sexta-feira, julho 10, 2015

Pastoral de gestação

Entrámos em diálogo por causa de um baptizado que pediu. Expliquei as minhas condições, como se fossem as melhores. Informei que não eram minhas e que as cumpria porque as assumia. Ela não queria saber delas. Queria baptizar o menino porque a avó insistia. Não tinha fé, notava-se, mas não o dizia. Era um diálogo de quem pedia e de quem mandava. Ela e eu. Acolhi-a simpaticamente. Acabou por aceitar. Mas não saiu dali com mais do que um aceitar condições para obter a aprovação. Não foi fé. Não se abriu à fé. Não fizemos nada senão cumprir uma formalidade. Não fui pastor. Não dialoguei de igual para igual. Não a vi na sua condição. Não fiz proselitismo, mas também não a atendi na sua verdadeira necessidade. O nosso diálogo de pastores tem de ser isso mesmo, mais pastoral. Não pode ser um diálogo dialético. E não se trata de conceder ou ceder ou ser simplesmente light. Eu não seria capaz de, nestas coisas, ser ligth. Também não deveria ser uma imposição. Deveria ser acima de tudo uma proposta. Deveria ser uma proposta a partir do sítio onde a pessoa está. Talvez um dia consiga!

14 comentários:

Luís Ramos disse...

O batismo é porta da fé. O Senhor toca de muitas maneiras e formas. É deixar que Deus de alguma maneira sem forçar pode atrair e estabelecer um encontro pessoal com a pessoa que se diz não crente. Não é o Papa Francisco que diz que não se deve negar um batismo de uma criança mesmo que seja filha de pais separados ou mãe solteira? Acho que o caso é diferente. Mas quem diz que essa criança não seja educada na fé católica e depois atraia a mãe? Não estou a dizer que não tem razão, ou que não deve propor condições para realizar o batismo. Há que esclarecer quem não crê em Deus o que envolve o batismo. O compromisso que se assume perante Deus e a Igreja que acolhe a criança. A fé muitas vezes precisa de ser explicada de forma simples e clara para ser entendida por alguêm que por alguma razão não cresceu ou foi educada na fé.

Emmanuel disse...

Quem faz o que pode a mais não é obrigado.

Agora a sério: está tudo nas mãos de Deus. Mesmo aqueles que se estão nas tintas. Nós e os outros.

Anónimo disse...

Acolhe o melhor que puderes Pe. acredito que de alguma forma essa mãe se sentirá tocada, mesmo que de forma efémera esse toque valerá sempre a pena

Anónimo disse...

O tipo de acolhimento pastoral que propõe é interessante. Mas não deve resultar. Eu acho que as pessoas não estão interessadas. É o que penso

Ana Melo disse...

Sou madrinha de 5 afilhados, não percebi eu, e eles também não, do significado do ato. As pequenas festas, fazem-nos pelos menos fazer pertença, é giro é caro. Hoje tenho 47 anos, os meus afilhados estão todos “casadoiros”, vão casando, de uma destes 5 afilhados, já nasceu uma filhota. Não sei! do nosso! poder de mudar o mundo!, isto é um processo tão rápido, tão natural, o tempo passa num instante, o Criador fez isto para correr tudo bem, para todos usufruirmos.

Graças a Deus existe muita gente que nunca se pergunta, perguntou ou perguntará, pelo sentido da vida.

Há excepções, os sobressaltos existem, fazem-nos ligar o interruptor, voltar ao chão, nascer de novo, ouvir contar, olhar para o lado.

Olhe! Padre ! ACOLHER, e que o Espirito Santo, esteja consigo, muito, nesses momentos, que uma ou duas palavras sábias lhe saiam durante o processo, e que aquele momento da cerimónia, que nos lembra a partilha, que Deus sonha para nós, seja com a vagareza necessária, reflectido pelo maior número de pessoas possível.

Para os que já estão a caminho, que deixem que se veja a alegria, ( luz, sal, fermento/bem aventuranças), de caminhar nos caminhos mostrados por Jesus Cristo.

Anónimo disse...

Bom dia!
À cerca de 13 anos pedi à igreja católica o baptismo para o meu filho.
Fi-lo, em grande parte pelo factor social.
Casada no civil não pensava em fazê-lo na igreja católica e muito menos no mesmo dia em que baptizei o meu filho.
Uma boa parte dos padres que conheço são cínicos, promiscuos, nada humildes petulantes e convencidos que só se salva quem acata, sem discordar as suas "inquestionáveis e santas" indicações.

Mas há sempre as excepções, e este padre que ministrou o sacramento do casamento e do batismo, que segundo as boas senhoras lá do sitio, até teve um caso amoroso com uma jovem catequista, do qual terá nascido um filho, a quem ele chama de sobrinho e que foi educado no estrangeiro, olhou-me nos olhos com aquele olhar que toca no coração, um olhar profundo apelativo.
Foi aquele olhar que me sugeriu receber uma benção sobre a minha união com o marido e pai da criança.
Assenti, não sei muito bem porquê, mas acho que foi pela ternura com que me olhou e pelo facto de não me impor nada, apenas fez com que eu me interrogasse e aqui encaixa muito bem a tua expressão "pastoral da gestação" que foi o que aquele padre que havia sido afastado de uma outra paróquia por alegadas molestações a crianças que nunca foram provadas, "semeou em mim ".
Acolhe, como já atrás foi dito, acolhe com o coração, olha profundamente com esse olhar de Cristo e toca nas mãos se assim o sentires.
Não tenhas pressa de tratar das formalidades ainda que tenhas um compromisso quase em cima do acontecimento e tenhas realmente pressa não o demonstres, Olha ternamente, acolhe com bondade, fala com gentileza e humildade, não julgues... o milagre há-de acontecer.
Se o teu olhar conseguir penetrar o olhar do outro terás plantado a semente, terás transformado o outro no gestante da Palavra.

Mas compreendo que há sempre aqueles que te pedirão o sacramento e nunca se transformarão em gestantes da palavra, e não será pro isso que serão menos amados ou julgados por Deus.
O jovem príncipe na sua inocência, perguntou um dia ao mestre o que é Deus, e como posso vê-lo? O mestre um pouco aturdido respondeu-lhe Deus é a génese de tudo o que existe.
O Jovem Príncipe concluiu, ninguém foge de Deus todos estão n'Ele e Ele está em tudo, no bom e no mau, logo Deus não julga, não condena nem absolve.
A decisão dá-se dentro de cada um.

Todos estão salvos por natureza, pela génese que possuem à priori, não é a igreja muito menos a católica romana, que dita quem será salvo...

E apenas a minha opinião, não pretendo julgar ou impor o que quer que seja, peço desculpa se magoei alguém com as minhas afirmações.

Gosto muito quando abordas estes temas.







Paula disse...

A mim não me queriam baptizar por os meus pais não serem casados pela igreja.
A minha avó bateu a todas as portas até encontrar uma onde me aceitaram.

Foi há mais de 40 anos, mas o mundo não mudou assim tanto.

vidademulheraos40.blogspot.com.

Anónimo disse...

Lamento concordar, mas não foi pastor. Mas também lhe digo que são raros os pastores, pois todos se limitam a despejar conceitos, palavras feitas e direitos canónicos. Como ser igreja não passasse de aceitar meros formalismos... Fui baptizada e perdi a fé, em Deus e principalmente na Igreja. Não consigo deixar de recordar as palavras duras que li do meu padrinho de baptismo quando lhe disse que tinha perdido a fé, foi a pessoa mais estúpida que já conheci, dizer que, se perdi a fé não havia mais nada a falar entre nós, pois o que nos unia eu tinha perdido, desde dizer que eu como pagã que era agora não tinha direito de falar sobre igreja (isto quando tentava expor o que me chateava) e muito mais que nem vale a pena. E eu que escolhi um padre como padrinho, pensado que estava a escolher alguém que me iria acompanhar na fé… Hoje quando penso nisto fica apenas um LOL

Bruno disse...

À anónima das 18:17 (16 de julho),
e no entanto, apesar de dizer que perdeu a fé em Deus e na igreja, aqui está, a seguir o blog de um padre. Posso estar completamente errado, mas não me parece que tenha perdido a fé, que tenha deixado de acreditar em Deus, talvez seja apenas uma questão de não O sentir no mundo. Daquilo que depreendo do seu comentário (por ter escolhido o padrinho de Batismo), é catecúmena. Se assim é, a procura pelo Batismo... a procura por Deus, partiu de si. Deus ajudou-a a iniciar essa caminhada para o Batismo, esteve ao seu lado enquanto a percorria (se seguiu até ao fim, é porque algo lhe dizia que fazia sentido continuar, porque se identificou com o que lhe era apresentado). Tenho quase a certeza que Ele ainda se encontra ao seu lado neste momento, independentemente do que o seu padrinho lhe disse, porque como em todos os setores, há padres bons e padres maus.
Não feche o seu coração. Quando menos esperar Deus volta a "ficar com o dedo preso na campainha da porta" (apenas um desabafo pessoal, depois de ler o seu comentário, apetece-me mais lamentar pela insensibilidade desse padre, do que rir).

Que Deus a acompanhe, afinal que Pai é que não se preocupa com uma filha?

Anónimo disse...

Bruno, tens razão quando dizes que não perdi a fé, a verdade é que não sinto Deus em lado nenhum.
Fiz o catemunato em 5 meses. Na altura aceitei. Se me dissessem que tinha que fazer o pino antes de entrar na Igreja, eu fazia também, porque não percebia nada de nada.Hoje arrependo-me de ter aceite fazer em 5 meses, algo que deveria ser feito em 3 anos.
Quem sabe um dia o coração se torne a abrir, agora está fechado. É verdade que senti através das tuas palavras que se calhar Deus chama-me,e tem o dedo na campainha e estou surda e cega. Gostei das tuas palavras, fizeram-me reflectir e vou continuar a pensar nelas. Obrigado

Bruno disse...

Pensei muito se devia enviar novo comentário, correndo o risco de parecer que "eu é que sei". Não é essa a minha intenção.
Acabei por estes dias de ler um livro chamado "Paciência com Deus" em que o autor fala muito dessa fé em que "não se sente Deus". Por vezes não é fácil conseguirmos "viver" Deus, quando muitas coisas parecem correr-nos mal, quando os exemplos que vemos à nossa volta só parecem afastar-nos dEle (aqui posso dizer que sei o que isso é, porque já passei por lá várias vezes). Mas ao mesmo tempo, nesses momentos comecei a ver Deus num amigo que me dava uma palavra de conforto, numa boa notícia que recebia... e que se tornava ainda melhor por eu estar "em baixo", em coisas quase que posso dizer... insignificantes. Mas via-O. Talvez não esteja cega ou surda, isso implica bloqueio sensorial :), talvez apenas "distraída". Talvez só consigamos mesmo chegar a Deus através da paciência (como o grão de mostarda, que além da fé que se vai tornar numa planta, tem de esperar muito até isso acontecer) e continuamos a vê-lo como alguém que "se existe, vai-me fazer isto". Já passei por momentos muito maus, em que Deus estava completamente "ausente". No entanto, ao fim de algum tempo percebi que Ele estava ainda mais presente, a tentar ensinar-me algo importante para a minha vida. E isso, foi algo que me habituei a fazer nos últimos tempos. Não estou a dizer que gosto de sofrer, tento é encarar esse sofrimento (e não só) numa perspetiva de aprendizagem.
Desejo-lhe um caminho produtivo (seja longo ou curto, rápido ou lento... caminhe). E que estas palavras, mesmo que não tenham ajudado mais, pelo menos que não tenham tido o efeito oposto das anteriores. Não sendo Franciscano, mas como diria S. Francisco de Assis: Paz e Bem

JS disse...

O post trouxe-me à memória o livro "Uma nova oportunidade para o Evangelho", de vários autores, entre os quais o Theobald. Provavelmente, o Confessionário também andou (ou anda) a lê-lo. Parece impossível que esta colectânea já tenha 11 anos...

O caso relatado lembra que faz falta estudar celebrações alternativas/intermédias ao baptizado. Já cheguei a falar disto num comentário a um post anterior. Não tem por que ser o tudo ou nada. Talvez se pudesse aproveitar o esquema de cerimónias subsequentes ao baptizado que é possível realizar, como a apresentação solene à comunidade (quando o baptizado é celebrado de forma "privada") ou como a recepção feita às crianças que são adoptadas. Seria uma espécie de etapa catecumenal.

Isto fará ainda mais sentido se ligado a uma proposição do adiamento do baptismo, para a chamada idade escolar ou mesmo para a idade adulta. Uma proposta que tem de ser liberta da sua carga negativa (do "chuta para a frente") mostrando que se trata de uma opção prevista na pastoral da comunidade, devidamente planificada, seguida por outras famílias e com resultados constatáveis.

Por outro lado, é preciso pensar em percursos de fé a propor a esses pais que surgem com o pedido do baptizado. As chamadas "reuniões de preparação" normalmente não estão pensadas para isso: são mais um relembrar/reforçar de alguns conteúdos de fé, e de alguns regulamentos da Igreja. Faria falta algo como os Cursos Alpha. Ou aquilo que estava na origem dos Kikos. Uma óptima iniciativa é o projecto de Catequese Familiar que está em curso em várias paróquias; mas só apanha os pais mais lá à frente...

Por fim, acho que também valia a pena, na pastoral do Baptismo, prestar mais atenção à figura e ao papel dos avós. Quantas e quantas vezes o pedido do baptizado surge através deles, através da fé deles. Quantas e quantas vezes serão eles o verdadeiro garante da fé da criança, assumindo a responsabilidade da sua educação cristã. Mas como o ritual não prevê a sua intervenção, são quase sempre ignorados. Ou vistos como alguém que está a interferir, a meter-se onde não é chamado, porque o assunto diz respeito é aos pais da criança. Ou se desvaloriza a sua preocupação, por cheirar a crendices antigas e a uma fé pouco esclarecida. Bastas vezes (como se não chegasse a sua auto-culpabilização) parece que os fazem os principais culpados dessa falha geracional na transmissão da fé relativamente a seus filhos; o que os desqualificaria imediatamente na hora de quererem responsabilizar-se pela fé dos netos. Aqui faz falta uma urgente reflexão.

JS disse...

À anónima das 18:17 (16 de julho)

Relativamente à reacção do seu padrinho de Baptismo:

- é preciso lembrar sempre que as pessoas religiosas são capazes de uma enorme crueldade (abstenho-me de explicar...);

- não menosprezes a intensidade dos sentimentos de desilusão, traição e vergonha que, certamente, o teu padrinho experimentou quando lhe deste a notícia. Mesmo que aches não ser caso para isso; ou que outros sentimentos pudessem falar mais alto naquela hora...

Abraço.

Anónimo disse...

JS, vou ficar-me apenas pela crueldade, não acredito na existência de qualquer tipo de sentimento naquela pessoa.
Abraço