O padre Manuel contou-nos, em partilha, a primeira resposta que deu ao chamamento de Deus. Vivia numa aldeia, guardava vacas, tinha pouca instrução, tinha a noção de Deus que era possível e que a família lhe incutia. A mãe sobretudo. Iam à missa dominical. Pouco mais. Eram vários irmãos. O mais velho era também o mais esperto. No final da missa era costuma ir à sacristia saudar o senhor prior. Numa dessas saudações, o senhor prior voltou-se para o mais velho e disse. Olha que tu é que havias de ir para padre. O irmão mais velho e mais inteligente abanou a cabeça em tom de negação, fechou os olhos por detrás dos óculos e respondeu que não. E nisto o Manuel que ainda não era o padre Manuel, nos seus seis anos, interrompeu para dizer que se não ia o irmão iria ele. E foi, contava a sorrir. Não sabia como, mas foi. E se aquele padre, porventura, nunca tivesse feito aquela proposta, isso não teria acontecido.
Acho que nós, padres, nos dias que correm, temos esquecido de fazer essa proposta. Tampouco me parece que sejamos uma proposta.
7 comentários:
"Tampouco me parece que sejamos uma proposta."
O problema é esse, a vulgarização da "profissão" que deveria ser antes demais uma vocação.
Atualmente, devido aos "escândalos" que felizmente têm vindo a público, e muitos outros que nunca chegam a ser conhecidos, até os que se sentem chamados têm vergonha e falta de coragem para seguir em frente.
Falo com base em situações muito concretas, falo pelo meu filho, falo por alguns jovens que acompanhei.
O que revolta é mesmo a promiscuidade, conhecida e não conhecida, que se vive no seio da vida consagrada, sendo que os infratores viram vitimas.
ser padre não é para quem quer mas a quem deus chama,é viver para os outros e não para si...deus nos dê muitos e santos pastores ,há muito a fazer pelos cristãos que andam desmotivados.quem a deus tem nada lhe falta.
É preciso vigiar e estar atento. Ás vezes uma palavra, um gesto, uma atenção pode funcionar como a voz de Deus que age e chama a uma vocação sacerdotal. Não há que ter receio ou medo de falar, propor. Há muitos jovens que só precisam de um pequeno empurrão. Deus faz o resto.
Eu sou mulher e como tal a possibilidade de ser Padre é-me vedada pela Igreja, a Igreja de Jesus Cristo (às vezes pergunto-me se será), Aquele que tanto amou as mulheres que até escolheu uma para ser a primeira testemunha da sua ressurreição.
Contudo, creio que a beleza da vida sacerdotal também tem um lado humano e emocional muito dificil e solitário, parece-me que os seminários são terrenos áridos em relações humanas, a parte emocional e social não é valorizada, e depois os padres vão paras as paróquias e a vida é-lhes dificil, é dificil muitas vezes não ter quem apoie, com quem partilhar.
Apesar do meu grande amor a Jesus Cristo, se o meu filho escolher esse caminho, juntamente com a alegria da sua escolha sentirei uma grande preocupação pois acredito que é uma vida solitária, carente de afectos.
Cada um de nós tem a sua vocação. E Deus vive connosco essa vocação, qualquer que ela seja.
Partilho convosco um excerto da homilia do P.Tolentino Mendonça nos 25 anos da sua ordenação, a qual está disponível na página da Capela do Rato: «Eu agradeço a Deus este ministério para o qual Ele me chamou. A vocação de cada um de nós é a forma que cada um tem de expressar o seu maior amor. E a mim, o Senhor chamou-me para desta forma expressar e viver o meu maior amor, com aquilo que viver o amor significa, de paixão, de encantamento, de sofrimento, de dor e delícia. É assim que o Senhor me chamou. E o Senhor continua fiel a cada um de nós, Ele chama cada um de nós, porque a Igreja não vive de um ministério só, senão ela é muito pobre. A Igreja vive na diversidade, na riqueza, na complementaridade dos ministérios.»
E não posso concordar que um Padre tenha uma vida carente de afectos, solitária.
Pode ter uma vida muito feliz. Como qualquer um de nós.
Ser padre é ter responsabilidade, devoção, amor e sabedoria. Acima de todas estás palavras a última vem ser a mais válida. "SABEDORIA'' porque sem ela um padre nunca poderá guiar teus paracos. Um padre tem que ter força e braço firme para trazer suas ovelhas. Reparar em tudo e todos, dá ouvidos ao sofrimento alheio, levar sua mão ao seu irmão caído. Um padre é como um pai. E as freiras como sua mãe. A vida do padre é solitária. Longe da sua família em muitos casos, devido aos seus serviços de grande devoção. Para ser um padre é necessário renegar os prazeres da carne. E este é o mais dificil. Porque todo humano é feito de sangue quente, isso sempre atormentará um padre. Sim. Meus amigos. Ele também é um homem. Então respeite teu padre, não insinue e nem o provoque. Mas não o trate como uma estatueta no altar. Eu tenho amigos padres e sempre quando posso apareço nas missas. Sempre mantenho respeito, mas quando vejo um deles pertubado ou irritado faço questão de ir falar.Tenho um amigo em especial. Pe Francisco Bosco, ele tem 37 anos e é uma pessoa adoravél, mas houve um dia que ele não estava bem. Seu rosto trincado numa angústia. Reparei nisto, ao acabar a missa ele recolheu-se rapidamente para sacristia. Fiquei preocupada, ele sempre foi muito risonho, mas naquele dia não estava. Eu dei uma de intrometida e o segui até o seu local. Bati na porta. Pe Francisco não queria abrir. Bati novamente e disse quem era. Ele veio, atendeu a porta. Pe Francisco tinha lágrimas nos olhos. Na mesma hora perguntei o que havia acontecido. Ele disse que recebeu uma ligação da sua irmã dizendo que sua mãe veio a falecer naquela madrugada. Pe Francisco não consegui ir ver a mãe pela distância e a noticia ter sido dada depois. Eu então o abracei apertado e o consolei. Peguei uma água com açucar pe Francisco a tomou. Lembro de ficar um bom tempo conversando com ele. Depois disso nossa amizade se firmou mais ainda. Mesmo com quase 25 anos de diferença nas nossas idades somos grandes amigos. Amém
Abel, Isaac, Jacob, José, Moisés, David e… o Padre Manel! Está mais do que provado que o Senhor prefere os mais novos e quase provado que lhes reserva grandes destinos, mesmo quando não são os mais espertos e inteligentes. Mas se o Manel, que ainda não era o Padre Manel, nos seus seis aninhos, não guardasse vacas, não tivesse pouca instrução (aos seis já devia ter concluído o doutoramento lá na aldeia) e não se sentisse menos do que o seu irmão mais velho, provavelmente isso não teria acontecido. Curiosos são os desígnios do Senhor.
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