quinta-feira, março 10, 2022

Se as mulheres parassem, a Igreja parava.

Não era uma campanha feminista ou coisa do género. Era um diálogo um pouco surdo, ou em surdina, entre duas gerações de mulheres que se dedicam com alma à Igreja, na comunidade onde vivem e celebram a fé. O diálogo ocorreu na minha presença. Uma presença discreta, a minha, que as deixou falar à vontade. 
Uma das mulheres, a mais velha, está habituada a servir o marido e todos os demais à sua volta. Fá-lo com uma generosidade ímpar. A outra, a mais nova, gasta-se a servir como se a sua missão lhe viesse de uma vontade de ser útil, estar presente, ser uma voz entre iguais, fazer o que tem de fazer porque entende que vive numa sociedade e numa Igreja que precisa dela e do seu carisma. A segunda exaltava o papel das mulheres. A primeira apagava o papel das mulheres. Uma esgrimia argumentos a dizer que elas eram imensamente importantes na Igreja. A outra esgrimia poucos argumentos. Ouvia mais que falava. Gostava do que ouvia, mas não precisava disso para fazer o que fazia na comunidade. Era uma mulher submissa. Talvez ainda haja mulheres que sentem ou vivem a palavra “submissão” como subjugação, dependência, servidão, subordinação, sujeição, vassalagem. Eu prefiro entender a palavra como entrega humilde, como disponibilidade. Mas entendo que seja uma palavra difícil, tanto de entender como de usar. Estava interessante a conversa daquelas duas mulheres. Eu gostava do significado das palavras, inclusive dos silêncios e das pausas. Daqueles dois exemplos de fé professada, celebrada e vivida. Na primeira pessoa, ou na segunda ou na terceira. Dava igual. 
Sem as interromper, anotei. Se as mulheres parassem ou fizessem greve nas comunidades cristãs, a Igreja parava. De facto. As mulheres são quem mais trabalha nas comunidades cristãs, quem mais ocupa ministérios litúrgicos e pastorais, quem está mais presente, quem mais se dedica à Igreja. Ei-las no coro, no ambão, no zelo dos altares, na catequese, nos grupos de oração, nos encontros espirituais, na acção socio-caritativa, e por aí fora… Apesar da  hierarquia da Igreja ser constituída só por homens, atrevo-me a dizer que cerca de 95% das comunidades cristãs, no seu todo e no seu particular, são asseguradas por mulheres.
Mais depressa a Igreja parava sem as mulheres que sem os homens. Se as mulheres parassem, a Igreja parava. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Beatas, ratas de sacristia ou santas"

11 comentários:

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Muito interessante essa conversa entre as duas mulheres e não deixam de ter razão, como o Senhor Padre afirma.
A Mulher hoje, tanto na Igreja como na sociedade em geral, ocupa lugares de grande relevo que nem sempre são reconhecidos e valorizados, infelizmente.
Gostei deste texto tão esclarecedor e convicto do valor da Mulher.
Ailime

Zilda disse...

Faou tudo. Tenta retirar, proibir as mulheres pra ver no que dá. Tenta inibir a presença das mulheres. Só por alguns dias.

Zilda disse...

VOltando ao comentário anterior, sei que a sua pessoa se garante, mas e os demais? Ah? Os corriqueiros dia-a-dias?

Anónimo disse...

Olá, encontrei o teu blogger ontem porque estava a ver a pesquisar se apaixonar por um padre é pecado mas fiquei curiosa em saber qual país o sr é? Porque queria fazer umas perguntas sobre a Igreja, algumas dúvidas que tenho, se faz favor

Confessionário disse...

10 março, 2022 18:06

Portugal

Anónimo disse...

que legal,talves te conheço por fotos...
eu sou de cabo verde ♡

Anónimo disse...

É mesmo perto, quem sabe já se cruzaram por aí, eheheh!

Anónimo disse...

Será que é desta vez que vamos ver o Padre sem a grade do confessionário? Será que é mesmo como o imagino?

Anónimo disse...

Já agora, o meu palpite é
que deve ser do Continente, mas é do Norte, Centro, ou Sul? É que pode ser que já nos cruzámos por aí!

Anónimo disse...

Não consegui entender este assunto...hehehe..

Confessionário disse...

12 março, 2022 16:17
Peço desculpa se não fui muito claro; talvez tudo se resuma num dos últimos parágrafos:

"As mulheres são quem mais trabalha nas comunidades cristãs, quem mais ocupa ministérios litúrgicos e pastorais, quem está mais presente, quem mais se dedica à Igreja. Ei-las no coro, no ambão, no zelo dos altares, na catequese, nos grupos de oração, nos encontros espirituais, na acção socio-caritativa, e por aí fora… Apesar da hierarquia da Igreja ser constituída só por homens, atrevo-me a dizer que cerca de 95% das comunidades cristãs, no seu todo e no seu particular, são asseguradas por mulheres."