quinta-feira, junho 28, 2018

Atestado de imunidade

Ligou-me um amigo, intrigado, porque uma vizinha lhe tinha ido perguntar o que era e onde se pedia um atestado de imunidade, pois o pároco onde vai baptizar o netinho pedira um atestado de imunidade do futuro padrinho da criança. Tinha recorrido a este vizinho porque ele era mais entendido nestas coisas. Mas pelos vistos não. O meu amigo não sabia nem imaginava o que era este atestado. Por isso, e pela confiança que nos une, ligara com a mesma pergunta: o que é e onde se pede um atestado de imunidade para ser padrinho. 
A princípio também eu fiquei intrigado com o telefonema e a pergunta. Para que quereria o padre um documento que atestasse a imunidade do padrinho? E a que imunidade se referia? Imune à fé? Imune à Igreja? Imune ao padre? Porém, foi apenas uma questão de segundo e meio para perceber que não se tratava de um atestado de imunidade, mas de um atestado de idoneidade. Afinal o que o meu colega pedira não era senão um atestado de idoneidade que provasse que este padrinho possuía os requisitos necessários que garantissem que seria um padrinho idóneo. 
E por causa do atestado de imunidade, o resto da conversa ao telefone foi um fartote de rir.

12 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Sr. Padre.
Não é caso para menos;)) - o riso.
O nosso português é muito traiçoeiro.
Ailime

Paulina Ramos disse...

Uma história hilariante mas que reflecte uma realidade bem mais preocupante.

No final da missa o padre pergunta: porque é que João Baptista foi morto?
Uma das meninas do 2o ano de Catequese responde em alta voz, "porque falava muito, como eu?!
O padre engoliu um sorriso, e após uma pausa disse,"sim é verdade ele falava muito, mas era de Jesus"
A miúda suspira sem se acanhar e o padre lá faz o remate final com uma certa graciosidade.
Resultou este episódio na igreja inteira a rir, mas a verdade é que mais ninguém abriu a boca para responder quando o padre fez a pergunta.

JS disse...

Ai a papelada e a burocracia na Igreja!...
Sim, é uma garantia de lisura e de verdade de processos; sim, é uma enorme riqueza histórica; sim, é uma forma de ajudar ao sustento económico de paróquias e dioceses; sim, é um bom pretexto para a pastoral: o encontro com o pároco, o reconhecimento da pertença eclesial, o acolhimento de uma proposta de formação...
Mas...

Confessionário disse...

que farias tu, JS?

Anónimo disse...

Kkkkkkk.....

C.c

Anónimo disse...

boa kkkkkkkkkkkkkk ahahah

JS disse...

O que eu faria?

Se fosse a pessoa "por detrás do balcão": resistir permanentemente à funcionalite. O "core" da Igreja são as pessoas, não os formulários. É inaceitável que à pergunta "O que é preciso para se ser padrinho de Baptismo" se responda "Um papel". Há uma história por detrás de cada pedido, e que merece ser ouvida. Evite-se as recriminações e censuras, por vezes verdadeiros actos de humilhação: na maior parte das vezes, as pessoas têm consciência de que estão mal informadas, de que foram descuidadas, de que deixaram o assunto para a última hora; a vida das pessoas não é fácil. Seja-se claro nas informações a passar e no apontar das diferentes possibilidades: as pessoas não precisam de quem os deixe numa situação ainda mais confusa ou aflitiva. Tente-se homogeneizar critérios: a disparidade e sobretudo a contradição são um grande contra-testemunho (como se tem visto por alguns comentários neste blogue. Todavia, é de lembrar que rigor e flexibilidade não são opostos ou incompatíveis). Acompanhe-se a pessoa na sua demanda: não é cristão dizer a alguém "esse problema não é comigo" e correr com a pessoa para fora do escritório. Às vezes, fornecer o número do colega certo a contactar ou enviar um email a solicitar a atenção de outro cartório paroquial poupa grandes trabalhos. Seja-se transparente com a questão das taxas e taxinhas: as pessoas reagem muito mal a sinais de avareza e de aproveitamento.

JS disse...

Se eu fosse a pessoa atrás do papel: tratar de se informar é o primeiro passo, de preferência junto de alguém competente. Às vezes basta um contacto telefónico, ou um email para a paróquia, ou através das redes sociais. Pode-se pedir esse favor a alguém da família ou vizinhança que seja presença regular na comunidade; por vezes basta ler com atenção o que vem escrito no boletim paroquial ou na folha dominical. Se a pessoa não sabe de que documento precisa e onde pode obtê-lo, o mais certo é acabar por "andar aos papéis", perdendo tempo e ganhando em nervosismo. Procurar ser minimamente respeitoso e paciente: o padre ou a secretária estão ao teu serviço, mas não merecem a tua arrogância. Às vezes, as coisas podem ser bem mais complicadas de dar andamento do que parece. Não és a única pessoa no mundo a precisar de resolver uma situação, e a missão do padre é bem mais do que preencher e carimbar papéis. Tentar adequar-se aos horários e locais normalmente definidos em cada paróquia para o atendimento: querer que o padre atenda o teu telefonema às sete da manhã numa segunda-feira, ou exigir que ele te ouça no fim de uma missa quando ele tem meia hora para fazer 30 km em estrada de montanha para chegar a outra paróquia pode ser ofensivo. Ter consciência de que existem exigências e condições relacionadas com a documentação que se deseja: tem de haver um mínimo de seriedade e de congruência de vida cristã; podes tentar fazer batota, furar as regras e levar a tua adiante, mas a desonestidade deixará as suas marcas. Conseguir aceitar que pode haver diferenças de interpretação das normas entre padres e entre paróquias: às vezes escandaliza, às vezes é uma valente chatice; mas a realidade não é monolítica.

JS disse...

Os "atestados de imunidade" são um caso à parte, pelos problemas de consciência que colocam. De facto, como pode um padre atestar, de forma íntegra e honesta, o carácter e a moral de alguém que se propõe para padrinho e que muitas vezes não conhece de lado nenhum, porque a pessoa não participa regularmente na vida da comunidade? Deverá o padre negar a atestação (e passar a indeferir 80% dos pedidos que lhe chegam, com a inevitável guerra que se irá gerar)? Ou cair no outro extremo, passando a assinar de cruz e aceitando tudo o que mexe (menos cães e gatos que ainda não tenham sido baptizados)? Também já se vai vendo por aí um tipo de formulário em que é o próprio candidato que dá a palavra de honra de que cumpre os requisitos previstos, com o pároco apenas a assinar por baixo, fazendo fé. Noutros meios, defende-se simplesmente que esse ministério seja extinguido. Complicado...

Confessionário disse...

mais uma vez me deixas a pensar, JS. Ainda bem que vens, de vez em quando, abrir minha mente e meu coração.
Eu bem tento algumas das coisas que apontas, mas tb reconheço que algumas vezes não. E olha que essa ideia do formulário não é má de todo. Eu geralmente pergunto a alguém o que diz da pessoa em causa. Mas tb é verdade que a maior parte das vezes o idóneo se reduz a não ter nenhum impedimento legal. Ora ora...

JS disse...

O tal formulário (o que me mostraram tem pequenas variações):
http://www.carloscunha.net/pastoralsacramental/idoneidade.pdf

Confessionário disse...

falta-lhe ali algumas coisas...
Bem haja