sábado, fevereiro 16, 2019

O último José

O último José a quem fui dar a Unção dos Doentes fez-me pensar para além de mim, para além da vida, para além da missão sacerdotal. Quando me deparei com ele, nos Cuidados Continuados, em primeiro lugar, recordo, esbocei um abraço. Só isso. Apertei-lhe, depois, a mão. Só isso. Falei com ele como se não estivesse onde estava. Aquela cama articulada onde o José permanecia com os olhos abertos, mas sem olhares, e com a boca entreaberta, mas sem palavras. Esbocei um abraço e apertei-lhe a mão como se fosse o outro dia em que nos saudámos com um aperto de mãos e trocámos duas ou três palavras sem jeito, com pouco nexo. O nexo das conversas triviais. O perguntar-se como se está e o dizer que se vai indo. Quando já era visível que o José não andava bem. Quando ao perto já se manifestava a sua doença e a debilidade. 
Creio que quem sofre sabe que está num estado diferente de quem o visita no sofrimento. Mesmo quando não expressam qualquer sinal de entendimento. E creio que só quando nos fazemos companheiros do caminho, sócios da jornada, quem sofre perceberá que não está só. Doeu-me aquele diálogo surdo de dois companheiros de uma viagem. Dois companheiros que não têm muito para dizer senão estarem juntos a fazer o caminho. Mas também não sei se ocorreu tal e qual. Talvez o tenha imaginado assim depois que presidi ao funeral deste amigo José.

3 comentários:

Anónimo disse...

me fez chorar, lembrei-me do meu pai também era José
chm

Anónimo disse...

Sei que a vida é dura, curta, irrepetível. Por isso mesmo peço-lhe: traga-nos um pouco mais de alegria, converta este bocadinho de céu um arraial minhoto, com tudo a que há num arraial minhoto. Não deverá ser necessário um esforço sobre humano para que aconteça. Só é preciso bastante à-vontade e um certo jogo de cintura.

Quanto ao seu José…. Primeiro os meus sentimentos à família. Segundo, bom saber que esse homem na recta final pode beneficiar de Cuidados Continuados, cama articulada, Unção dos Doentes e, finalmente, de um Funeral Condigno. Quantos há mais bem tratados em mortos do que em vida, o que é caso para dizer que a morte ainda «compensa» - aflitivo bem sei, isto não é uma piada, não senhor, é apenas uma reflexão um tanto amarga da negra realidade desta sociedade podre em que vivemos.

Quanto ao céu para onde encomendou o seu José, nunca se viu nenhum morto de lá voltar. Não me parece, por isso, um local seguro de ir. Pensando bem, se calhar o Sr. Padre devia mudar de profissão rapidamente, escolher um empregosito mais seguro e bem remunerado, sem greves e grandes complicações . Não vá para coveiro, peço-lhe por favor. Seria quase a mesma coisa, mete é mais cruzes, enxadas e é mais propício a quedas.

Melhor seria algo distinto e verdadeiramente útil, qualquer coisa relacionada com a saúde: Farmácia, p. ex . Delegado de Propaganda Médica seria uma outra óptima possibilidade. Instrutor de Fitness. Ou mesmo, Distribuidor de pizzas… Com o seu perfil… Olhe!!! Já sei!!! Melhor ainda: Jeová…!!!??? Oui??? Está a ver enquanto não lhe arranjei-lhe par?!


PS - Eu própria já mandei CV para esse lugares (menos para o JV). Bonne Chance!

Anónimo disse...

Queria que todos homens se chamasse José...O nome sagrado do pai de Jesus de Nazaré.