terça-feira, dezembro 17, 2019

O príncipe do lar

Vou chamar-lhe Henrique porque, segundo me informei, significa "príncipe do lar". Acho que o nome se ajusta ao que reconto. Este menino é conhecido por ser educado, calmo, sereno, meigo, terno, simpático. A catequista descreveu-o com estes adjectivos. Segundo ela, havia já algum tempo em que ele andava tristonho, sem brilho no olhar. Não parecia o mesmo Henrique que entrara na catequese há um ano ou dois. Passava quase todo o tempo do encontro de catequese alheio, distante. Longe de tudo e de todos. A catequista andava preocupada e não sabia como o abordar. Mas houve um dia em que ele estava mais perto dela, e no momento em que olhava fixamente o nada, no vácuo do tudo que era e havia à sua volta, aproximou-se dele, e perguntou. Olá, Henrique, então que se passa? Parece que andas um pouco triste. O Henrique escondeu os olhitos, nos quais se notara a presença discreta de uma lágrima, e respondeu com a meiguice habitual. Pois ando, catequista. Sabes, é que eu agora tenho dois pais e não sei se hoje vou para casa do primeiro se do segundo. 

A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "O casamento depois de dez anos casados"

3 comentários:

Anónimo disse...

um dos flagelos dos nossos tempos, padre!

JS disse...

Essa é realmente a parte mais lixada dos divórcios: os filhos. Mesmo que as crianças sejam bem mais resilientes do que costumamos imaginar, a verdade é que a experiência do divórcio dos pais deixa marcas. E não é de admirar que uma geração criada e crescida no seio de famílias decompostas mostre uma tal repulsa por compromissos duráveis...

Confessionário disse...

JS; creio que, aos poucos, vai ser cada vez pior. Há um reducionismo de estabilidade no seio dos âmbitos onde crescemos e isso vai pagar-se caro! Um dia destes tudo é descartável!