sábado, maio 31, 2025

A minha entrada na fé

Quando entrou na escola, apesar de ainda não estar baptizada, os pais decidiram inscrevê-la na catequese da paróquia. Quase todos os colegas estavam inscritos. Os pais haviam decidido proporcionar-lhe a mesma oportunidade. A mesma oportunidade dos colegas e a mesma oportunidade que eles haviam tido quando eram crianças. Como depressa começou a gostar de conhecer Jesus, pediu aos pais para se baptizar. Portanto, quando se baptizou já tinha vontade própria suficiente para querer dar esse passo. E baptizou-se. Tive a alegria de poder presidir a este sacramento e de falar com ela sobre ele. Terminada a cerimónia, convidei-a, caso quisesse, a partilhar umas palavras com os seus convidados e demais presentes. Entre a timidez e a coragem, subiu o degrau da coxia, voltou-se para a assembleia e, deixando-nos todos de boca aberta, disse: “Obrigado por terem vindo ver a minha entrada na fé”.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Cerimónias para ver"

12 comentários:

JS disse...

Interessante agradecimento.
E no entanto:
Quem é que veio ver quem? Quem é que convidou quem?
Quem são os presentes? São assistentes?
Ela baptizou-se?

Confessionário disse...

JS,
Quem achas que veio ver quem? Quem achas que convidou quem?
Quem achas que foram os presentes? Seriam assistentes?
achas que ela se baptizou?

Ailime disse...

Bom dia Senhor Padre,
Um testemunho bonito e muito profundo.
Emília

JS disse...

Quem a acolheu na catequese paroquial? Quem a guiou no despertar da fé? Com quem esteve ela a caminhar? Quem diante ela foi dando testemunho da fé?
Perante quem manifestou ela as suas disposições? Quem lhe deu consentimento para formular o pedido? Quem prometeu ajudá-la no caminho de preparação? Quem a admitiu ao catecumenado? Quem a assinalou com o sinal da cruz de Cristo?
Quem rezou por ela, invocando a misericórdia de Deus e a sua acção purificadora? Quem a ungiu com o óleo dos catecúmenos? (Quem ao lado dela fez experiência do perdão de Deus?)
Quem autorizou o baptismo dela e concedeu delegação? Quem convocou a assembleia para o grande dia?
Quem invocou a graça de Deus sobre a água baptismal? Quem professou a fé antes que ela o fizesse? Quem é depositária do sacramento que lhe foi oferecido? Quem a saudou e abraçou como novo membro? Quem a revestiu com a veste branca? Quem lhe entregou a vela?
(Quem rezou para que o Espírito fosse derramado sobre ela? Quem com ela se aproximou da mesa da divina comunhão?)

Confessionário disse...

tens as respostas?

JS disse...

Falta saber se as têm os tais que ficaram de boca aberta.

Confessionário disse...

Só ficaram de boca aberta!

JS disse...

Pois de boca aberta ficaria eu se eles (e muitos outros) dessem sinal de saber e entender tais respostas.
Mas o que se vai vendo é uma falta de resposta capaz a este tipo de casos, em franca aumentação; que são despachados com o simples recurso ao ritual dos parvos, em celebrações privadas e sem que o ordinário seja tido nem achado.
Não há tempo, não há organização, não há formação litúrgica, não há consciência eclesial... E deixamos o Espírito Santo de boca aberta.

Anónimo disse...

Que coisa, sr JS!!! Na sua opinião o que ela disse foi bom ou não, agradou-lhe ou não, valeu alguma coisa ou não?

JS disse...

Como disse, parece-me um agradecimento interessante, possivelmente revelador de uma consciência acima da média (na sua faixa etária) relativamente ao mistério vivenciado.
E no entanto... experimentemos uma comparação. Imaginemos uma criança acabada de nascer, a dizer à mãe que acabou de a dar à luz: obrigado por teres vindo ver a minha entrada no mundo.
O meu ponto aqui é sobre a questão da linguagem, do que é dito e de como as palavras traduzem a verdade objectiva. Assim:
- "obrigado": sempre bonito, importante, significativo, comovente. Como é lógico, não se põe em causa a intenção de quem agradece, a autenticidade do seu sentimento; nem o sentimento gerado em quem escutou a manifestação de gratidão.
- "a minha entrada no mundo": uma metáfora bonita, interessante, significativa para designar o próprio nascimento. Também aqui nada há de criticável.
- "por teres vindo ver": será correcto, justo, dizer isto da mãe? É um facto que a mãe veio à maternidade. É um facto que a mãe viu a criança a nascer, ou viu-a nascida. Mas este elemento da frase define com exactidão o significado da presença da mãe ali? Será ela uma convidada? Veio assistir? Ou o papel, a função, o contributo da mãe relativamente ao nascituro vão muito para além do "ter vindo ver"?
Voltando à comparação: nós costumamos chamar à fonte baptismal o seio/ventre da mãe Igreja. A verdade, a força, o alcance destas palavras estará por nós, cristãos, interiorizado?

Anónimo disse...

É por isso que se deve evitar o uso da forma reflexiva: eu baptizei-me (eu crismei-me, eu ordenei-me...) Não é linguisticamente o mais correcto, não corresponde à verdade da acção sacramental. Ninguém se baptiza a si próprio; a pessoa é sempre baptizada (por outrem), recebe o Baptismo (das mãos de outrem).
A excepção seria no Matrimónio: eu casei-me. Mas trata-se de meia excepção: eu caso-me com alguém, não comigo próprio. Eu caso-me, no sentido em que me dou em casamento, em que dou o meu consentimento a outrem. Casamo-nos, afinal, um com o outro. (Aqui, o errado seria dizer: fomos casados pelo padre x; ou: foi o padre y que me casou. Os padres não casam ninguém.)
JS

Anónimo disse...

Talvez seja possível usar: eu baptizei-me, no sentido de afirmar que eu tenho o Baptismo. Algo como acontece quando dizemos: eu chamo-me (isto é, eu tenho como nome...). Esta forma verbal normalizou-se, mas o certo é que somos chamados, chamam-nos, o nome que temos foi-nos dado.
Mesmo no caso em que em que alguém escolhe o (um novo) nome para si próprio, como costuma acontecer com o Papa, o facto é que alguém lhe perguntou antes: com que nome queres ser chamado?
Nos ritos cristãos até isto se procura mostrar com clareza, por exemplo quando o ministro, diante dos pais da criança que vai ser baptizada, começa por perguntar: que nome destes à vossa criança? Ou quando, no sacramento do Crisma, ou da Ordem, se faz a chamada dos candidatos e cada um reage a esse chamamento.
JS