relacção.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "As missas ou missinhas"

7 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Sr. Padre,
Há-de concordar que neste início das celebrações não vai ser fácil tomar a decisão de ir presencialmente às Eucaristias. Marcação de lugares, desinfeções, entra-se por um lado sai-se por outro, não há o abraço da paz, não se pode ajoelhar, orientadores, máscaras com excepção da comunhão, etc.
No meu caso que já tenho alguma idade, estou com algum receio.
Penso que era preferível ter-se aguardado mais algum tempo, para então as coisas serem mais naturais e fiéis.
Mas pode acreditar que não é fácil digerir este assunto.
Ando muito indecisa.
Bom descanso.
Ailime

Anónimo disse...

Subscrevo plenamente o que escreveu...

Anónimo disse...

As pessoas estão com receios, mas também se habituaram a "assistir" à missa. Concordo consigo, padre!

Anónimo disse...

No meu caso pessoal, a decisão de não ir à Missa não decorre nem de ter-me habituado às celebrações online nem de querer viver a minha fé de forma individual. Concordo totalmente que a fé precisa dos sentidos e do relacionamento. A seguir à Missa de domingo do dia 8 de Março, tomei logo a decisão de não voltar até a pandemia estar sob controlo. As notícias já eram alarmantes e eu moro com uma pessoa de grupo de risco (a minha mãe, desde o falecimento do meu pai). Era um problema de consciência, ir à Missa ou proteger quem amo muito. Felizmente não tive este dilema muito tempo, porque poucos dias depois as Missas foram suspensas. Ainda nessa semana, passei a fazer a pé trajetos que dantes fazia de transportes públicos e comecei a usar máscara nas idas ao supermercado. A DGS na altura desaconselhava, as pessoas ainda olhavam de lado, mas para mim era uma questão de bom senso tendo em conta a necessidade de proteção da mãe.
Agora as Missas são retomadas, mas a minha situação pessoal mantém-se e continuarei sem ir. Ainda por cima estou em Lisboa, onde a evolução da pandemia está a ser preocupante. Tenho muita pena e sinto mesmo muita, muita falta. No entanto, estranhamente, dou por mim com uma enorme alegria no coração por as cerimónias na casa do Pai serem retomadas, apesar de não ir participar. Será a isto que se chama a Comunhão dos Santos?

Confessionário disse...

30 maio, 2020 09:40,
se calhar.
mas de certeza que é comunhão!
A Igreja continua no nosso coração.
As celebrações são imprescindíveis, mas a nossa fé não se reduz a elas!
Força

Anónimo disse...

Uhmmm, uhmmm, é bem verdade...infelizmente, mas se Deus quiser aos poucos vamos voltando, temos que ser persistentes e não desanimar.
Vamos tentar seguir o seu exemplo, e pensar bem naquilo que vamos vendo e ouvindo, e fazer a nossa parte, que é dar o exemplo...
Bj

Anónimo disse...

Meu Caro Padre

Na minha opinião é de ir. Receio que não tenhamos outra oportunidade para assistir à missa com padre e assembleia alcoolizados...

PS - Sugiro alcoolímetro à saída, pela saúde de todos, principalmente das beatas.