sexta-feira, outubro 01, 2021

sou a multidão [poema 337]

sou a minha multidão, que me arrasta e me relenta 
as vozes que ouço na cabeça e não distingo, em mim 
 
sou a muralha que cresce à espera de uma enxada 
e do grande lavrador que venha com a sementeira, eco em mim, 
repito em mim 
 
mas ouço gente que é toda a gente, e repetem 
em mim, sou uma multidão 
à espera, oh sim 
 
e me faça ser só eu no meio de toda a multidão 
que sou 
 
Mc 5, 21-43

5 comentários:

Anónimo disse...

gosto

obrigaste-me a ir ler o texto do evangelho e gostei, padre

Anónimo disse...

A poesia, ou a escrita mais enigmática, é uma fuga e, ao sê-lo, é também uma incapacidade. Frequentemente a de assumir responsabilidades por algo. A grande multidão de poetas enferma de certa pequenez, a do petiz, não obstante usar palavras criteriosamente escolhidas. Não sei se ser possível conjugar o "ser homem" e o "ser poeta". Entre mais umas quantas ambiguidades e evasivas o Autor certamente melhor o saberá. Tem sempre por hipótese recuar e seguir o caminho da vara ou o de Jesus (na altura creio que ainda não estaria o uso o tapete rolante), Factor relevante à escolha, o suor, menos do que o sangue e as escassas lágrimas.
E, ah, o mar é grande.

Cumprimentos extensíveis à multidão.

Anónimo disse...

O poema é enigmático, e não se sabe muito bem quando somos uma multidão de pessoas uns atrás dos outros, como cordeirinhos.

Ailime disse...

Bom dia Sr. Padre,
Um daqueles poemas, muito profundo, mas de difícil interpretação.
Só sei que gostei.
Ailime

Anónimo disse...

Tocou-me imenso este poema, porque às vezes fazemos uma multidão dentro de nós que não nos deixa ser nós próprios. Grata, Confessionário.