Não leva nada de mim. Mas levou. Pensamentos e outras coisas. Começou com telefonemas incógnitos. Não sabe quem sou, mas eu estou a ligar-lhe. Eu não desligava, por respeito. Nos telefonemas anónimos passou da terceira pessoa para a segunda. Como estás? A minha simpatia evitava desconfortos. Ela insistia. Perguntei quantos anos? Quarenta e quatro. Eu não alimentava conversas, mas também não despachava. Evitava atender números incógnitos. Por isso é que alguns colegas não os atendem. Vou deixar de atender. Divorciada ou solteira, ou casada, ou até viúva? Descobri que era divorciada, pelo à vontade e pelas horas dos telefonemas. Insinuou que um dia ia esperar por mim ao fim da missa, ou nas escadas da minha porta, ou no café em frente, ou na estrada mais próxima. Mas o que pretende? Pretendo-te a ti. De mim não leva nada. Mas levou. Tempo, pensamentos, curiosidades, intrigas, conflitos, desafios, imagens, desconfortos, desânimos, cansaços, perguntas, desabafos, confusões, orações. Tanta coisa que levou! Como pode alguém que a gente nem conhece, a quem nem a vontade se mostrou complacente, a quem não quisemos dar mais que um pouco do nosso telefone, levar tanto de nós? Porque é que há gente que nos pretende de uma forma que nós não conhecemos e não pretendemos? Porque é que nós não atendemos estes telefonemas de forma normal como quem atende uma necessidade de alguém que precisa da nossa vida como padres? Porque é que não atende Deus em vez de nós?
24 comentários:
Bem... complicado. Nem todos teriam a tua atitude.
Reza bastante por essa pessoa. Se calhar está a precisar de ajuda... O que me deixou mais incomodada foi essa de ir ter contigo... Nem sei bem o que pensar...
Muita força e discernimento para lidares com esta situação! Vou rezar por ti e por essa pessoa.
Juro que sempre pensei que os padres tinham uma vida muito menos solicitada?!
Afinal, tudo é muito mais "animado"!
Faço aqui um apelo aos bispos e arcebispos destes país! Criem o dogma do telefone!
Quanto a Deus não atender, eu acho que Ele tem muitas vezes as linhas ocupadas, porque há muitas pessoas que evocam o Seu nome por tudo e por nada. A minha mãe é um caso exemplar. Ora basta multiplicarmos por uns milhões e facilmente se perceberá que não há sistema de telecomunicações que aguente semelhante tráfego.
Teodora
Este tipo de coisas acontecem mesmo?!
Vocês estão expostos a cada abordagem!
Senhor padre coloque uma porta de segurança e um alarme, caso não tenha.
Essa criatura é muito estranha! Coitada.
Teodora
Caro Padre "no" Confessionário
Durante uns anos demasiado longos, (ainda não tinha deixado que Deus entrasse na minha vida), vivi de uma maneira que apesar de "estar" no Confessionário, não posso contar.
Sei bem, portanto, do que os homens e mulheres são capazes de fazer, sobretudo nesse campo.
Não me espanta, por isso, o que nos contas.
Mas, embora não precises, permite-me que te diga: Defende-te com todas as tuas forças, sê directo sem peias de qualquer espécie, porque sei por experiência própria que há pessoas que nunca querem desistir, até porque, perdoa, "o fruto proibido é o melhor" e para essas pessoas torna-se um desafio que querem ganhar.
Obrigado pelo teu testemunho, que nos aproxima de ti e tu de nós.
Rezo por ti.
Abraço em Cristo
Neste mundo tão conturbado,
não fico muito surpreendida com estas atitudes ou semelhantes.
Faço minhas as palavras da Maria João, a oraçao é imprescindivel
e muita força, para lidar com estas situaçoes!
E quem sabe, talvês o alarme não seria má ideia!!!!!
Fôrça!!!!!!
um abraço.
Leonor.
Este poste agora assustou-me, Padre! Não é que seja ingénua a ponto de ignorar que situações desta acontecem! Eu sei. Mas cuidado. Seja firme. Pessoas deste tipo pouco interessam. Tantas vidas se já desfizeram assim. Vidas de outros que, como nós, também se julgavam avisados. É certo que os sacerdotes deveriam ter direito a amar uma mulher, deveriam ter direito a ver crescer os filhos surgidos de uma relação séria e amadurecida mas nunca reduzindo a sexualidade a uma única e efémera dimensão. É o que eu penso. Sabe, já sou "cota":(
Um abraço amigo
Fá
Olá!
Que estranho, há pessoas loucas mesmo, não podia imaginar.
O melhor é rezar mesmo!
Força para ti!
:)
Esqueci-me...
Por favor arranja uns guarda-costas, e rápido!
ForÇa!
Enfim, nada de anormal. É o preço do celibato. E não acontece apenas aos sacerdotes...
Penso que vai sendo altura de tornar o celibato dos sacerdotes católicos opcional. Para os casados o assédio continua a existir, mas é normalmente mais discreto e subtil. E menos agressivo. Aguenta-se sem esforço.
Oh amigo,
estas situações são tão complicadas!
Prece impossível como é que mesmo que não queiramos certas pessoas nos "roubam" tanto tempo!
Já vivi situações parecidas e é muito incómodo!!!
Tem muita coragem e muita força!!!
Rezo por ti e que a força da oração te acompanhe sempre!!!
Um abraço!
P.S. - Passa por este blog: http://sentinelasdoamanha.blogspot.com/
Tem um desafio para ti!
Contingências da vida.
São situações que acontecem com mais frequência àqueles que, por natureza das suas funções, estão mais expostos publicamente: professores, padres, psicólogos, psiquiatras, actores, etc.
Mas não acontece só aos homens; às mulheres também. Nestas coisas não há distinção de sexos, raças, de coisa nenhuma.
Fruto duma alma solitária, de um coração despedaço, de uma vida vazia e sem sentido.
A senhora deve estar a passar por uma fase de grande carência afectiva e errou no alvo, como quase sempre acontece nestas situações.
Como todos nós tendemos a buscar o ideal (que não existe, neste mundo), quando vivemos uma vida preenchida por variados interesses que a vida nos proporciona, difilmente esses desaires acontecem.
Mas quando um grande vazio se instala, há uma tendência "cega e irracional" de o tentar preencher com o mais perto de nós que se afigure estar nos padrões que julgamos ser o ideal.
Mas, em muitos casos, não é a pessoa que amamos, mas amamos a "ideia" que fazemos dessa pessoa.
Sr. Padre, fale com ela pessoalmente, cara a cara, olhos nos olhos, com firmeza e desprendimento e não tente nunca repeli-la, pois será pior a emenda que o soneto. Leve até, se possível, o caso para a brincadeira e mostre-lhe que ela errou no alvo. Que, apesar de ser padre, não é um homem ideal; é como qualquer outro, com virtudes e defeitos.
Se pressentir que ela vive obcecada, pois aconselhe-a, de forma subtil, a fazer algumas viagens, a conhecer novos lugares e culturas - é um optimo remédio para uma grande doença.
Com o tempo, isso passa-lhe.
E pode ser, que no seu sofrimento, ela encontre a Luz que a levará a Deus e aos outros.
sem duvida essa pessoa deve precisar de ajuda e por isso te persegue incessantemente, em busca de uma urgente ajuda. deve estar desesperada e por isso se explica semelhante atitude!
mas é assustador qd vemos alguem assim. tenta acalmar essa pessoa, saber o que se passa e pq se dirige a ti dessa forma, faz-lhe ver que as coisas devem sempre ser resolvidas de outra maneira senao nao a consegues ajudar.
por outro lado é realmente uma situaçao complicada para ti, qd somos escolhidos para certas coisas que nao queremos ou julgamos nao ser capazes de resolver a situaçao torna-se incomoda e nao sabemos o que fazer e como fomos parar aquela situaçao...
Deus resolveria tudo mais facilmente, mas sabes bem que Ele podera ajudar-te a resolve-la. Reza nao so por essa pessoa mas tb por ti.
é dificil a vida de um homem...
Como disse o Joaquim, não me espanta o que contas. A frase mais banal, mas mais certeira: há gente para tudo!
Todos levamos um pouco dos outros. Aqui na blogosfera nao é diferente. não nos conhecemos, e levamos um pouco dos outros. Tempo, pensamentos, curiosidades, tudo como dizes.
Conseguiremos dar a volta a situações menos normais?!
Que Deus nos acenda mutuamente quando atendemos...
Difícil, a vida. Escola do mistério.
Bolas.
Abraço, padre.
Fiquei sem palavras!
Acontece né!
...fez-te pensar ...é normal....
Reza por ela!!!
Bjs
Carla
Acho que não é caso para ter medo, mas é caso para pensarmos nas solidões do mundo.
Pior que isso só os fulanos da PT a ligar cá para casa...
Oh!Confessionário, fico muito triste com esta história, porque eu sei o que são histórias assim, apesar de jovem, já tive uma história assim, e só te digo que é horrivel, pois a principio ele tratava-me como se eu fosse uma filha, pois era bem mais velho que eu, inclusivé era casado e com filhos, e eu era mais uma filha, pelos concelhos, pelo carinho, pela atenção, etc...até que um dia o amor de pai, passou a a mor de home e estragou tudo, queria-me porque me queria, custasse o que custasse, saíamos da cidade para outra cidade, deixava a mulher e os filhos, não queria saber de nada, queria que eu fugisse com ele, eu?????? Não! sempre lhe disse não, mas acabei por me envolver nesse amor, e embora dizendo sempre Não! acabei por sofrer muito...não me levou com ele, e ainda bem que não, mas sofri bastante; Enfim rezo por ti, rezo muito e também pela senhora que não está boa da cabeça, ir-se meter com um padre? Meu Deus!! Quanta loukura!!!!!
beijos para ti e sê:
Forte
Firme
e nada de benevolência.
mariana
Querido amigo, seu blog sempre surpreendendo!
Hepta foi muito feliz em suas palavras... Mas, será uma carência afetiva somente? Uma "doença da alma"? Não sabemos... Pode ser um sentimento maior também! Não conhecemos a tal senhora e não nos cabe julgá-la ou julgar o que sente.
Já passei e passo por coisa semelhante! Esse sentimento completou agora um ano, mas o autor de tudo isso nem imagina... Imagino eu que consigo esconder...
Nunca lhe disse nada, nunca direi, tenho uma postura firme diante dele, diante de Deus e diante de mim mesma e no que acredito.
Procuro com todas as forças tornar esse sentimento em uma linda e bela amizade, se vou conseguir, eu não sei... Rezo todos os dias e não perdi a fé.
Não esqueçamos que os Padres antes de serem "Padres", são seres humanos e portanto: Homens. Padres também choram, riem, sentem frio, calor, sede, fome, alegria, raiva, tristeza, solidão ... enfim, tudo igual ... São dignos de serem pessoas apaixonantes e pode acontecer sim! Não quero aqui julgar ninguém, mas acredito somente que essa senhora está com uma postura um tanto quanto agressiva e ansiosa. O motivo? Não sabemos.
Tantas vezes conversamos, amigo Padre, por e-mail, eu não aceitava e ainda não aceito os meus sentimentos, tantos conselhos me destes diante do meu sofrimento, justamente por não aceitar, por não entender. Cheguei a achar também que estava carente, mas tantas coisas aconteceram nesse um ano, tantas oportunidades perdi, por não conseguir esquecer e por não querer enganar outras pessoas... Então, descartei essa possibilidade. Carência somente não é. Infelizmente tem algo mais!
Amigo, te agradeço aqui mais uma vez e hoje vives algo parecido.
Isso me fez ter a certeza que o melhor que fiz e faço é ficar quieta, no meu canto, esperar mais o tempo passar e rezar, rezar e rezar... Eu ainda não o esqueci, acho até que jamais esquecerei totalmente, mas tento transformar tudo isso em um outro tipo de amor, uma bela e linda amizade! Beijos para todos, da amiga do Brasil
Porque raio há-de ser pecado uma mulher gostar/amar um padre?
EU NÃO ENTENDO, NÃO ENTENDO! (juro que já tentei, mas não consegui)
Uma coisa é a forma estranha dessa senhora se comportar, outra é o que realmente leva essa senhora a comportar-se desta forma.
É tão difícil encontrar alguém com quem gostassemos de passar o resto dos nossos dias! Porque diabo não pode ser um padre!!!
Eu não consigo perceber o que há de errado nisso... o único facto lamentável é estar a encomodar alguém que não partilha da mesma vontade e continuarmos a ver o tempo passar lentamente....
Num anónimo anterior, no 5º parágrafo, 3ª linha, onde se lê encomodar deve ler-se incomodar.
A própria
Pois....
Essa é que é essa!! Parece que não levam nada, mas acabam por levar...
São situações desgastantes. Não se pode dar corda, nem por respeito!
;)
A culpa foi inventada em Jerusalém. Mais tarde foi espalhada pelo mundo pelos cristãos. Muito da tradição judaica é sofrer as agonias da culpa sem desfrutar primeiro o prazer.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia. Jamais sentir-se que seria a culpa por todo esse desconforto, e ser gentil quando não se poderia ser.
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