Vieram ter comigo após a eucaristia. Quatro filhos. Casados. Com filhos. Foi o médico, senhor padre. Disse para nos prepararmos. Se pudesse passar lá por casa. Extrema Unção. No meio da dor e do sofrimento, ainda emendei. Unção dos Doentes. Ou como seja, disseram. Penso que já nem sabiam o que pediam. Certo que a idade era avançada. Mas a mãe deles estava para partir. Dói sempre. Ainda me lembro bem da minha. Como se fosse hoje.
Então fui. Pela tarde. Uma tarde cinzenta, que está frio. Estavam uma série de netos com ela. Sempre bem rodeada, que isto do amor transparece e chama. Um quarto apertado. As filhas fora do quarto a chorarem. Entrei a sorrir. Que contraste! Mas é assim que devemos encarar. É assim que devemos animar. Entrei no quarto. Oh que alegria, senhor padre. Não tenho podido ir à Igreja. Ajoelhei-me. Era mais fácil para falar. Para escutar. Para estar próximo das suas palavras e do seu coração. Não foi propriamente para rezar ou me armar em santinho. Sorrio. A cara está mirrada. Clara. Amarelecida. Mas ela sorri. Depois de umas conversas animadas, perguntei: quer receber a Unção. Claro que quero. Saíram todos para ela se confessar. Não que fosse necessário. Mas era para falarmos à vontade. Longos minutos. Foi tão bom para mim! O que ela me disse. Melhor, o que ela insinuou da fé, da vida, da alegria, do amor. Estou aqui à espera. Dói um pouquito. Mas é quando Ele quiser. Falou de Deus. Que já não conseguia comungar. Só um pedacito. Que mal engolia. Comia pouco. Ou nada quase. E sorria. Se sorria. Beijava-me. Eu também. Contava das suas histórias de quando ia à Igreja. Que não conseguia andar. As pernas, malandras, não queriam. Que tinha ali as suas alegrias, os filhos e os netos. Já tenho bisnetos, senhor padre. E que rezava por mim. Cumpria uma promessa antiga. Tanta coisa bonita que os minutos passaram a correr.
No final, depois de tudo, depois de conversar com os filhos e netos para lhes explicar o que faz a fé, o que ajuda nestes caso, despedi-me dela. Volte mais vezes, senhor padre. Ela pedia, e eu é que saía dali cheio de Deus. Voltei lá logo passados quatro dias.
Então fui. Pela tarde. Uma tarde cinzenta, que está frio. Estavam uma série de netos com ela. Sempre bem rodeada, que isto do amor transparece e chama. Um quarto apertado. As filhas fora do quarto a chorarem. Entrei a sorrir. Que contraste! Mas é assim que devemos encarar. É assim que devemos animar. Entrei no quarto. Oh que alegria, senhor padre. Não tenho podido ir à Igreja. Ajoelhei-me. Era mais fácil para falar. Para escutar. Para estar próximo das suas palavras e do seu coração. Não foi propriamente para rezar ou me armar em santinho. Sorrio. A cara está mirrada. Clara. Amarelecida. Mas ela sorri. Depois de umas conversas animadas, perguntei: quer receber a Unção. Claro que quero. Saíram todos para ela se confessar. Não que fosse necessário. Mas era para falarmos à vontade. Longos minutos. Foi tão bom para mim! O que ela me disse. Melhor, o que ela insinuou da fé, da vida, da alegria, do amor. Estou aqui à espera. Dói um pouquito. Mas é quando Ele quiser. Falou de Deus. Que já não conseguia comungar. Só um pedacito. Que mal engolia. Comia pouco. Ou nada quase. E sorria. Se sorria. Beijava-me. Eu também. Contava das suas histórias de quando ia à Igreja. Que não conseguia andar. As pernas, malandras, não queriam. Que tinha ali as suas alegrias, os filhos e os netos. Já tenho bisnetos, senhor padre. E que rezava por mim. Cumpria uma promessa antiga. Tanta coisa bonita que os minutos passaram a correr.
No final, depois de tudo, depois de conversar com os filhos e netos para lhes explicar o que faz a fé, o que ajuda nestes caso, despedi-me dela. Volte mais vezes, senhor padre. Ela pedia, e eu é que saía dali cheio de Deus. Voltei lá logo passados quatro dias.
20 comentários:
espero conseguir ter essa lucidez quando for a minha vez. de saber o que realmente importa e interessa.
Gostava de poder estar assim, como esta senhora, quando Deus me chamar. Com muita fé, rodeada daqueles que amo e preparada para ir."É quando ele quiser".São poucos os que não se deixam abater com o prenúncio da morte e esta senhora é um exemplo de fé e aceitação para todos.
Esta história comoveu-me muito, porque quase pareceu o que me aconteceu sábado quando partiu o meu avô ( http://lacosazuis.blogs.sapo.pt/arquivo/924264.html ) Não tenho dúvidas que qem tem Fé e sente que está a partir tudo o que for uma aproximação a Deus sabe bem, é um alívio... Não sei explicar... O meu avô sempre esteve próximo de Deus e sempre rezou uma oração que pedia "juizo e entendimento até a´hora da morte" e assim foi, pouco antes de morrer disse a uma prima minha que teinha visto o seu filho que faleceu a um ano e que via luzes. No dia a seguir morreu. Ele não era doido, nem eu sou,... acredito que nesse momento ele sentia a sua partida e que de facto estava próximo de Deus. Isto é difícil de entender, de aceitar, mas quem tem Fé e recebe esta unção é mais um alento para fortalecer e não recear a inevitávem partida... é difícil explicar...
Não é fácil ter esta fé.
E não deve ser nada fácil ESPERAR serena e calma.
Esta senhora é um exemplo para todos.
Com a doçura, simplicidade e calma de dizer:
"Volte mais vezes, senhor padre!"
Chorei ao ler este post!
Amigo....é uma felicidade chegar ao fim assim já com bisnetos...depois de uma longa caminhada e cheia de Deus...de fé!
Mas não sei porque ...mas e qustão da extrema unção faz-me medo...parece que é o fim anunciado!(mais uma parvoíce minha!)
Obrigada pela partilha destes momentos que nos fazem pensar!
Bjs
CArla
Carla, não podemos prender-nos à palavra Extrema Unção. Como todos os sacramentos, a Unção dos Doentes (é assim o nome) é uma presença de Deus em nós. Neste caso é-o no meio do sofrimento e da dor. Podes não acreditar, mas já vi muita gente reabilitar-se depois de receber este sacramento. Eu, de vez em quando, tipo, de dois em dois anos, costumo organizar celebrações comunitárias. Isso tira o peso desta ideia de fim!!
Postdivulg, deves estar um pouco tristito. Força... Quem acredita não desanima nestas ocasiões. E que bom o teu avô ter essa atitude de fé!
porque a morte não é o fim!!
que bom lembrares confessionário!!!
um abraço grande de quem sente como graça o que aqui comunicas!!
é Vida e Ele está Vivo!!
que bom!!!
mesmo na morte!!
que bom!!!
Confessionário
sobre o "uso" do sacramento da unção dos doentes, estive há pouco tempo numa formação para ministros extraordinários da comunhão e o padre formador deu uma sugestão que partilho contigo.
Felizmente, já há o hábito em pessoas de mair formação na fé, de pedirem o sacramento, caso vão fazer alguma operação grave ou no caso de doença. Mas geralmente isso é feito de modo particular e privado. Ele sugeria que fosse feito durante a celebração da Eucaristia. E o próprio padre ou leigos que tivessem conhecimento de situações dessas, com caridade o propusessem. Achei uma boa proposta pastoral. Na maior parte das comunidades isto não é habitual.
Gostei da história. Mas gostava mais se, à semelhança da sogra de Simão Pedro (Mateus 8:14-17) a senhora se tivesse levantado completamente curada. Mas sei que nem sempre é assim. Nem sempre temos a mesma fé, quer os que ungem, quer os recebem a unção. Principalmente os que ungem.
Caro confessionário, caros todos.
Com licença. Chiça!
Também eu fiquei mais cheio de Deus - ou menos esvaziado ;) - após leitura deste post.
Que maravilha!
(O amor é mais forte que a morte.)
Abraços.
MC, eu faço isso habitualmente. Como já referi atrás, faço-o mais ou menso de dois em dois anos: para quem tem mais de 65 anos ou saúde precária.
Hoje puseste-me em lágrimas...
Porque é que se ri com a chegada e se chora com a partida?
Confessionário
não percebeste, ou eu não me expliquei bem. Para além dessa celebração comunitária, (na minha paróquia faz-se todos os anos, mas eu bem vejo que quem lá vai, são mesmo os muito velhinhos)era bom que se fosse criando o hábito de; qualquer pessoa, desde que em situação de doença grave, o receba em comunidade. A unção dos enfermos é um sacramento de cura, tal como a reconciliação, daí não o reservar só para "situações limite".
então estamos de acordo, MC. Mas eu faço-o com pessoas de saúde precária, independentemente da idade. Ok, beijinhos
gostava de ter essa fé... quando chegar a hora... agora... e sempre...
É bom ter fé.
Dá paz e esperança de que a «grande viagem» é para Deus.
Bom também quando há alguém que alimenta essa esperança e fé.
Abraço forte.
"oh...conte-nos mais uma
história assim....
vá lá...vá lá..."- pedi.
:D
E sorrio pq fez lembrar a minha avó, e as coisas que nos disse antes de partir. E a dor fisica que ela tinha, mas a alegria que transpirava, como se fosse nascer outra vez. Tão, tao bom!
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