Escrevo com a sensação de que anda por perto alguma lágrima e, quiçá, entrando naquilo que eu me atrevo a chamar de “pânico de responsabilidade”, com decisões nas mãos para as lançar fora delas. Respiro fundo e sereno. Respiro fundo e digo para mim mesmo que vou serenar. Quem acha que tomar decisões pelos outros é fácil, que se desengane. Pelo menos quando o fazemos com consciência, sentido de responsabilidade e a pensar deveras nos outros, sobretudo os mais frágeis.
Aqui, no meu pequeno mundo paroquial, sinto o peso de saber que devo tomar decisões equilibradas entre evitar a todo o custo os contágios, na expectativa de aprazá-los ao máximo para que as respostas de saúde possam ir surtindo efeitos, e evitar o pânico generalizado que nos mata por dentro e também nos impede de “viver”. Faz lembrar a notícia que ouvi esta manhã de um senhor que, por estar convencido de ter o coronavírus e porque não queria contaminar ninguém, se suicidara.
Como o sociólogo Lipovetsky dizia, este vírus é sintoma da hipermodernidade, associado ao individualismo, a indiferença e a ligeireza como diagnóstico crucial do presente. A sociedade globalizada e móvel, que busca aceitar a diferença, mas que é cada vez mais indiferente, nesta hora obriga-nos a questionar os nossos alicerces. Queremos viver sem sofrimento e sem medos, mas isso não é possível sem responsabilidade, sem esperança, sem sacrifício e esquecendo o bem comum. E como cristãos, devemos encarar a vida como peregrinos, sabendo que a qualquer momento chega a nossa hora de ir para o Pai, mas ao mesmo tempo como bons administradores do maior dom que Deus nos concedeu, a vida que cada um de nós tem. Estamos, portanto, diante de uma realidade que nos assusta, mas que também nos pode auxiliar a fazer um exame de consciência pessoal e colectivo.
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Sabemos pouco da vida"
2 comentários:
Boa noite Sr. Padre,
Um excelente artigo sobre o tema que domina o mundo e a todos assusta.
Sobre o coronavírus já muito se disse e continua a dizer.
Sem pânicos desmedidos encaremos a realidade, mas com responsabilidade principalmente em relação a cada outro.
Pegando nas suas últimas palavras, talvez este momento e porque estamos na Quaresma, sirva também para fazermos um consciente retiro quaresmal em nossas próprias casas.
Ailime
Pois bem, estamos quase repetindo o tempo parecido com Sodoma e Gomorra, mas nas nossas atualidades o número de gente sem fé estão alarmantes, devido as questões do empoderamento. Muitas pessoas sabem da existência de Deus, mas não conseguem fazer o que o Filho Dele veio aqui ensinar.
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