Grande festa. Grande procissão. Várias promessas. Vários andores. Um com um peso enorme, cimentado para equilibrar a cruz do Senhor que é pesada e verga. Necessidade de quatro homens possantes. Uma promessa de quem sofre. A senhora tinha sido tratada com radiações por causa de um tumor. A médica, soube-o, pedira para ter cuidado com o sol e com esforços, porque está debilitada. Mas teima em prometer levar o referido andor. A família não concorda. Mas aceita. Ninguém concorda, mas todos aceitam. Eu também não, mas faço-me despercebido. Não foi a minha melhor atitude, e até se pode achar que foi para me facilitar a vida dos meus problemas. Podia ter sido duro, tirano. Optei por perceber os porquês e por permitir que a família resolvesse aquilo que devia. Eles eram afectivamente os principais interessados. Nada. Na hora ela lá estava com a sua promessa para cumprir. Escusado será referir a confusão, apesar de conformada, dos outros carregadores do andor. Eles é que carregaram com o peso, mais desiquilibrado, pois claro, até porque ela tinha dimensões diminutas em relação a eles. Um outro ofereceu-se para dar uma mãozinha. E assim foi a promessa cumprida. Graças a Deus que a senhora continua de saúde. Ou melhor, não consta que tenha piorado, que a sua saúde já não era das melhores.
No entanto decidi falar com os novos mordomos. A pensar no próximo ano e nas próximas promessas. E se fossem quatro promessas como esta? E se ela tivesse adoecido? Quem assumia as responsabilidades? E que dizer das consequências para os outros três carregadores? E se a senhora soçobrasse a meio do trajecto? O que poderia ter acontecido? Que desfecho teria o andor? Ou as pessoas mais próximas do mesmo? Quem assumia as responsabilidades?
Eles compreenderam, o que não significa que as outras pessoas venham a entender. Tratei com estes apenas pormenores práticos, que é só esses que a maior parte das pessoas entende. Não falei dos morais ou evangélicos. Esses ainda me confundem mais.
No entanto decidi falar com os novos mordomos. A pensar no próximo ano e nas próximas promessas. E se fossem quatro promessas como esta? E se ela tivesse adoecido? Quem assumia as responsabilidades? E que dizer das consequências para os outros três carregadores? E se a senhora soçobrasse a meio do trajecto? O que poderia ter acontecido? Que desfecho teria o andor? Ou as pessoas mais próximas do mesmo? Quem assumia as responsabilidades?
Eles compreenderam, o que não significa que as outras pessoas venham a entender. Tratei com estes apenas pormenores práticos, que é só esses que a maior parte das pessoas entende. Não falei dos morais ou evangélicos. Esses ainda me confundem mais.
10 comentários:
Porque não, numa próxima homilia, enquanto o tema está na memória de todos, (ou então um tempo antes das próximas festas), fazer uma "catequese" sobre as promessas que se fazem e nomeadamente a "de transportar o andor", até por causa do exemplo que dá de poder haver 4 pessoas doentes a fazer esse tipo de promessa, e então quem o transportará?
sabemos que em relação a promessas as pessoas têm muitas vezes "as orelhas moucas", mas vale a pena tentar.
Abraço em Cristo
Joaquim, curiosamente, no dia a seguir, e antes de outra procissão que daria que falar, o tema da conversa andou à volta das promessas e do que agrada a Deus. Achas que resultou? Imagina o que aconteceu a seguir...
Pois, acho que as pessoas não sabem que Jesus prefere a misericórdia ao sacrifício.
Elas não fazem por mal, mas de facto deveria haver mais formação e informação sobre o que se deve prometer.
O Sr. Padre deveria falar do assunto, mas não sei se deve ser agora a seguir à procissão, porque todos se vão lembrar da senhora e ela própria poderá sentir-se mal com isso.
Não sei... Que Deus nos ajude a tomar as melhores decisões. Às vezes é tão difícil, mesmo conhecendo a Sua Palavra.
bjs em Cristo
"Deus em tudo e sempre"
Meu querido padre,
dois mil anos depois, percebeu-se o significado da Encarnação? A Igreja (hierarquia) tem feito o esforço necessário para o fazer entender?
Amanhã, vou colocar um post que tem muito a ver com este assunto. Não é a sra que quis levar o andor que o vai perceber, mas espero que o percebas tu, padre.
Com todo o respeito que todas as pessoas me merecem, gostava que a Igreja não fosse pródiga a administrar "placebos" e atacasse o mal pela raíz.
E nem sequer me podem acusar de estar a falar de cor, que de angústias várias, têm sido feitos estes meus dias.
A fé é a coisa mais séria da nossa vida, vê-la medida em pesos de santos levados em procissões, dá-me uma tristeza imensa. E ver uma hierarquia que paulatinamente compactua com isso, dá-me raiva. Isto não se direge específicamente a ti, meu amigo. És um elo na cadeia. Se te recusas à procissão, logo um colega do lado, vai prontamente satisfazer o povo.
Que Deus nos ilumine a todos. E que a tua paroquiana, descubra que Deus é Amor e não está á venda com promessas e sacrifícios.
Caro Confessionário, Paz e Bem.
A mim faz-me impressão as pessoas fazerem promessas. De facto, acho que pode até ser visto como um negócio: Eu faço isto, e tu concedes-me aquilo.
E isso, lembro, era típico dos pagãos, que sacrificavam coisas e atitudes aos seus deuses. E uma coisa que está patente na mensagem de Jesus é que Deus é todo Misericórdia, e perdoa-nos e ajuda-nos sem querer nada em troca. Ou melhor, querendo a Salvação da nossa alma.
Um abraço em Cristo, de quem espera a resposta ao e-mail ;)
Diogo
PS MARIA JOÃO, podias por o teu perfil público? É que gostava de saber qual o teu blog...
Apesar de Deus não querer isso, o povo "teima" em fazer promessas dessas. Penso que tem a ver com a cruz de Cristo, salvo melhor opinião, isto é, Cristo sabia que tinha que carregar a sua cruz para bem de todos, e carrego-a. Assim, também quem passa por aflições faz promessas desse género. Não apoio mas também não condeno, já que a Fé move montanhas.
Procissões, andores, sacrifícios, sou contra, mas é o que as pessoas querem:
1 - ver passar a procissão para comentar - as flores, o dinheiro investido e as fatiotas...
2 - mostrar-se e ser vista como pessoa cumpridora qual flagelante medieval em tempo de crise - leia-se, peste.
Também me integro em procissões mas quase sempre sou eu que levo o carro ao início e depois vou levá-lo à igreja ou capela onde termina.
É uma atitude cómoda e bizarra, eu sei. Mas gosto pouco de me ver comentada... Será que esta não é uma atitude cristã? Não sei, mas é isso que faço.
Há, contudo, uma procissão que me bate cá dentro e, essa sim, de grande significado. Não leva andores, não leva banda de música, não leva fanfarra. É o procissão do Corpus Christi. Ali não há competição, é feita ao anoitecer, e não há histórias, nem anedotas, nem histórias cruzadas, nem risota.
Já o disse ao meu pároco e ele concordou comigo. Essa é a procissão das procissões pois vai ali o Rei dos reis.
Fugi ao que escreveste, mas dá para entender que não concordo nada com a atitude de carregar o andor, estar sempre a parar porque magoa e faz-se isso para pagar uma qualquer negociata, muitas vezes desonesta, de uma qualquer coisa que aflige.
Não negoceio com Ele, apenas converso...
Beijos peregrinos
Padre, vou confessar uma coisa, já que entrei no confessionário: não gosto de padres. De forma geral, claro, e por razões bem particulares, não gosto de alguns.
São alguns deles que mais incomodam e atrapalham a minha vontade de ir à missa. O que parece ilógico. Mas eu gosto de reflectir, de sentir, de pensar, de me elevar, de orar. E de cantar. Não gosto é que alguns padres aproveitem o seu tempo de antena, quando mais ninguém se pode pronunciar, para dizerem baboseiras.
Uma vez, pouco depois de ter perdido um irmão muito amado, ouvi o padre da minha aldeia dizer que os pais não queriam dar filhos a Deus (vocações sacerdotais, era o tema) e depois Deus vinha e tirava. (!!??) Isto numa comunidade de gente martirizada por morte de gente muito jovem! (Foi uma época negra, aquela!)
Há mais tempo ainda, trabalhava eu como telefonista num Seminário e recebo um telefonema do Hospital A. Havia um moribundo que desejava receber a extrema unção. Embora pessoalmente eu entenda que o diálogo é sp entre Deus e o moribundo, que o padre se dispensa, a minha convicção pouco interessava e eu não descansei enquanto não encontrei um padre. Passeava-se ele pelos jardins do Seminário. E a resposta à minha interpelação aflita: "Eu sou capelão do hosdpital B., não do A. Esqueça." E esqueci.
..............
Isto foi a despropósito, eu sei. Eu gosto muito de vir aqui. Gosto de ter fé. Gosto de acreditar que Deus está comigo. Mas tinha que lhe dizer que duma forma geral não gosto de padres. E generalizar é promover a general todo o batalhão...
O desespero por que passam muitas pessoas leva a que por vezes façam promessas que podem pôr em causa a sua saúde, como por exemplo ir a Fátima a pé.
Na minha terra existe um procissão muito grande - 23 andores. O maior de todos (santa padroeira) tem de ser transportado por 12 homens. A maior parte das pessoas que os transportam não o fazem por promessa, mas sim por estarem disponíveis para colaborarem na realização desta festa. Talvez o verdadeiro problema esteja na mentalidade das pessoas, na crença de que Deus só nos concede uma graça que se dermos algo em troca. Mas para isso não temos a oração e a nossa fé?
Olá Confessionário!!!
Ainda bem que não te meteste no assunto...porque senão é que ia ser o bom e o bonito!!!
Quanto ás promessas...não gosto muito de "transações comerciais" com Deus...não é justo...mas, penso que deveriam direccionar as promessas mais para a caridade, do que para o sacrificio...
Beijinhos!!!!
1 abraço!!!
Sorri sempre!!!
:))))
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