terça-feira, fevereiro 23, 2021

em parte sim e em parte não

Um colega padre queixou-se publicamente da proliferação de transmissões digitais da Eucaristia Dominical, nomeadamente no Facebook e no Youtube. Dizia que bastavam as eucaristias transmitidas pela televisão, e que estas, sim, deveriam ser mais valorizadas. Que andar a celebrar missas em cada capelinha, quase como se fosse à la carte, para já não falar na busca de likes e seguidores, era um contrassenso com a “comunhão” que tanto se ouve nas bocas dos “pastores” e com o sentido da Igreja que dizemos ser “católica”. 
Mas, se por um lado, ele tinha razão, por outro, também era capaz de não a ter. Foi assim que um outro colega começou a falar perante o raciocínio que o primeiro expôs. Em parte tem razão e em parte não, comentou. Se assim fosse também não precisaríamos de ter 4.000 paróquias. Bastava Fátima. Ou 5.000 dioceses. Bastava Roma. Ou 400.000 padres. Bastava o papa. A igreja é, e sempre foi, uma comunidade de pequenas comunidades. E nem Jesus queria que as multidões andassem atrás dele: “Vai para casa, para junto dos teus, e conta-lhes o que Deus fez por ti!”. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO:  "As missas ou missinhas"

13 comentários:

Anónimo disse...

Eu estou farta de tanta missa anunciada no facebook e no youtube.

Mas gosto de ouvir a missa do meu padre aos domingos.
Sempre é melhor ver e ouvir um rosto que conheço!

Anónimo disse...

Já eu adoro esta pluralidade. O poder assistir à missa ou fazer retiros ou partilhar da oração de um grupo pequenino de Trás-os-Montes ou de uma catedral na Europa Central ou da capelinha do Santo Padre e poder fazê-lo tanto às 6 da manhã como às 22:00. Haverá maior riqueza?
E estar na intimidade do meu recanto, sem ser distraída por nada nem ninguém. Apenas eu e Cristo que me é veiculado diretamente em cada uma dessas transmissões.
Não estou farta. tenho dificuldade às vezes em escolher. Mas também isso é um desafio ao cristão. Temos, todos os dias e todos os minutos da nossa vida, de fazer escolhas. Como ou não como? Guardo ou ofereço? Vou pela esquerda ou pela direita? Vejo a celebração da aldeia, a do meu padre ou descubro novidades, como se estivesse em viagem e entrasse na igreja local para assistir à Santa Missa?
Em vez de reclamar, que tal agradecer e aproveitar? Também isso é caminho quaresmal, acho.
SC

Unknown disse...

Pois isto é interessante!!! Já não precisamos de Igrejas, capelas, Sacramentos!!! Basta Internet... redes sociais e basta... Cristão, ou outra religião, já não entendo!!! Para quê os sacerdotes a celebrarem... Meu Querido e amado Jesus, desce outra vez a este povo, e vem fazer a tua multiplicação, aonde temos os sacramentos???? A Eucaristia celebrar o mistério pascal, aonde Cristo se dá a todas as suas ovelhas!!! Bem Católicos a Fé está transformada em Fezada de estar a assistir a um leque de tanta coisa, que não deita sumo...Tanto idoso nos seus leitos doentes que nem sabem o que são redes sociais, sabem sim o que é o
Senhor prior que os vai visitar e lhes administra os sacramentos, e lhe dá santa comunhão aonde está o Proprio Cristo, Corpo e Sangue.. Precisamos de estar de joelhos curvados diante de Jesus nos sacrários, e sim nos seu templo sagrado, com ELE. Vejam o exemplo de tantos Santos os nossos Pastorinhos!!! Acordem para anunciar o Evangelho, sermos missionários na terra, com o cheiro das ovelhas. Jesus Misericórdia.

Anónimo disse...

A Missa nunca pode ser transmitida, por câmaras do mundo, como qualquer espectáculo que fosse. E é assim que tem acontecido até ao infinito agastante e alienante, por todos os processos imagináveis e até, a priori, inimagináveis. Quanto muito, concede-se que possa ser 'visionada', profunda, serena e calmamente, para os doentes e outros incapacitados. O que seria bem diferente da nossa triste e pobre 'realidade', mais cultivadora de egos e egoísmos que de comunhão com os irmãos na fé, em Jesus. Que nos vem cansando até ao enjoo e nada de positivo e verdadeiramente construtivo deixará. E penso que não estou a ser derrotista...

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Desculpe o meu desabafo, mas alguns dos comentários são como se não estivéssemos confinados por motivo de uma Pandemia.
Demos tempo ao tempo e se Deus quiser voltaremos a ter as celebrações e a Sagrada Comunhão.
Neste momento, decerto que os mais jovens aderem às chamadas redes sociais, outros como eu à TV e penso que vale mais ouvir e ver desta forma, do que de nenhuma maneira.
Andamos a perder a calma, é o que é.
Sejamos pacientes. O nosso tempo não é o de Deus. Que seja feita a Sua Vontade.
Ailime

Anónimo disse...

Por alguns comentários que aqui li, estamos a entrar na era da fé privada!
Concorda comigo, "confessionário"?

Confessionário disse...

Boa tarde, 25 fevereiro, 2021 12:01

Na verdade, o verdadeiro assunto que eu quis reflectir foi o da comunhão (comunhão de pessoas e não comunhão de comungar o Senhor).
Se, por um lado, concordo com o primeiro colega que diz que não era preciso multiplicar missas, criando, de certo modo, maior comunhão ao redor de duas ou três mais valorizadas (as da TV), por outro lado, como disse o outro colega, a comunhão faz-se na diversidade de várias comunidades.
Mas uma coisa é certa, a Eucaristia é uma “comunhão” na sua essência, como espaço onde as pessoas entram em comunhão umas com as outras e com Cristo. Por isso é capaz de ter alguma razão quando diz que se está a potenciar uma certa fé mais privada ou privatizada, na medida em que cada um tem buscado a seu gosto (a missa que mais lhe agrada) e não entra em verdadeira comunhão com os outros. Isto é pano para muitas mais reflexões.
Em breve posto/publico mais um texto que já escrevi sobre este assunto.

Anónimo disse...

Para Unknown:
Claro que precisamos. Leu algures que não precisamos? Mas podemos no contexto atual? Ou temos de nos haver com o que há? Alguém disse que ficamos fora do anúncio? Da evangelização? Da comunhão fraterna? Disse-se, sim, que perante a pluralidade se agradece em vez de se maldizer. Vai-se à fonte beber para depois se tentar levar a água aos idosos do trabalho ou aos jovens do grupo, sim, virtual, por estes dias de pandemia. Sem fonte é que não se pode estar, nem dar. Quando as celebrações voltarem a ser presenciais, sim, iremos ajoelhar-nos diante do Sacrário.

Não sejamos tão velozes a julgar os outros. Sabemos lá com que linhas cosem! Jesus Misericórdia, mesmo.

SC

JS disse...

Será que por detrás dessa indignação presbiteral perante a multiplicidade de missas nas plataformas sociais não se esconderá algum receio à "concorrência", algum medo das comparações, alguma inveja para com celebrações mais vivas, comunidades mais participativas, celebrantes mais carismáticos?
Ou então, não haverá algum comodismo da parte de quem não se quer dar ao esforço de aprender a trabalhar com as redes sociais, ou de convocar o apoio da malta nova, que já nasceu com o telemóvel na mão?
Ou a expectativa de ainda poder escapar a essa realidade das comunidades móveis e flutuantes (observável nas grandes cidades há muitos anos), em que a missa dominical é escolhida em função de um conjunto de critérios que não apenas o ser celebrada na paróquia de residência pelo pároco residente?

Por outro lado, se é verdade que as transmissões oficiais, a cargo das televisões e rádios, buscam atingir um patamar de qualidade, seja na questão dos recursos técnicos, seja no desenrolar da própria celebração (leitores preparados, canto digno, homilia cuidada...), também é certo que por vezes parecem artificiais, como se não correspondessem ao normal da vida da comunidade: muitos salamaleques, alguma feira de vaidades, paramentos e livros litúrgicos comprados de véspera...
As "missinhas de aldeia", na sua pobreza e mesmo na sua miséria, são sentidas por muitos como mais autênticas, mais terra-a-terra, com mais alma, mais sabor. E são seguidas por gente a muitos quilómetros de distância, mas que já não prescinde de ter esse contacto, essa ligação, através da internet.

Anónimo disse...

«...na medida em que cada um tem buscado a seu gosto (a missa que mais lhe agrada) e não entra em verdadeira comunhão com os outros» - Não entra em verdadeira comunhão? Como não? Se calhar, entra. Comunhão, união e unidade.

O facto de se escolher, em função do gosto ou do horário, em nada afeta a possibilidade nem a capacidade de entrar em comunhão. Não somos todos um mesmo povo? Filhos do mesmo Deus? Onde nos reunirmos dois ou mais em Seu nome, Ele não está no meio de nós?

Ou as reuniões têm de ser físicas e presenciais? Se até a comunhão do Senhor pode ser, nesta situação concreta e especial que travessamos, espiritual, como é que a comunhão de pessoas, ainda que mediada por meios eletrónicos, não existe?

Recorde-se que «No seio da comunhão da Igreja existem legitimamente Igrejas particulares, que gozam das suas tradições próprias». A grande riqueza desta diversidade não se opõe à unidade da Igreja.» (Catecismo da Igreja Católica)

JS, concordo com o que escreveu.

Confessionário disse...

27 fevereiro, 2021 07:30, gosto imenso da reflexão que faz, assim como gostei imenso da reflexão do JS. Não porque concorde inteiramente com elas, mas porque me fazem pensar e abrir os olhos para além do que penso. Isso é fabuloso.

Continuo a pensar na questão da "comunhão" tal como quis reflectir no post: será que é mais comunhão as pessoas estarem concentradas em poucas missas (as televisivas eventualmente) ou é mais comunhão a comunhão das diversas comunidades (cada uma a seu modo e através da sua plataforma)?
Pendo mais para um dos lados, de facto: o segundo. Porque a Igreja Universal é feita de Igrejas Particulares e as Igrejas Particulares são feitas de diversas comunidades cristãs.
Mas também sou de opinião que a proliferação de missas ao dispor de todos potencia um certo "sacramentalismo à la carte" (deixem passar a expressão) em que passa a contar mais a decisão e vivência individual do que a comunitária. Parece-me que a celebração em casa (independentemente das circunstâncias que o exigem e independentemente da boa vontade e da fé com que se tenta celebrar) não deixa de ser algo privado. É feita ou recebida no meu cantinho e não no nosso cantinho.
O equilíbrio, no meio disto tudo, a meu ver, seria o mais salutar. E continuo a achar que a reflexão precisa ainda de maior amadurecimento. Por isso agradeço imenso a vossa contribuição (e a dos restantes comentadores) para, ao menos, a minha reflexão pessoal.

Febe disse...

Confinada pela idade e pelo que devemos à nossa saúde e à dos outros sinto-me particularmente em comunhão com a Igreja Universal quando, pela net, participo da missa em que o padre celebra sozinho, mas que em várias casas tb participantes com as famílias e que nos são visíveis estão os leitores e noutras os cantores, mas todos reunidos numa pequena comunidade , que muito se assemelha às igrejas domésticas da Igreja Nascente.... só que é dolorosa falta o partir do pão para nos ser dado .

Anónimo disse...

Nas aldeias a maioria das pessoas que habitualmente vai à missa nem sequer sabe usar a internet!!!!!