segunda-feira, outubro 24, 2022

As gravatas dos padres

Ficara com a sensação de que a sua conferência sobre o baptismo e o sacerdócio comum dos fiéis não estivera mal. É certo que lhe apertava a gravata e o casaco de fato naquele dia de calor mas, tirando isso, a coisa correra bem e a assembleia parecia interessada. Já as pessoas iam saindo quando se lhe acercou um senhor da primeira fila, que o escutara atentamente, para o felicitar e lhe dizer que estava inteiramente de acordo com ele, pois também achava que o sacerdócio comum dos fiéis realçava o papel e lugar dos leigos na Igreja. Tinha apenas uma objecção que, para este senhor, era decisiva. Não queria incomodar, mas achava que o devia dizer: “Saiba, porém, que sou contra os padres de gravata”. No meio de um sorriso, o conferencista respondeu-lhe dizendo que não tinha nada contra padres com gravata ou sem gravata, contra padres com cabeção ou sem cabeção, e que ele ficasse tranquilo, porque não estava diante de um padre. O conferencista, que era um leigo, acabara por desconstruir a teologia do laicado do seu ouvinte. Afinal, este não entendera bem a igualdade fundamental da categoria do sacerdócio comum dos fiéis. Na sua mente ainda havia resquícios de uma distância assinalável, mas sobretudo distintiva, entre clero e leigo.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A Igreja de mãos dadas"

2 comentários:

Anónimo disse...

Compreendo as clivagens, ainda assim restará a esperança, nem que seja a materializada no perú sobre a mesa de Natal.
Bem-haja

Anónimo disse...

Está visto que vamos precisar de uma refundação do sacramento da Ordem e do ministério da autoridade.