Estão a imaginar. Uma daquelas senhoras de secretaria. Nova. Mãe de uma criancita. Muito zangada com Deus. O pai morrera há uns dias. Doença incurável. Pelo menos aos humanos. Gesticulava com nervos, mas, ao mesmo tempo, com alguma doçura. Queria perceber o que acontecera. Por isso falava comigo. Por isso viera ao confessionário. Ela prometera ir a Fátima a pé, 10 voltas à capelinha de joelhos, 10 velas para arder. E nada. Deus não a ouvira. Devia estar muito ocupado, dizia. Ou fizera de conta que não ouvia. Pedia-me para a ajudar a entender. Peguei naquela passagem do leproso que “ao ver Jesus, caiu de rosto por terra e suplicou: Se quiseres, podes curar-me”. Conhecem de certeza. Depois anui: esta deve ser a atitude de quem pede. O senhor da lepra não tinha saída. Fim à vista. E uma atitude humilde. Se Tu quiseres. Eu quero muito. Mas só se for essa a Tua vontade. Se for esse o projecto que Tens para mim. Tu é que sabes. E foi curado. Não quer dizer que a senhora não tivesse uma atitude humilde também. Mas é a postura final. A vontade de Deus. Já imaginou se Deus fizesse todas as vontades?! Da forma como alguns desejam mal a outros, imagine! E a idade que alguns teriam hoje?! O leproso abeirou-se de Jesus e fez um pedido como quem sabe que não pode, como quem sabe que está nas mãos de Deus. Nós, costumamos abeirar-nos d’Ele. Muitas vezes só nessa ocasião. E exigimos, revoltamo-nos, fazemos negócio. Será que Ele se pode comprar?! Será que Ele gosta de ser confundido com o bombeiro?!
Partiu com as lágrimas com que vinha. Mas mais aliviada, a senhora.
Partiu com as lágrimas com que vinha. Mas mais aliviada, a senhora.
19 comentários:
engraçado... como toda a gente se esquece facilmente do livre arbítrio. pelo que percebi quando andava na catequese (sim... eu andei na catequese!) Ele vê-nos e ama-nos, mas não interfere nem intercede...
Ele sabe o que faz.
Mas à vezes, por não fazer o que queremos que Ele faça, parece-nos que não sabe.
E em momentos mais difíceis é que nos custa mais a acreditar que Ele sabe o que faz. :-(
"Fátima a pé, 10 voltas à capelinha de joelhos, 10 velas para arder" e querias que Deus a ouvisse?
Lord have mercy...
Não é fácil falarmos/pedirmos sem ser egoístas.
Quantas vezes já todos pedimos algo a Deus quando precisamos, mas nos esquecemos de agradecer quando algo de bom nos acontece? Eu sei que já o fiz muitas vezes. E sei que não está bem, que não era assim que deveria ser. Quando posso (ou será, lembro?) evito. Não evito pedir, evito esquecer de agradecer. Pedir, para mim, faz parte da fé. Agradecer também.
Coisa complicada esta das promessas em troco de...
São resquícios dos cultos da antiguidade em que Deuses ferozes pediam o sangue como preito de fé...acho que ainda hoje há muito disto. No fundo é uma imagem, um pouco mais sofisticada de quem anda pelas cartomantes, videntes, etc...à procura de milagres. É um bocado aquela fé do "faz que eu te pago , ou melhor, se me fizeres eu pago-te!" No fundo não são as pessoas que têm a culpa, aí a Igreja alimentou durante séculos esta crendice do toma lá dá cá. O discurso agora é outro, mas até ao lavar dos cestos...é vindima...
Vai levar muito tempo até que a Fé subsista por si própria, sem essas chantagens emocionais perante as perdas, como se Deus fosse umas vezes bom e outras tirano.
Isto há-de mudar, eu tenho fé.
Cá está! É isto!
para mim, grande lição, obrigada!
E é assim, que todos os dias me levanto e digo com o sorriso: Deus está comigo! Que seja o que ele quiser.
=)
E isto: "Digo-vos pois: pedi e dar-se-vos-á; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede recebe, quem procura encontra e ao que bate abrir-se-á." Lucas 11, 9-10
Sei que devo ser mais maduro na minha fé... nem sequer é uma questão de maturidade, penso... mas talvez de... fé a sério...
Mas então porque nos diz para pedirmos? Bem sei que nesta pequena citação, o pedir aparece juntamente com o procurar e o bater... tenho para mim que isso não é por acaso...
Mas se pedimos e vamos à procura, porque não encontramos...?!
Serão os meus olhos que estão tão fechados?
Será egoísmo?
Será dificuldade em perceber o que é importante?
...
Sabe bem vir aqui... mesmo que seja com muito pouca assiduidade... sabe bem...
Um abraço!
Nunca percebi esta história de pagar promessas com idas a pé a Fátima... O Mundo fica melhor por alguém ir a pé a Fátima ou outro santuário qualquer? Se for de carro já não vale?
Pessoalmente, sinto-me mais realizada como cristã se ajudar alguém que precise do que fazer uma romaria que mais parece uma prova de resistência...
Vi ontem o filme o Evangelho de São João, e recordo aqui isto. Lázaro que Jesus prezava tinha morrido e Jesus ressuscitou-o, no entanto voltou a morrer... Quanto à ida a Fátima mesmo que fosse lá a fazer o pino, não acredito que Deus fosse alterar fosse o que fosse. Isso apenas mostra o tipo de Fé que essa mulher tinha uma Fé muito distorcida de valores reais do Amor de Deus, mas não acredito que ela tenha culpa, terá a Igreja, o ambiente que a rodeou e a educou nessa Fé. No entanto temos de respeitar, porque bem sei que perante o desespero da doença e da morte quem não tentaria tudo?
é complicado explicar isso ...!
e nos momentos dificeis sentimo-nos perdidos porque não compreendemos porquê!
esse é o momnto das pegadas na areia!
Bjs
CArla
Caro confessionário e restantes.
Já não sei quem dizia que era quase blasfémia, pensarmos que sabemos melhor que Ele o que melhor é para nós.
Mas, tal como o texto diz, desde que a intenção final seja “fiat”! – podemos dizer-lhe o que nos vai na bolha e na alma.
E é o que nos vale, senão rebentaríamos, com a vida e com a morte.
Quanto aos negócios, nunca são com Deus; a mortificação dos sentidos e as acções sacrificantes têm como fundo a reconstrução de si próprio na conformidade desejada com uma vida cristã. Negócios e contratualidades, são sempre com o outro, isto é, são mesmo dos diabos…
Enfim, como diz o Joincanto: Lord have mercy - e de nós todos.
Sei lá.
Abraços.
Confessionário,
Ainda bem que ela esteve um bocadinho a conversar consigo.Ainda bem.
Sou contra os negócios deste tipo. Deus é Deus, nada de confusões, eu te dou isto emtroca Tu me dás aquilo... É mesmo dos diabos... Deus escuta sempre, e penso que nós temos manifestar sobre Ele a nossa Fé, acreditando ANTES de acontecer. Mas, a vida tem um fim e não duraremos eternamente senão com Ele. É preciso ter presente que a morte significa afastamento neste mundo, mas a passagem para a eternidade, para junto d'Ele. O drama da morte é pois artificial... Eu na minha Fé penso assim. Curiosamente tenho um texto sobre isso no meu blog e gostava da sua crítica.
Um abraço, Henrique
Gambozina... pedir não só é bom, como é óptimo. Lembrava o João: Pedi e dar-se-vos-á. Agradecer tb. Mas o pessoal esquece-se mais facilmente.
Mas o problema verdadeiro está na forma como pedimos. Aliás, não pedimos: exigimos.
Pode até ser um momento de fraqueza. Por isso se perdoa. Mas não podemos deixar de ajudar a perceber como funciona Deus...
Ó Luz, se soubesses as vezes em que me deparo com gente de missa e gente de fé que se cruza com essas coisitas dos cartomantes, das bruxas e das sessões espiritas!!!
Nem sei bem como lidar com isto. Já não é a primeira vez que encontro certas fotocópias nas minhas igrejas paroquiais!!
Sonhadora... tale qual!!
Coisas da Tony, claro que é bom sonhar (desde que saibamos o limite entre o sonho e a realidade) e é natural que as pessoas reajam de maneiras diferentes e tenham de superar etapas. Tb devemos compreender, como dizia o Postdivulg. Mas isso não deve levar-nos a aceitar que as coisas sejam assim. Não pode. Como dizes, formação!
Ahhh, outra coisa: era o pai e não o marido! Foi só para terminar com um sorriso!! Hehe
Sónia, somos únicos. Mas não somos os únicos!
Ivan, andaste na catequese?!! Hummm. Senão marcávamos já na agenda!
Deus... o ser que a todos quer bem... e depois quando o mal nos rodeia, passa a ser um Ser que não quer saber de ninguém e que deixa cada um ao sabor dos dias, das horas, do finito!!
tenho a ideia que tudo está no livre-arbitrio, como escreveste no teu texto "deus não quer ser confundido com um bombeiro!". Mas também, em altura de incêndio quem se procura?
Impressão, eu não digo que não devamos pedir aos bombeiros que paguem os nossos fogos. Digo que devem apagar... mas dentro das suas possibilidades! Não das nossas exigências. E acredita que já assisti a um pânico generalizado que não deixava os bombeiros cumprirem as suas tarefas, tal eram as exigêcnias!
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