Uma amiga, para validar a sua opinião acerca do assunto, mostrou-me uma espécie de carta de um doente com Arthogripose Congénita Dupla, em que este alegava ter direito de pedir a eutanásia e direito a escolher o que fazer com a sua vida.
Ora, como disse à minha amiga, também eu me comovo com o sofrimento e desespero das pessoas. Mas não me demito de as ajudar a vencer esse sofrimento e desespero. Não obstante isso, ao seu alcance permanece sempre o direito de escolher entre viver ou acabar com a sua vida, através do suicídio, embora, como é natural, eu não concorde com ele. O que a mim sinceramente me custa é que uma responsabilidade pessoal que constitui a tal possibilidade de escolha, se torne uma responsabilidade colectiva, ainda por cima de todo um colectivo que devia fazer tudo para auxiliar as pessoas a viver e não se demitir desse papel com tanta leveza, sem ao menos proporcionar cuidados paliativos, afectivos e solidários!
Eu também não quero decidir sobre a vida dos outros. Não julgo quem se suicida. Evito julgar o desespero das pessoas. Mas, tanto a eutanásia como o suicídio assistido não podem ser um tratamento médico. Por isso afirmo que a liberdade de escolha dos outros não pode tolher a nossa confiança em médicos que deveriam sempre fazer tudo e o máximo pela defesa da nossa vida. Para isso é que estudaram e para isso fizeram o Juramento de Hipócrates.
De facto, não é a legalização de uma lei que me vai obrigar a mim ou a quem quer que seja a fazer a opção pela eutanásia. Mas responsabiliza-me, como cidadão, por ela, e eu também tenho a liberdade de não querer essa responsabilidade e que seja respeitado nessa opção!
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Especial Diana"
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Especial Diana"
7 comentários:
Tanto para nada. A gente morre e enterra-se, chora e recupera-se. Esperamos todos pelo mesmo, é a lei da vida.
Antes da «Eutanásia», «Distanásia» e congéneres, devíamos cuidar distinguir entre o que é «estar vivo» e «estar morto». Parece-me que a «eutanásia» devia servir para matar a morte. Minimizar a inteligência ou ou querer de quem a pede, não me parece contribuir para a discussão. Coloca-se o assunto numa dicotomia, os que estão do «lado de lá» e os que estão do «lado se cá», sem pensar que os termos se podem inverter com mais facilidade do que a que podemos supor. Vamos supor que alguém tem uma dor atroz, podemos supor até que se trata de uma dor psíquica e que a via utilizada na clínica em que o indivíduo em causa se encontra é a medicamentosa, a tal ponto que quando se olha para ele... não está cá! Mas o coração bate, se bate está vivo e para não sofrer dá-se-lha a «dose». É uma vida. Quieta. Estável. Pergunto: está vivo?
Imaginemos que a imobilidade é irreversível, que o indivíduo permanece amarrado no seu corpo, que para ele é um cárcere, um túmulo, com perfeita consciência, mas não aguenta mais o sofrimento. O coração bate? Está vivo! Não se dá a ampola da morte, dá-se o remédio para as dores. Diminui o sofrimento? Há cuidados paliativos que revitalizam uma vida morta? No primeiro caso, a pessoa não tem consciência de si. No segundo já terá. A opção de dizer não à eutanásia em nome do direito à vida, é um absoluto? Como é? Estar vivo é... o contrário de não estar morto, Ainda há gente sábia!
17 fevereiro, 2020 15:41
Para mim não há um lado de cá e um lado de lá. Mas eu defendo a vida, mesmo no meio do sofrimento e do que parece sem sentido de viver.
Não julgo e farei todos os possíveis para não o fazer. Mas custa-me a leveza, para não dizer leviandade, que tanta gente usa para tratar um assunto tão fracturante e que inverte os valores numa sociedade cada vez mais descartável e menos responsável.
Não estou de acordo com o facilitismo para acabar com a vida de alguém só porque não está tão capaz anímica, psiquica, emotiva e/ou fisicamente!
Creio que a aprovação da eutanásia é o início do resvalar, como na Bélgica e na Holanda, de uma compreensão que começa de um modo e que em pouco tempo progride no mesmo mobilismo da sociedade que diz que isto de provocar a morte é algo normal, natural e banal! Peço desculpa, mas não concordo!
aconselho esta leitura de José Manuel Silva (médico, especialista em medicina interna e bastonário da Ordem dos Médicos entre 2011 e 2017):
https://rr.sapo.pt/2020/02/16/pais/a-fundamentacao-em-21-pontos-do-nao-a-eutanasia/noticia/182189/?fbclid=IwAR2HFa5ahjfYft-PIHDXPMXNqvQpLl_GytUEq5Dx2H635Ex0ldj-M-UUiBw
Talvez possa ajudar a entender um outro lado a que não se está habituado a ver!
Somos uma sociedade hipócrita: não fazemos nada pelos imensos sofrimentos com que nos deparamos diariamente e estão ao nosso lado, mas depois comovemo-nos com o sofrimento como o que refere e somos a favor de que ele acabe! Somos hipócritas
Em termos conceptuais, os pró-eutanásia justficam-na como um grande avanço civilizacional embrulhando esse avanço na liberdade individual de escolha. Mas o que uma tal visão vai acabar por conseguir é um grande retrocesso civilizacional, pois sem que nos demos conta, entraremos numa RAMPA DESLIZANTE em que haverá cada vez mais mortes. É isso que se está a verificar nos países que começaram primeiro com a tal “ morte com dignidade” ...
Eu também não quero que os serviços de saúde (que são pagos também com os meus impostos) sirvam tanto para curar, como para matar. Quero que persigam até à exaustão a defesa da saúde e da vida. Esta maneira de pensar também deve ser respeitada. Quantos portugueses pensarão desta forma?
A leviandade com que alguns partidos estão a agir leva-os a pretender mexer no fogo e se o processo não for travado de algum modo, estará aí a caixa de Pandora escancarada...
Sendo um assunto tão fraturante e dividir tanto o nosso país, o mínimo que os deputados deviam fazer era não decretar nada.
Tb concordo consigo, padre: se alguém quer por termo à sua vida, não precisa da aprovação da sociedade para legitimar a sua consciência.
E a "rampa deslizante" de que fala o Cisfranco é a tendência natural nesta sociedade descartável.
Não me revejo nisto e dá-me vontade de chorar!!!!!
Para amenizar o sofrimento do próximo, e ficar do lado ajudando no que for preciso, nem que seja por uma boa conversa. Assunto que eleva o ser humano. E sempre com Deus na causa. Sou prova viva de convivênciapessoas com cuidado especiais. Assunto este dolorido. CHm
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