segunda-feira, outubro 23, 2006

Sou contra o aborto

Um casal bonito. Por dentro e por fora. Há muito tentavam descobrir no seu seio a criança, para a família ficar completa. As tentativas eram mais que muitas. Naturais. Acompanhamento médico. Terapias. Medicação. Insemi-nação. Quando parecia que Deus estava a ceder ao seu pedido, ao seu desejo, tudo se desmorona. Já era difícil engravidar. Muito dinheiro empatado naquilo que achavam ser o mais importante das suas vidas e da sua partilha. Agora a dificuldade mantinha-se. Já não era só difícil engravidar. Tornara-se difícil não abortar. Estávamos a conversar da sua ansiedade. Que deviam esforçar-se, mas com serenidade. Que acima de tudo o mais importante era o amor que sentiam um pelo outro. Que não deviam deixar que a situação afectasse isso. Que deviam viver a vida e não deixar que ela os vivesse. Que havia sempre algumas alternativas. Curioso, pois tínhamos acabado de assistir a um programa sobre adopções de crianças com deficiência. Eram altas horas da madrugada. Mas a conversa mantinha-se oportuna e interessada. Às tantas ela surge com este desabafo. Andam aí a lutar para que o aborto seja legalizado. Andam aí tantas mães a abortar porque os não querem. E quem os quer, sofre porque os não consegue. Curioso como não falou da intervenção divina. Nem eu. Já encontrei pais bem felizes com as adopções que fizeram. Continuou. É injusta esta sociedade. Eu sou contra o aborto. Sou-o sobretudo porque acho que é uma perda quando há tanta gente que gostaria de encontrar a felicidade nos filhos que não consegue dar à luz e há quem os destrua com o argumento egoísta da felicidade. A conversa não ficou por ali. Mas o assunto sim.

a propósito visitar novo blogue com "As razões do Não"

20 comentários:

David de Sousa disse...

Não sou contra o aborto das leis dos Homens mas sim contra o aborto das mentalidades!Não nos podemos eskecer que temos que ter uma lei que nos diz que é proibido matar!Seria preciso uma lei para nos dizer isso??O aborto surgue para mim no mesmo pacote de ideias!Será preciso haver uma lei que não diga que é proibido matar crianças no ventre das suas mães??
Lembro-me agora do ICNE,em que o meu prior participou muito activamente,não será esta uma fuga à real questão?A nova evangelização terá que ser feita não em leis mas em mentalidades!Se hoje dissesem que podiamos matar eu continuaria sem matar ninguém!O nosso medo não é que a lei seja alterada é que haja pessoas que não tenham consciencia para deixar de o fazer!

O aborto tem que ser antes demais alterado em mentalidades!Cristo já dizia:"A Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é Deus"!Leis são mundanas,almas são rostos de Deus!

Fike bem...

Anónimo disse...

Infelizmente, a nossa sociedade prefere o que é mais fácil. Para quê apostar em políticas de ajuda ou na adopção? Basta fazer-se um aborto...

Não estou a dizer que todas as mulheres o fazem de ânimo leve. A maioria não o faz.

Mas não podemos pensar só na mulher. E o ser humano que está dentro dela? Há quem diga: mas ainda não é um ser humano! Errado: são células de um ser humano. Ainda não está totalmente formado, mas é uma vida que ali está.

Sou contra o aborto. Sou contra a falta de medidas de apoio a mães solteiras, muitas delas adolescentes. Sou contra a lentidão que existe nos processos de adopção.

Que Deus nos ilumine, porque, sinceramente, acho que o "sim" vai ganhar desta vez.

Lai disse...

Tambem sou contra o aborto!

Abraços
lai

Anónimo disse...

Não acredito que o sim ganhe.
Se às sete semanas já se faz a primeira ecografia é porque já há vida.
A realização do aborto para situações excepcionais já está tipificada na lei.
Temo que se algum dia isto for aprovado se torne numa forma brutal de se resolver uma situação. Será um descalabro.
Já existem métodos relativamente seguros para evitar uma gravidez indesejada. (No limite, há a pilula do dia seguinte - a qual muitas das vezes é usada com demasiada facilidade)
Creio que este processo está a ser conduzido de uma forma apressada; talvez, para que um maior número de pessoas não reflitam no que realmente isto é.
É absurdo obrigar os médicos a realizarem um acto que vai contra o seu juramento. No entanto, existem outros que fazem fortuna nas suas clínicas privadas.
Mais uma vez, constato que nada é pedido aos pais relativamente à responsabilidade de acompanhar, orientar e preparar os seus filhos para um comportamento adulto e responsável.
Diariamente, lido com crianças e por consequência com alguns pais. É triste constatar que a irresponsabilidade, a má criação, a arrogância e o nivelamente de opiniões reina num grande número de lares.
Se os médicos de família e os directores de turma deste país falassem, todos iriam saber exactamente a miséria social deste Portugal!


Teodora aos domingos

Andante disse...

Voto contra, mas a campanha pelo sim já começou e pelo não ainda está muito arrefecida.
Vá lá arregaçar as mangas, abrir o coraçaõ e ir à luta.

Beijos peregrinos

O melhor dos blogues disse...

Concordo inteiramenteGostei deste post e coloquei-o em "O melhor dos blogues".

Anónimo disse...

http://razoesdonao.blogspot.com/

Divulguem, sim?

Elsa Sequeira disse...

Olá Confessionário!!!

Esta história deste casal, lembra-me a história de um casal que conheço e que também não tem filhos...quando falo com eles sobre este assunto, vejo os olhos deles brilharem...e eu - mãe - entendo o porquê desse brilho, porque um filho é mesmo a continuação de nós próprios...parece que nunca cortaram o cordão umbilical...
Já lhes sugeri muitas vezes a adopção...mas estão sempre reticentes...não queriam bem ir por aí...e o tempo vai passando...e eles já passaram os trinta...e há tantas e tantas crianças que precisavam de um lar, de amor...mas, a adopção também implica muitos processos e muitas "voltas" a dar...o que é pena!

Sou pela vida, claro!!
Mas, não acredito em Politica!!! (desculpa!)

Beijinhos!!!
:)))

Anónimo disse...

Sabes, fiquei a pensar numa coisa, a intervenção Divina... Porquê? Porque não?

Anónimo disse...

Sabes, fiquei a pensar numa coisa, a Intervenção Divina... Porquê? Porque não?

Confessionário disse...

Anónimo, não culparam a Deus pela sua situação, em momento algum da conversa. Reconheço que isso podia ter acontecido. Há gente que culpa Deus por tudo o que de mau lhes acontece, e nunca vêm Deus presente no que de bom lhes acontece.

BLUESMILE disse...

Eu sou contra o aborto.

E também contra o simplismo e a demagogia.....
Anónimo: Não és pai, pois não?

Catequista disse...

Os anos passam e a questão do aborto surge novamente, sustentada por um grupo de políticos que teimam em levar a sua adiante.
Sou contra o aborto, não posso deixar de o ser. Para mim a vida começa no momento da fecundação. Tantos que lutam por conseguir gerar vida e infelizmente, meu Deus, sem o conseguir e outros…

Anónimo disse...

Estava na altura de ver esta problemática aqui abordada! Sim à vida, sempre! Sim, também, ao acesso a contraceptivos não abortivos!
Trabalho com jovens e tento sensibilizá-los para o valor da vida independentemente do estádio de desenvolvimento em que se encontre: embrião, juventude, velhice... Assim também se evangeliza, não acham?
Um abraço

A Flor disse...

Também sou contra o aborto.

É uma vida que não se pode defender!

beijinho da Flor, no amor de Cristo

:-D

DTS disse...

Caro Confessionário,
Convido-o a ler o último texto que postei no meu blog.
Um abraço em Cristo,
Diogo

Ana F. disse...

Meu querido confessionário,

Já há muito que não visitava o teu blogue.
Sou contra o aborto, porque, para mim, é um dos piores atentados contra a vida humana.
Se eu não me insurjo contra o aborto, não terei legitimidade para me insurjir contra nenhum outro tipo de crime! Para mim, é um dos piores que existe.
Se a mulher é criminosa? Acredito que a maior parte das mulheres que a ele recorre é mais uma vítima que uma criminosa. Criminosos são os que incitam ao aborto, considerando o feto (ou embrião) uma coisa comparável a um furúnculo, que se deve extirpar segundo a vontade do seu "dono".
Recordo que a Alemanha Nazi foi condenada no Julgamento de Nuremberga por crimes contra a humanidade, sendo o incitamento ao aborto um desses mesmos crimes.
Depois, o aborto levanta outra questão: que sociedade é a que estamos a construir? O aborto, é uma das provas mais que acabadas de uma falta de solidariedade. Quantas mulheres abortam por não terem quem se interesse por elas, e sobretudo, pelo seu bebé? Na discussão do aborto, o bebé por nascer não é tido, nem achado, mas é ele a sua príncipal vítima, já que acaba como um resíduo qualquer!
Que sociedade? Que futuro é este, que mata a esperança ainda em gestação?
Não se queixem, depois. No hope, no future!

Anónimo disse...

ABORTO [1].

Deixando de lado os aspectos científicos, médicos, sociológicos, jurídicos, religiosos, etc., do aborto - entendido como "eliminação de um ser humano no período de vida compreendido entre a fecundação e o nascimento" (S. Soares) -, apenas abordamos a problemática propriamente filosófica do aborto. Esta cifra-se fundamentalmente na dupla questão do estatuto antropológico do embrião (assim designaremos, sem ulteriores distinções - ovo ou zigoto mórula, embrião, feto... -, o fruto da fecundação) e da consequente valoração moral da intervenção abortiva provocada (por oposição à espontânea).

1. ESTATUTO ANTROPOLÓGICO DO EMBRIÃO. Que todo o aborto põe termo à vida de um ser "humano" pela origem, estrutura e orientação teleológica, i.é, de um ser vivo que virá a ser uma pessoa humana se nada impedir o processo iniciado com a fecundação, é indiscutível. No actual estado dos nossos conhecimentos, está fora de qualquer dúvida que, desde o momento da fecundação, com o estabelecimento da informação genética (graças à fusão dos 23 cromossomas do óvulo feminino com os 23 do espermatozóide masculino) começa a viver um novo ser, que é humano no referido sentido. A dúvida que para alguns subsiste é relativa ao momento em que é verdadeiramente "pessoa" e não apenas (o que é desde a fecundação) "pessoa futura" (como o designam alguns autores alemães) ou "pessoa potencial" (expressão usada pelo Comité Nacional de Ética (francês).
Em séculos passados foi bastante generalizada a opinião de que só depois de algumas semanas (40 dias para os varões, 80 para as mulheres, era opinião bastante comum) se verificava a "animação", ou seja, o aparecimento da alma espiritual e, com ela, a pessoa. Tal era a tese de "animação mediata", segundo a qual o embrião era sucessivamente "informado" pela alma vegetal, animal e, finalmente, racional. Defendiam-na, entre outros, os que seguiam a doutrina do hilemorfismo. Abandonada no século passado em favor da tese de "animação imediata" (mais exactamente se diria "simultânea com a fecundação"), a doutrina da animação mediata - ou, como hoje mais frequentemente se designa, da "hominização retardada" - voltou a ser proposta nos nossos dias (de diferentes maneiras segundo os autores), pelo menos como solidamente provável.
Baseiam-e os seus defensores no facto de se poderem distinguir, no processo que se inicia com a fecundação, certos momentos de importante relevância quanto ao estatuto antropológico do embrião, devido à 'descontinuidade' que significariam nesse processo. Assim, porque até à nidação é possível o facto da 'gemelação' ou formação de verdadeiros gémeos (univitelinos), quer natural, quer artificialmente provocada, quando a fecundação se verifica 'in vitro' (FIV), concluem alguns ser duvidosa a plena individualidade do embrião e, consequentemente, o seu carácter pessoal nesse estádio. Invocam outros o 'grande número' de abortos espontâneos que se verificam nesses primeiros dias, facto que, segundo eles, torna improvável que os embriões assim perdidos sejam já pessoas. A existência e actividade do 'sistema nervoso' central é invocado em paralelo com o facto de se considerar morta qualquer pessoa em que tal actividade cesse irrecuperavelmente. Julgamos que a paridade das duas situações é quase nula, não podendo por isso fundamentar sólidas dúvidas quanto ao carácter pessoal do embrião antes do momento referido. Menos concludentes ainda nos parecem outros momentos apontados, tais como aquele em que a mãe começa a 'sentir' os movimentos do filho (ao redor das 20 semanas) ou aquele em que o feto se torna 'viável', i.é, capaz de viver independentemente da mãe (momento difícil de determinar e que vai sendo progressivamente mudado com o aperfeiçoamento das incubadoras), ou o da 'aceitação' por parte dos adultos, ou o do 'nascimento'...
Em nossa opinião, constituem 'válidas' razões de dúvida positiva quanto ao carácter pessoal do embrião até ao momento da nidação os dois primeiros apontados, sobretudo o primeiro.

2. AVALIAÇÃO MORAL. Desde o momento em que o concebido é pessoa, qualquer aborto tem a malícia moral do homicídio, agravado pela impossibilidade de defesa e pela inocência do agredido. Pelo acima dito, tal se verificará desde a nidação e, provavelmente, desde a fecundação. Ora, esta probabilidade basta para obrigar a uma 'posição tuciorista': dado que provavelmente se trata de uma pessoa, é certo não ser lícito pôr arbitrariamente termo à vida do embrião, desde o momento da fecundação, devendo, antes, respeitar-se como (se fosse) uma pessoa.
Apenas em certos casos de conflito de valores poderá admitir-se a licitude moral da intervenção. Sem descer a pormenores casuísticos, só pareceriam justificar-se: (i) a eliminação do embrião morto ou virtualmente tal (mola hidatiforme, anencefalia - casos em que é impossível a vida pessoal); (ii) a ablação de útero canceroso, grávido de embrião ainda não viável; (iii) alguns acrescentam os casos em que, por se encontrar em perigo iminente a vida da mãe (p.ex., no caso de gravidez ectópica) e, consequentemente, a do próprio filho, ainda inviável, apenas se pode salvar a vida da mãe. Fácil é de ver que (i) não é, propriamente falando, um aborto; (ii) não é aborto directo. Quanto a (iii), os argumentos contra a justificação moral da intervenção são muito ponderosos. Todas as demais chamadas "indicações" de aborto - terapêuticas, eugénicas, humanitárias, sociais, económicas - não constituem razões eticamente válidas para justificar a intervenção abortiva.

Roque Cabral.

[1] In: "Logos. Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia", vol. 1, Lisboa 1989, cols. 15-18.

Anónimo disse...

NOTÍCIA DO DIÁRIO DIGITAL / LUSA [1]


I - A TESE DE FINA D’ARMADA SOBRE O ABORTO.

"ABORTO: DEFENSORA «SIM» DIZ PARA DEUS MÃE VALE MAIS QUE FETO.

"A historiadora Fina d`Armada, defensora do «sim» no referendo ao aborto, citou hoje a Bíblia para garantir que «Deus atribui um mero valor pecuniário ao feto e deixa claro que a vida da mãe é mais importante».
"«Ao estabelecer com Moisés o Código da Aliança, no Monte Sinai, Deus determina, entre outras leis, que quem 'ferir uma mulher pejada, e for causa de que aborte, mas ficando ela com vida, será obrigado a ressarcir o dano que pedir o marido e os árbitros julgarem'», referiu à Lusa Fina d`Armada, citando o Êxodo.
"Continuando a citação (Capítulo XXI, versículos 22-25), a historiadora e mandatária do Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo Sim considera ainda que Deus diferencia a importância da vida do feto em relação à da mãe.
"«De acordo com as instruções dadas por Deus a Moisés, quem levar uma mulher a abortar terá de pagar apenas uma indemnização, mas caso a agressão lhe provoque danos o seu autor 'dará vida por vida, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, pisadura por pisadura'», disse. «Para Deus, a vida da mulher valia outra vida, o feto tinha apenas valor económico», disse Fina d`Armada, vencedora em 2005 do Prémio Mulher Investigação Carolina Michaelis Vasconcelos, que utilizou para as citações uma edição de 1852 da Bíblia, elaborada pela Tipografia Joaquim Germano de Sousa Neves […]"


II - CRÍTICA DA TESE DE FINA D’ARMADA SOBRE O ABORTO.

1) Sobre a fonte da citação. – Fina d’Armada sabe (ou devia saber) que a edição de 1852 da Bíblia, elaborada pela Tipografia Joaquim Germano de Sousa Neves, não tem rigorosamente valor nenhum como fonte histórica.
Se queria citar trechos da Sagrada Escritura duma fonte minimamente fidedigna, deveria tê-lo feito, p.ex., da excelente "Bíblia Ecuménica" (sim: ecuménica!!!), à venda - e a baixo preço - numa das livrarias da especialidade que por aí abundam...

2) Sobre a citação. – Fina d’Armada sabe (ou devia saber) que a citação está, pura e simplesmente, errada porque está mal traduzida na tal edição de 1852 da Bíblia, elaborada pela Tipografia Joaquim Germano de Sousa Neves.

A tradução correcta do texto que cita é a seguinte:
(i) (Em língua portuguesa) Ex 21: - "22. Se homens em briga ferirem uma mulher grávida, mas a criança nascer sem problema, será preciso pagar uma indenização, a ser imposta pelo marido da mulher e decidida por arbitragem. 23. Mas se acontecer dano grave, pagarás vida por vida, 24. olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, 25. queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão." [2]
(ii) (Em língua castelhana) Ex 21: - "22. Si en riña de hombres golpeare uno a una mujer encinta haciéndola parir y el niño naciere sin más daño, será multado en la cantidad que el marido de la mujer pida y decidan los jueces; 23. pero si resultare algún daño, entonces dará vida por vida, 24. ojo por ojo, diente por diente, mano por mano, pie por pie, 25. quemadura por quemadura, herida por herida, cardenal por cardenal." [3]

Em suma, a tradução correcta do texto citado por Fina d’Armada,
- não é: "Quem ferir uma mulher pejada, e for causa de que aborte, mas ficando ela com vida será obrigado a ressarcir o dano que pedir o marido e os árbitros julgarem; mas caso a agressão lhe provoque danos o seu autor dará vida por vida, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, pisadura por pisadura",
- mas é: "Se homens lutarem, e acontecer que venham a ferir uma mulher grávida, e esta der à luz [a criança] sem nenhum dano, eles serão passíveis de uma indemnização imposta pelo marido da mulher, e que pagarão diante dos juízes. Mas, se houver outros danos [para o marido, para a mulher, para a criança…], urge dar vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe."

3) Sobre a interpretação da citação. - Fina d’Armada sabe (ou devia saber) que a interpretação da Sagrada Escritura se destina a descobrir a intenção dos autores sagrados, e que, para tanto, é preciso ter em conta, nomeadamente, as condições do seu tempo e da sua cultura, os "géneros literários" em uso na respectiva época, os modos de sentir, falar e narrar correntes naquele tempo.

Em Israel, os filhos eram uma bênção do casamento. A esterilidade da mulher era um opróbrio e como que um sinal de maldição divina: tanto a esterilidade enquanto pura e simples infertilidade como a esterilidade enquanto incapacidade de evitar o aborto natural. Por isso mesmo, pouco depois do trecho citado por Fina d’Armada, lê-se:
(i) (Em língua portuguesa) Ex 23: "25. Se servirdes ao Senhor, vosso Deus, Ele abençoará teu pão e tua água. E afastarei de ti a doença. 26. Em tua terra não haverá mulher que aborte ou seja estéril. Eu te darei toda a tua parte de dias." [2]
(ii) (Em língua castelhana) Ex 23: "25. Servirás a Yavé, tu Dios, y El bendecirá tu pan y agua, y alejará de en médio de vosotros las enfermedades, 26. y no habrá en vuestra tierra mujer que aborte ni estéril, y colmaré el número de tus dias." [3]

Confirmam-no, entre muitas outras passagens da Bíblia, as seguintes: Gen 16, 2; 17, 19; Jz 13, 2-3; Job 24, 21; Sl 113, 9; Prov 30, 16; Lc 1, 7.36; 23, 29; ...


III - OBSERVAÇÕES FINAIS.

Não imagino (não consigo imaginar…) que credibilidade merece uma historiadora que ignora (ou finge ignorar) de forma tão grosseira as regras mais elementares da ciência de que se afirma ser especialista: a História.
A realidade nua e crua é que – neste assunto como no das aparições de Nossa Senhora em Fátima e noutros do género – a historiadora Fina d'Armada não sabe o que diz... nem sabe o que faz! Que tristeza!...


[NOTAS]

[1] 27-12-2006 - 14:27:00.

[2] Transcrita de "A Bíblia. Tradução Ecumênica", São Paulo 1996.

[3] Transcrita de Nácar/Colunga, "Sagrada Bíblia. Version Directa de las Lenguas Originales", 37ª ed., Madrid 1985.

Anónimo disse...

ACÓRDÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL Nº 85/85, DE 29 DE MAIO DE 1985 [1].

[SUMÁRIO:]
Não declara a inconstitucionalidade dos artigos 140º e 141º do Código Penal, na redacção que lhes foi dada pelo artigo 1º da Lei nº 6/84, de 11 de Maio, bem como dos artigos 2º e 3º desta mesma Lei, que excluem a ilicitude em certos casos de interrupção voluntária da gravidez.

PROCESSO: Nº 95/84.
REQUERENTE: Provedor de Justiça.
RELATOR: Conselheiro Vital Moreira.

[...]

DECLARAÇÃO DE VOTO [DE VENCIDO:]
Entendo que as normas que excluem a ilicitude em casos de interrupção voluntária da gravidez violam o artigo 24º da Constituição. Tenho como líquido que a protecção da vida exige o instrumento da penalização, nomeadamente, nos casos de impossibilidade material de defesa própria.
As normas em apreço são alguma coisa como despenalizar o homicídio relativamente a quem age, invocando a legítima defesa, contra a vida de um ser humano amarrado de pés e mãos. - Costa Mesquita.

[1] In: "Acórdãos do Tribunal Constitucional", 5º vol. (1985), Lisboa 1988, págs. 245-76.

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