segunda-feira, outubro 07, 2013

A catequista e o menino

No grupo de catequistas da paróquia há uma catequista que prima pela discrição. Ouve atentamente tudo o que se passa à sua volta. Absorve o que se passa e usa poucas palavras para se fazer ouvir. Acho interessante esta forma de ser. Encontrámo-nos à saída do centro, quase tropeçámos um no outro e ela aproveitou o tropeço para me dizer que Já agora, estava capaz de lhe dizer uma coisa. Que no ano passado quase desistira de dar catequese. A vida familiar era-lhe exigente. Não era muito compreendida pelo marido. As crianças da catequese eram muito desordeiras. Estava cansada. Mas numa das últimas catequeses do ano, no dia exacto em que tomara por definitiva a decisão de não voltar a dar catequese, o Senhor a fizera de novo pensar. Há um menino no seu grupo, o mais miudinho deles todos, que está sempre a sorrir. Um sorriso que contagia. Já não era a primeira vez que, quando a semana estava a ser dura, o menino lhe enviava um sorriso que a fazia pensar no sorriso de Deus. Ora, no tal dia definitivo, os meninos do seu grupo, quase garantindo que fizera a decisão mais acertada, estavam por demais irrequietos, desordeiros, barulhentos. E enquanto tentava acalmá-los, uma pequenita mão acariciara o seu rosto. Quando abriu os olhos que se tinham fechado pela irritação, deu conta que era o tal menino do sorriso contagiante. No mesmo instante, viu-se a olhar para o menino Jesus a acariciar a sua mãe no meio da sua labuta diária, cansativa e penosa. O miúdo esticara-se para lhe dar um beijo, dizendo que gostava muito da catequista. Padre, naquele momento senti que o Senhor me trocara as voltas e me estava a dizer que ainda não chegara o momento para a decisão que programara. E aqui me tem, padre. Também me estiquei, embora menos que o menino, para lhe dar um beijo e não dizer mais nada que não tivesse sido já dito. O Senhor troca-nos muitas vezes as voltas.

11 comentários:

Anónimo disse...

Essa sua catequista é especial, só pode.
Acompanhei 32 jovens até ao crisma que foi em Julho passado.
Depois dessa data e porque sabia que muitos deles se afastariam de Deus, insisti nos encontros fora das paredes de pedra. Esses encontros informais como lhes chamávamos, aconteceram em diversos locais, na esplanada do café, aconteceram num miradouro que tem uma vista magnifica sobre o mar, até que me aventurei a sugerir uma caminhada ao longo de uma levada. É das mais bonitas e frescas. Consegui um preço especial para eles por serem jovens, ah! e consegui que um padre nos acompanhasse para uma reflexão em sintonia com a natureza de uma beleza indescritível durante este percurso.
Tudo teria corrido pelo melhor não fosse três deles resolverem fumar enquanto atravessávamos aquele túnel escuro e comprido. Ainda mais grave é que não se tratava de tabaco, era droga, era um charro.
A esperança que eu tinha naqueles jovens foi-se e deu lugar a um desânimo em mim fora de série.
Tinha estado ao lado deles nos bons e nos maus momentos, ao longo destes anos todos. E era daquela forma que eles me mostravam que eu tinha sido uma nulidade. Estava revoltada magoada ferida, sentia-me humilhada... depois daquele "charro" (acho que é assim que se chama) surgiram os palavrões e comportamentos menos próprios. Ao ponto de o padre que nos acompanhou no final do percurso me ter perguntado se eles se portavam assim nos encontros. Assegurei-lhe que não, o que é verdade, mas pude perceber a dúvida no seu semblante.
Senti-me deveras miserável tinha dado o melhor de mim prejudicando o meu filho ignorando as observações infelizes por parte do marido (especialmente quando está sob a influência do álcool), e esta era a recompensa???
Num daqueles dias cinzentos em que o templo se encontra escuro frio e sem ninguém, ajoelhei-me em frente ao Sacrário a chorar e disse-Lhe sem palavras que me ficava por ali, que não tinha forças para ser mais magoada e humilhada. ELE se "mudo" estava "mudo" permaneceu.
Não comentei esta minha decisão com ninguém, apenas sabia que não iria aparecer ontem na missa de compromisso dos catequistas.
Na terça feira passada telefona-me um "anjo" (como em pensamento eu lhe chamava) a dizer que queria comprometer-se na paróquia queria dar catequese, mas não posso ficar sozinha, quero ficar consigo... tem ainda a Joana e a Débora que que também se querem comprometer e ajudar na catequese.
Lembro-me das desculpas que me passaram pela cabeça inventar para não ir. Disse-lhe que não sabia se este ano eu iria avançar.
Então o meu anjo com aquela voz ternurenta autêntica genuína acrescentou, " a sra catequista fez a diferença nas nossas vidas, ouviu-nos e importou-se pelos nossos assuntos, gostávamos que nos acompanhasse agora também...
E lá se foi a minha decisão pelos "ares".
Ontem comprometi-me mais uma vez, aceitando uma turma de sétimo ano... mais ninguém quis pegar naqueles vinte e dois jovens, eu sei que a sra é capaz disse o pároco, ah e tem ainda aqueles 27 do oitavo ano, a atual catequista só os vai poder acompanhar até ao natal, depois vai para o estrangeiro trabalhar, mas não temos ninguém para ficar com eles não os podemos deixar sem catequese.
E eu não tive a coragem para lhe dizer que não podia, não tive coragem de lhe dizer que a minha vida familiar era dificil, que me sentia frágil e só, que temia pela minha própria saúde...
Não tive coragem de lhe dizer que não e aceitei.
Não sei se foi Deus que me trocou as voltas, mas como atrás disse lá se foram pelos ares as decisões tomadas.
PR

Isabel disse...

simplesmente lindo

Anónimo disse...

Bonito testemunho, Deus fala verdadeiramente através dos outros, e certamente ainda mais através dos pequeninos.

Anónimo disse...

Gostei, como contou o sucedido.

Creio que N. Senhor, tem um sentido de humor incrivel... e dá para vêr o quanto nos ama, ao enviar assim estes miminhos puros!

Beijinho fraterno*

Anónimo disse...

Sorri com este texto...

Á PR;
Com a permissão do Confessionário.

A sua história, é muito semelhante à que lemos aqui. Não desespere.

A catequista é apenas um veiculo. O veiculo apenas transporta, e, neste caso esperamos sempre que o faça com amor.

Acredito que N. Senhor, a permitiu viver essa humilhação, para que pudesse perceber isso mesmo. Talvez, esse grupo já tenha fumado muitos mais charros, antes desse... apenas se "despiram" das máscaras, e isso tem o seu quê de positivo.

Uma coisa é certa, jamais alguém consegue encher uma garrafa, se a mesma estiver fechada... medite nisso! A PR, é uma catequista especial! Não duvide disso!

A Paz de Cristo.

Anónimo disse...

Filha de Maria!
"Acredito que N. Senhor, a permitiu viver essa humilhação, para que pudesse perceber isso mesmo. Talvez, esse grupo já tenha fumado muitos mais charros, antes desse... apenas se "despiram" das máscaras, e isso tem o seu quê de positivo."
Esta sua afirmação tocou-me.
Obrigada!
PR

Unknown disse...

Padre,
Julgo que em qualquer lugar e em
qualquer actividade que se exerça, há sempre alguns espinhos No caso exposto, só muita dedicação à causa, bem nobre, e aquelas pequeninas mãos são capazes de enternecer e dar ânimo suficiente para continuar o caminho. Neste caso,o pequenito com o seu carinho ...moveu montanhas.
Beijinho
Ruth

Anónimo disse...

Fui, de surpresa, visitar um casal amigo que não via há muito. Meu amigo de infância.

Uma grande festa. Grandes abraços de alegria pura, sentidos bem dentro.

Entretanto, apareceu uma amiga, ainda é prima da mulher desse amigo Zeca. Uma viúva, nova muito bem conservada.

Com as últimas que tinham passado. Desta vez com ela mesmo.

- Vocês querem saber o que me havia de acontecer agora?...exclamou de olhos ainda esbugalhados.

- Conta lá, respondeu a mulher do Zeca.

- Andava eu a regar a relva, de mangueira em punho.

Passou o abade, de batina preta, como de costume. Um ancião robusto de noventa e cinco anos. que não pára em casa.

- Ó F...que andas a fazer?- perguntou ele de olhar viscoso.

- O sr. padre não vê? Estou a regar...
- Estou-te a ver. A perder o tempo!...

- Então porquê?
- Podias vir daí comigo. Vives só...não tens medo?

- Essa agora, sr. padre. Há tantos anos...de que havia eu ter medo. Não me sinto nada bem.
-Olha. Eu tenho. Podias vir viver comigo. Não me sinto nada bem só.

Fiquei sem pinta de sangue...sem saber que dizer. Se me havia de zangar com tão grande atrevimento ou só me rir...

-Lá em cima, no segundo andar, estava acamada, a sogra do meu amigo. Uma velhota igual, com tantos anos como ele. Só que cega, mas não surda e com o juizinho todo...de fazer inveja. Fora uma linda mulher de olhos azuis. Enterrou dois maridos...

Ouviu tudo e não se conteve.

- o F...manda-mo para mim!...

Uma gargalhada geral...
Havia muito que não nos ríamos tanto.

Anónimo disse...

fantástica história e reflexão... acho que vou usar na minha paróquia. Posso?

Confessionário disse...

à vontade
que seja útil ao maior número de pessoas e que sirva para alguns catequistas tb não desitirem dessa missão

Anónimo disse...

Linda história que me fez pensar