quinta-feira, dezembro 16, 2021

as tradições que se perdem

Era a primeira reunião do novo pároco e juntara umas dezenas de pessoas, entre aqueles que mais colaboravam na paróquia e aqueloutros que gostam de marcar presença para falar com o novo padre. As dez paróquias, e suas respectivas anexas, eram conduzidas, até ali, por outros dois padres. Como o número indicia, é natural que o novo pároco não possa concretizar todas as vontades e hábitos. Não por má vontade, mas porque é humanamente impossível. E as pessoas, pelos vistos, até compreendem. Ele terá de encontrar prioridades e caminhos novos. E falava-se disso na reunião. Mas, às tantas, um senhor que fazia parte de uma comissão não sei das quantas que tratava da tradição não sei das quantas que ocorria depois da missa no dia tal, pediu permissão para usar da palavra, e usou-a para perguntar como seria e a que horas seria cumprida a tradição. E embora esta possa ser uma tradição culturalmente importante para as pessoas, que nela se identificam, tratava-se de uma tradição mais pagã que cristã, onde a presença do pároco nem sequer era imprescindível. Naturalmente que o novo padre não consegue celebrar dez missas num dia e cumprir dez vezes a tradição de que eles tanto gostam. E como explicou a sua dificuldade, o mesmo senhor usou das palavras para se lamentar e dizer Assim acabamos com todas as tradições. E o novo padre respondeu no mesmo tom e com argúcia. Por esse motivo, caro amigo, é que eu ando aqui a tentar não acabar com uma Tradição que já vem de há muito mais tempo e com a qual, pelos vistos, as pessoas se preocupam cada vez menos, a Eucaristia. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "A tradição da procissão de Páscoa"

4 comentários:

Anónimo disse...

Dez paróquias, Padre? Pobrezinho! Isto é desumano. E claro, a juntar com os conservadores de tradições que nem fazem sentido. Deve dar ganas de fugir dali.

Ailime disse...

Boa tarde Senhor,
As pessoas em geral vão muito pela tradição e esquecem que os senhores padres são humanos e não podem fazer impossíveis.
Que Deus o proteja e ajude na sua missão.
Ailime

JS disse...

Quando somos novos, é difícil compreender o significado das tradições; quando somos velhos, é difícil abrir mão delas. E neste abismo se geram muitas das confusões nas nossas paróquias.

Por outro lado, é certo: a diminuição de recursos humanos obriga a priorizar, a seleccionar as actividades. Mas pode haver aqui um erro que estejamos a repetir demasiadas vezes nestes últimos anos, e que é: o padre não pode fazer, logo não se pode fazer. De certeza que é mesmo assim? Ou será apenas a maneira mais fácil e cómoda de resolver a dificuldade? Pelo menos que não seja o padre a entravar o processo de solução. Há sempre lugar a uma espera activa, a animar a uma congregação de vontades, a aguardar que uma vocação ou um carisma seja suscitado, a oferecer linhas de formação, a coordenar os novos responsáveis ou orientadores...

E até porque há tradições que são verdadeiramente eucarísticas e que mereceriam bem mais a atenção e o empenho do pároco do que propriamente a missa formalmente celebrada com todas as suas rubricas. Mas isto daria uma longa discussão...

Confessionário disse...

Sim, sim, JC.
Concordo contigo. Mas tb saberás da dificuldade que é fazer entender a um povo, sobretudo a pessoas que apenas vivem de tradições no que se refere à vida eclesial, que há coisas que fazem os padres que podem perfeitamente ser feitas por outras pessoas. O caso que contei até é bastante simples.
Recordo, porém, a propósito das procissões, como foi e ainda vai sendo dificil que entendam que o padre naquela hora não pode fazer a procissão e que ser feita por um diácono ou um leigo serve o propósito. Dizes que é uma boa ocasião para uma boa formação, e é. Mas não é nada fácil!
E tb concordarás comigo que o meu colega respondeu com argúcia a propósito da Eucaristia.

Para mim, o que está em causa não é tanto as tradições, esta ou aquela tradição, mas o entendimento que temos da Igreja e da vida eclesial!