sexta-feira, março 16, 2007

Tem de ser ele o padrinho

O João é meu acólito. Tem treze anos. É bastante responsável. Merece a minha atenção, como padre, como amigo, como companheiro. Entusiasmou-se com a ideia de ser padrinho da primita. Disse-mo a tia. Tem de ser ele o padrinho. E as normas? catequese dos dez anos. Ele só está no sétimo. E não há muitos que fizeram os dez anos e são crismados e não têm manifestação de fé visível e são padrinhos? Ela vencera esta primeira batalha. Mas as leis, mesmo as inventadas, vencem sempre, sobretudo por uma questão de igualdade. Falei disso, mas com alguma tristeza, pois percebia as suas razõesPressupõe-se que um padrinho tenha atingido a sua maturidade da fé. Por isso a, melhores que muitas das que escolhem padrinhos fáceis. E se ele não assinar, para já? Esperamos o crisma e os dezasseis anos. Só que isso criava precedentes. E se eu fosse a outro lado, a outra paróquia, passava-me uma declaração para ele ser padrinho? Claro que entendi, mas falei da incoerência. E já a pedir dó, relembrei que eles, como bons cristãos, deviam ser os primeiros a entender e a facilitar-me a decisão. Eles entendiam. Eram boa gente, de facto. Mas não queriam. E como explicar ao miúdo? Eu posso ajudar. Ele até já lhe ofereceu prendas, padre. Eu ia andando, porque tinha confissões à espreita. Esperavam-me uns colegas. Já quase em desespero, e espero que tenha sido só em desespero e sem pensar porque a frase não foi acertada. Isso agora não é importante. Importante é decidir que sim, que ele pode ser padrinho. Olhei com ar de autoritário. Este olhar não era meu. Era da decisão. Não gosto deste olhar. Abri a porta do carro para entrar. Insistia. Então a resposta é sim. Eu dizia que não. Olhe que vai ser sim. Ficamos combinados. Dizia isto quase a fugir para ter a certeza que não me ouvia dizer não e para que a sua consciência ditasse sim e não houvessem dúvidas. Não. Entrei também com a mesma forma de pensar.
E agora, como vai ser quando abrir definitivamente o carro e a encontrar de novo na reunião de preparação?

21 comentários:

Anónimo disse...

Não costumo vir aqui a esta hora. Hoje calhou. Tenho os alunos a fazer teste e eu vou navegando para passar o tempo. Mas ainda bem que aqui cheguei. Padre, a resposta tem que ser sim. Por todas as razões: é um padrinho de Fé, é um padrinho de coração. Que mais pode querer para o pequenino que vai ser baptizado? As leis fazem-nas os homens para evitar males maiores. Mas não podem ser cegas. Sobretudo na Igreja. É dos tais pecados que, de certeza, Deus está prontinho a perdoar. Lá no fundo no fundo sei que está cheio de vontade de ver esse menino com a velinha acesa, diga lá se não?
E lá estou eu a meter-me onde não sou chamada...
Um abraço amigo

Sílvia disse...

Olá outra vez...
Começo a ficar viciada neste blog... com tanto assunto interessante...
Pois é, já cá faltava a questão dos padrinhos... Eu como já sou madrinha, tenho consciência da importância que tem tal compromisso (sim, porque eu vejo isso como um compromisso...), mas como catequista e animadora que já fui sei que os "miúdos" e alguns graúdos não olham para as coisas dessa maneira. Para muitos ser padrinho ou madrinha não é mais do que ir à igreja (muitas vezes fazendo o frete...) e assinar uns papéis... e depis comprar umas prenditas no aniversário e no Natal... e na Páscoa, também.
Tenho a certeza que este não será o caso, mas que não é fácil, não é. E para se seguir a "burocracia" que a Igreja implica, muitas vezes se escolhem padrinhos sem se pensar em tudo o que isso implica. Se têm idade para isso e o Crisma feito (mesmo não sabendo o que fazer o Crisma implica... porque a maioria não sabe...)então podem ser padrinhos... se não têm... nada feito... Mesmo que seja a pessoa mais indicada para isso (como me parece que seja o caso!).

Luis Carlos disse...

Olá,

Olha o Espírito Santo a soprar, e tu estás a dizer-Lhe que não, porque o papa da Igreja Católica Romana diz que não.

O Amor entre os primos, quer criar um relação entre eles de padrinho e afilhada, e há um Não por causa das Leis da Igreja.

Olhe para a Igreja Católica Romana e compare o Judaísmo dos Sumo-sacerdotes do Templo de Jerusalém. Pessoalmente eu não vejo muitas diferenças.

Por isso, atenção. Veja lá a quem está a servir. Se está a servir a Igreja ou a servir a Humanidade.

Até já,
Luís Carlos

Anónimo disse...

Difícil dilema, mas não impossível de resolver.

Só pode haver excepções quando há regras a cumprir. E neste caso, parece-me que a excepção é perfeitamente aceitável e justificável.

Premiar quem merece é muito justo e nunca fez mal a ninguém: dá ânimo redobrado para se continuar no bom caminho.

Dê lá esse gosto ao rapazinho (e não ligue aos invejosos que sempre aparecem com falsos argumentos de justiça e igualdade).

A justiça não está na pretensão a direitos iguais, mas dar a cada um consoante o merecimento (ou a necessidade).

Anónimo disse...

Dífícil, eu compreendo.
Mas ser padrinho é mais que "dar um gosto ao rapazinho".
Baptiza-se alguém na fé da Igreja "que nos gloriamos de professar".
Num tempo de "quase ditadura do relativismo", o que conta o que que a pessoa sente, gosta, quer... E o resto? E a Igreja? A igreja é para todos, mas não é para tudo!
Até porque estamos em época quaresmal, não será preferível esclareceres o miúdo, conversar com ele na verdade, ajudá-lo a crescer no espírito de Igreja? Aliás, poderá ser um dia padrinho de Crisma!
Certamente que ele um dia te agradece tê-lo ajudado a crescer, mesmo que agora possa sentir-te triste.
Há uns anos, havia uma canção com que da minha idade brincava: "Eu tenho um gozo na alma...."
Parece que o que muito cristãos procuram é zero exigências e muito gozo na alma.
A satisfação imediata, rápida, sem olhar a meios, sem compromissos nem exigências...

Aliás, penso que a Igreja deveria acabar já com essa história dos padrinhos que, mais folclore do que compromisso, só complica.

Carla Santos Alves disse...

Amigo!!!

Ouve o teu coração!
Mas que leis???
Para se fazer cumprir as leis da igreja existiu a santa inquisição...que de santa não tinha nada!!!!!!!
As leis de Deus têm por base o AMOR....nada mais!
O AMOR, fraterno, amigo,cumplice, simplesmente o AMOR.
Esse miudo vai ser padrinho por AMOR.
Por favor não deixes que se afastem da igreja por causa de leis que nem sequer percebemos muito bem!!!!!

OUtro assunto....li uma inovações que o papa quer fazer?!!!
Não percebi!!!

Bjs

Carla

Anónimo disse...

É em alturas com esta que um padre se deve sentir extremamente sozinho, questionando-se se não anda realmente a perder o seu tempo com este tipo de catolicismo...

Anónimo disse...

è por estas e por outras que muitas vezes há falta de compreensão. É só regras, leis a cumprir, mas quando se trata de decidir, queremos sempre que sejamos olhados de maneira diferente. Acho que neste caso não se deveria reger pelas leis, mas sim pelo factor se o rapaz tem ou não "capacidades" de ser padrinho. Acho que isso é o mais importante. Ou será mais verdadeiro aquela pessoa que nunca foi a igreja, nunca frequentou a catequese, mas como tem a idade, e até frequentou as reuniões de preparação (muitas delas sem fundamento) pode ser padrinho/madrinha? Temos que saber separar o trigo do joio, e acho que nesta situação não vejo qualqur impedimento do rapaz ser padrinho.

Abraço

Mafalda disse...

Desculpem, mas concordo, em termos gerais, com o post anónimo das 14h23m. A Igreja não existe «à la carte»!! Ora agora , se faz favor, se fizesse o jeitinho, o menino gostava tanto…Não se trata de burocracia, não é o Espírito Santo a soprar, não é a excepção à regra, não é uma questão de justiça….Altura virá que o rapaz será um Padrinho consciente e que compreenderá a tua decisão. Bem basta quando a Igreja tem que repensar a sua actuação em situações graves. Não é o caso. Anónimo, porquê acabar com os padrinhos?
Um abraço

Anónimo disse...

Pois...também concordo contigo Mafalda. E se vai abrir excepções...ui...nunca mais o largam. E já agora, porque não esperam que o rapaz faça o crisma e depois então Baptizam a criança?

Maria João

Elsa Sequeira disse...

Olá Amigo!!!

Eu por experiência aqui da paróquia, digo-te que sou contra o miúdo ser padrinho, nem é por ele,porque vejo que é uma criança de fé... é por ti, e não tem nada a ver com as leis da Igreja, porque há muitas com as quais eu não concordo e essa é uma delas,porque gera uma obrigação - ser-se confirmado - algo que a maioria das pessoas fazem sem ter a mínima noção do que fazem (eu fi-lo bem adulta e soube porque o fiz, no meu grupo de preparação, eramos uns vinte e um dia falavamos sobre o porquê de sermos confirmados, e as respostas foram muito parecidas... - quero ser padrinho,quero ser madrinha, fui padrinho e prometi ao padre...eu fui a última a responder e disse apenas, que eu não queria nada dessas coisas, que apenas queria em mim o Espírito Santo...eles bateram palmas, não era preciso, e eu corei...), estes que estavam comigo eram adultos...mas com os jovens a coisa também não varia muito, e sabes que há bem poucos dias tive uma situação dessas entre mãos...de um jovem que se afirmou ateu, mas que queria ser confirmado, porque poderia querer casar-se ou ser padrinho...e eu disse-lhe Não! em Nome de Jesus Cristo (fiz até post sobre isso - 07.03.07), que um ateu não tem que ser confirmado, não tem que fazer nada na Igreja, continuo amiga do jovem, falo com ele, mas há coisas que não posso permitir...por isso sou contra essa lei, porque as coisas ou são feitas de coração...ou não têm valor...
Mas como disse no inicio ...sou contra...por ti...porque hoje facilitas o João...amanhã virá o António, e o José, e a Maria e a Ana...uns terão fé...outros não...e nesse dia não adianta dizeres..."Mas..era o João! Ele era um rapazinho de fé..." porque isso não vai figurar nas estatísticas, as pessoas nem vão lembrar-se disso e vão apontar-te apenas o dedo...e já sabes como é ...depois o padre é que é o mau da fita...por aqui isso aconteceu...até os santos tremeram no Altar...e por ser tua Amiga, é que te digo - Não faças isso! -
Sei que com o teu jeitinho saberás chamar pelo coração o João e os pais, e a família toda á razão!
Tu sabes!!!

Muita força para ti, Amigo!!!
Beijinhos!
:)

Dad disse...

A "figura" do padrinho, já é esquisita e ...pronto...concordo com o Luis Carlos, nem mais nem menos!

E o espírito santo diz-me que proibições ao amor são um dos grandes pecados do mundo, venha ela de onde vier e que a dite quem a ditar.

E calculo que também não estás convencido com esta proibição, senão não a punhas por aqui a ser discutida...

Não tenho estado bem e por isso não tenho passado por aqui.
Mais uma vez gostei de descansar no banco virado para o mar.

Belíssimo fim de semana com o espírito santo a soprar, é o que te desejo.

Dad disse...

E, já agora, não queres ir ao jantar dos bloggers?

Estou a organizar e está descrito no meu Momentos de Luar.
Bom fds!

Ver para crer disse...

É interessante ver como numa questão tão pequena há logo tantas divergências de opinião.
Não há dúvida que a vida da Igreja também passa por aqui. E tem de ser o pastor a tomar uma decisão.
A lei está para ajudar a encontrar o melhor caminho.

O melhor dos blogues disse...

Meu caro Padre:
Desta vez escolhi este post para figurar em "O melhor dos blogues".
Creio que é assunto que vale a pena reflectir.

Anónimo disse...

ola

Catequista disse...

Acredito que seja difícil. Na minha paróquia a resposta seria não, mas tenho consciência que se a família realmente desejasse bastava-lhe procurar uma paróquia "vizinha" e o problema ficaria resolvido.
Verifico, como catequista, que muitos jovens só frequentam a catequese com a ideia de serem padrinhos, como se fosse uma espécie de cláusula. No entanto, o que realmente importa é perceber o significado de se ser padrinho (o qual não se traduz numa simples entrega de prendas).
Neste caso, o problema está no facto de se abrir precedentes. O João até é praticante, de certeza que sabe a sua função, mas também deve saber as regras...
Que o Espírito Santo o ilumine na decisão a tomar!

Anónimo disse...

Bem diz o povo "cada cabeça sua sentença".
As leis só existem porque as sociedades não são perfeitas. Se alguma vez tal condição for atingida passarão a ser dispensáveis, direi mais, serão um estorvo, lixo. Quem se orgulha de ser Igreja deve, em meu entender, situar-se num patamar superior maturidade e aceitar que seja/m aberta/s uma ou duas ou três excepção/ões -aquelas que o sacertote achar por bem. Invejas e ciúmes são conciliáveis com o Amor... A Justiça e a Misericórdia de Deus não é entendida por todos. Já repararam quantas vezes a questionamos? Deus não trata todos por igual e Ama todos da mesma maneira. É complicado não é? Elsa Nyny não concordo contigo neste aspecto! Mas concordo em muitos outros!:)
Sabe o que lhe digo, Padre? não vá pela cabeça de ninguém, vá pela sua. Decerto decidirá o melhor
Beijinhos

Anónimo disse...

A Fá foi minha professora de TLBII há uns anos atras e para além de uma professora excelente é um ser humano do melhor. Para além de nos entusiasmar com a matéria transmitiu-nos segurança e muita amizade. Tem aquilo que podemos chamar de paciência evangélica. Sugeriu-me aqui há tempos a passar por aqui mesmo sabendo que não tenho religião. Mas no poste anterior devia ter-se enganado. "Invejas e ciumes são inconciliaveis com Amor". Vá por ela Confessionário que vai bem. E agora Fá (desculpe trata-la assim) porque é que também não abre um blogue seu?
Bjs

Anónimo disse...

Interessante...como se a fé e a responsabilidade se medissem por anos de catequese!
Pois bem: nasci de pais casados só pelo civil; minha mãe "tinha a sua fé", mas nada de igreja; meu pai era agnóstico. Inscrevi-me, de moto próprio, na catequese (pela 1ª vez) aos 9 anos; fiz a 1ª comunhão aos 10, fui crismada aos 11 e fiz a profissão de fé aos 12. Frequentei a Pré-JEC (quem sabe o que isso é, hoje?), a JEC, a JUC...enfim, tudo somado terá chegado a 10 anos? Acho que não, porque houve interregnos. Mas foi chegando para ser catequista e madrinha, nesses tempos de menor exigência "curricular". Mau? Irresponsável? Também acho que não: a responsabilidade assumida ajudou-me a crescer, a aderir mais profundamente, a desejar servir melhor.
Mais tarde, escolhi para padrinhos dos meus filhos, pessoas com sólida formação católica (com maior "curriculum"...). Resultado? Todos - todos, vejam só! - deixaram a Igreja pelo caminho.
Meus amigos, se o menino tem 13 anos e tem fé, quando o bebé tiver 7 já ele terá 20! Quem poderá garantir que, por ser mais novo agora não será responsável? Quem poderá garantir que os mais velhos se manterão fiéis? Os diplomas de 10 anos de "escolaridade"?
No entanto, os apóstolos só estiveram com Jesus uns escassos três anos...

Anónimo disse...

Já por aí andei, cheio de convicção e igual zelo pela doutrina. Arranjei umas guerras e não sei se propaguei a misericórdia de Deus.
Numa segunda vivência paroquial, e noutra diocese, encontrei outra prática: os padrinhos sejam católicos e, ou solteiros ou casados como deve ser...
Chocou-me o cenário novo mas fiz como vi fazer.
Já não estou nem numa nem noutra paróquia. Mas vou pela segunda opção.
Na primeira diocese gere-se uma multidão de adolescentes "danados" com a catequese e ansiosos por terminá-la para poderem ser padrinhos (mais nada lhes é referência); a maioria nunca será padxrinho de ninguém e um dia destes vão concluir que andámos a engana-los.
Na segunda diocese gerem-se modestos grupos de adolescentes que por todas as razões que são belas (menos a história da habilitação para padrinho) teimam em frequentar a igreja e a catequese, simplesmente porque querem.
O direito concede ao Ordinário, ao Pároco ou ao Oficiante a possibilidade de dispensar algumas das principais referências de afirmação da ideoneidade. Logo...

Pessoalmente, e depois de muitos anos de paixão e compromisso no processo catequético, aliviaria as exigências para afirmação de idoneidade; daria mais responsabilidade aos pais.
E a nossa capacidade de aferir idoneidades é simplesmente ridícula, pela infinidade de contradições que pode gerar.

(Penso que não ficaria mal aos nossos bispos terem alguma paroquialidade nos seus currículos).