Há muito que não vejo a senhora dos cães. Mais de trinta em sua casa. Sempre perfumada. Arranjada. Pintada. Apesar de tudo, queria parecer uma senhora. Todos os dias frequentava o chá do café com amigas mais ou menos influentes. O marido era professor. Estivera na guerra das antigas colónias portuguesas. Contavam que uma bala o atingira em zona que agora o deixava desprotegido em questões fisiológicas, as mais simples, como reter águas. Nem devia contar estas coisas. Diziam que os alunos se afastavam dele, a não ser quando pretendiam nota mais alta. A vida sorrira muitos anos antes para esta gente. A casa herdada era enorme. Contavam que havia muito dinheiro, ou não fosse o tratamento veterinário no Porto para todos os cães que pernoitavam em casa. Ou para os alimentar.
E hoje, ao rezar este advento, lembrei-me deste casal, e da casa que lhes ardeu, com os animais, com as mobílias, com a mãe da senhora. Foi o caos por lá. Por cá. Não se falou noutra coisa durante tempos. A minha oração partiu deles. É que me lembrei da esperança, e da forma como esta mulher a perdeu. O marido nem sei. Contaram que moravam longe. As amigas tinham-na abandonado. Os amigos influentes, os colegas, a casa, os bens, o dinheiro. Tudo ficara para trás nas suas vidas. Não sei deles. A última notícia que tive não dizia mais do que: andavam meios perdidos. A minha oração de hoje pergunta onde habitualmente depositamos a nossa esperança? No dinheiro, nos nossos bens, nas nossas capacidades, nos nossos amigos, mais ou menos influentes. Tudo coisas que podem deixar de ser. Efémeras. Finitas. Por isso o nosso mundo perdeu a esperança, escondida por detrás de nuvens que criamos e que escondem o sol. Porquê?! Porque não havemos de descobrir a esperança no presépio, com a Vida Daquele que mudou a vida e a morte, Aquele que faz sentir que a vida tem sentido, mesmo quando tudo parece perdido, porque o que nunca perdemos é o Seu Amor e a certeza de quem um dia, quando tudo acabar, começará de novo?
E hoje, ao rezar este advento, lembrei-me deste casal, e da casa que lhes ardeu, com os animais, com as mobílias, com a mãe da senhora. Foi o caos por lá. Por cá. Não se falou noutra coisa durante tempos. A minha oração partiu deles. É que me lembrei da esperança, e da forma como esta mulher a perdeu. O marido nem sei. Contaram que moravam longe. As amigas tinham-na abandonado. Os amigos influentes, os colegas, a casa, os bens, o dinheiro. Tudo ficara para trás nas suas vidas. Não sei deles. A última notícia que tive não dizia mais do que: andavam meios perdidos. A minha oração de hoje pergunta onde habitualmente depositamos a nossa esperança? No dinheiro, nos nossos bens, nas nossas capacidades, nos nossos amigos, mais ou menos influentes. Tudo coisas que podem deixar de ser. Efémeras. Finitas. Por isso o nosso mundo perdeu a esperança, escondida por detrás de nuvens que criamos e que escondem o sol. Porquê?! Porque não havemos de descobrir a esperança no presépio, com a Vida Daquele que mudou a vida e a morte, Aquele que faz sentir que a vida tem sentido, mesmo quando tudo parece perdido, porque o que nunca perdemos é o Seu Amor e a certeza de quem um dia, quando tudo acabar, começará de novo?
9 comentários:
SABEDORIA
Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando
Deus quiser.
Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperara:
Às vezes, tanto que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco
Que ninguém mais se
conformara.
Hoje é que nada espero.
Para quê esperar?
Sei que já nada é meu senão o se o não tiver
Se quero, é só enquanto apenas quero
Só de longe, e secreto é que inda posso amar...
E venha a morte quando Deus quiser.
Mas com isto que têm as estrelas?
Continuam a brilhar altas e belas.
José Régio
Eu julgo que aqueles que são bem formados humanamente depositam a sua esperança num mundo mais justo e cor-de-rosa para o maior número possível de pessoas. Felizmente, conheço muitas pessoas que pensam assim.
A realidade é que os dias passam, e pouco mais fica do que muitas horas dedicadas ao trabalho, em prol deste bendito sistema político-económico fantástico que estabelece uma ditadura camuflada, em que muitos são explorados, outros tantos abandonados e uma minoria passeia-se alegremente.
Muitos de nós investimos na compra de coisas supérfluos numa tentativa consciente de colorir o dia. (A cosmética ajuda tanto! Gosto particularmente da marca Chanel; Yves Saint-Laurant e Lancôme - produtos óptimos, disfarçam olheias, olhos inchados, noites mal dormidas - após a aplicação somos outras, quase que temos vontade de sorrir ao ver-nos no espelho!)
A vida é muito mais dura para aqueles que me dizem "Amiga, dava-me tanto jeito acreditar em Deus!" Eu calo-me!
Teodora
Amigo!!
Está muito lindo!tocou-me...porque eu também já perdi tudo, ou quase...mas, de facto o Amor Dele esteve sempre comigo, e isso foi o mais importante,no meio da tempestade... é por isso que hoje em dia não ligo muito para certas coisas que são nossas e acabam por não ser...
Obrigado por este momento, embora tenha lembrado coisas tristes, mas a vida é assim mesmo, o importante é termos sempre Esperança, e muito Amor, para sobrevivermos às intempéries!!
Beijinhos!!
:))
Pois
" porque o que nunca perdemos é o Seu Amor e a certeza de quem um dia, quando tudo acabar, começará de novo? "
e fiquei a pensar, com um sorriso meio alucinado :)
obrigado.
esta muito lindo felliz naaatal e prooospero annno nooovooo..
Essa parece a história de Jó! Só que no fim, Jó estava muito mais rico e não só em bens materiais:
"Eu Te conhecia de ouvir falar, mas agora vi-Te com os meus próprios olhos."
É curioso como este post da esperança tem poucos comentários! Faz-me pensar... Onde está a esperança?!
Curioso... Na melhor das hipóteses, porque muitos ficamos a pensar. Na pior, porque afinal continuamos a colocar as *nossas esperanças* no efémero, finito e no mesmíssimo lugar dos nossos valores, convicções, fé. Preocupante...
Pôs-me a pensar! O que quero eu? Onde deposito a minha esperança? O que dá sentido à minha vida? Nada tenho programado, delineado, nem quero ter. Não sei o que me espera, nem quem me espera. Se todos os que me querem hoje, vão continuar a querer-me amanhã. Quero-me a mim, quero. Quero os que me acompanham, quero. Quero que cada dia venha na sua vez. Quero sentir-me tocada pelo sublime nos pequenos nadas. Quero mais sábados cheios de paz, de sol e de amizade. Domingos de mar e de brisa. Quero sentir o prazer que os outros têm em estar comigo e eu com eles. Quero sentir a paisagem a correr pelo vidro do carro. Quero sentir Deus comigo, mesmo que não tenha nada para me dar. E, quando tudo acabar, senão começar de novo, apenas não começou.
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