sexta-feira, janeiro 10, 2020

Vivemos para morrer.

Iniciei assim a homilia. Vivemos para morrer. Disse-o, convencido de ser uma enorme verdade de vida. Nascemos para viver e vivemos para morrer. Para chegar a esse momento, do qual ninguém escapa. Ricos ou pobres. Mais capacitados ou mais desajeitados. Todos. Todos vivemos para morrer. Na verdade, o sentido da vida começa quando encontramos o sentido da morte. Se não o encontramos, vivemos a morrer por dentro até que ocorra a morte. A nossa vida deixa de ser vida para estar morta. Porque temos medo e ansiedade, o que nos mata interiormente e não nos deixa viver em pleno este dom maravilhoso que nos foi dado, a vida. Não há pior morte que a de estar vivo, mas morto por dentro. Vivendo sem sentido de viver. Não obstante, vivemos para morrer. Para passar pela morte. Que é apenas mais um momento, embora nos pareça o fim dos momentos. 
Eu acho que não tenho medo de morrer. Digo Acho para não parecer exagerado. Ou muito seguro de mim. Que não sou assim tanto. Imagino-me a conversar comigo dizendo estas coisas e a ver como reage o meu rosto. Para ver se é verdadeiro ao falar de uma coisa que custa tanto falar. Claro que tenho o instinto natural da sobrevivência. Sofro quando algo me afecta na saúde. Quando vejo dor e sofrimento. Quando me deparo com a morte, sobretudo dos que mais amo. Quando vejo o tempo passar e não voltar. Quando vejo as capacidades a desparecer-me por entre os dedos, mesmo quando os fecho na mão, tentando agarrá-las. Mas acho que não tenho medo da morte. Porque estou convencido que a morte é apenas a plenitude da vida.

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "É a vida"

4 comentários:

Anónimo disse...

Que reflexão??? Misericórdia senhor, meu padre.

Paulina Ramos disse...

Concordo contigo quando dizes que achas que não tens medo da morte, a mim parece-me que às vezes tenho é "medo" da vida.
Confesso que, ultimamente tenho pensado que ela a morte será mais aquilo que acreditamos que é, ou a plenitude da vida ou então o fim de todos os momentos.

Isso deprime-me, uma vez que muitas vezes nem sei mesmo no que acreditar!

De uma coisa tenho a certeza a morte não será igual à vida tal como a conhecemos ou imaginamos.

Provavelmente será no interior de cada um que a morte se revela ou se vai revelando, de acordo com o tamanho da fé que lhe assiste.

Gostei muito de ler a tua reflexão.
Trouxe-me à memória alguns episódios dignos de reverência.

És fantástico na tua escrita, toda ela uma poesia!


Anónimo disse...

Morremos e vivamos para vida eterna.

Ailime disse...

Boa tarde Sr. Padre,
O processo da morte inicia-se quando nascemos.
Ailime