sábado, dezembro 05, 2020

Mãos ao alto

Uma paroquiana que é funcionária na escola e que tem a responsabilidade de fazer com que os meninos, à entrada, desinfectem as mãos, contou-me que aproveitava a ocasião para lhes ensinar a por as mãos ao Senhor. Mão direita sobre a esquerda. Alcool Gel e esfrega. Agora volta as mãos para o alto e agradece a Jesus o dom da vida. E não é que os pequenitos fazem os gestos, olham para o alto, e esboçam uma oração!? 
Lá está, não precisamos de grandes planos e programas de pastoral e de evangelização. O que precisamos é de cristãos que diariamente, mesmo em pequenos gestos, falem de Jesus e, mais ainda, testemunhem Jesus. Mãos ao alto, por favor! 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Obrigado pela fé que me deste"

8 comentários:

Anónimo disse...

Pequenos gestos, lições que nunca esquecem! Quando era criança tinha uma sede insaciável de saber. Constantemente repetia porquê? Porquê? Porquê? E o meu pai, com uma paciência que só os pais conseguem ter, lá
ia respondendo, de maneira simples e como sabia, à minha curiosidade. Tenho bem presente o dia que fiquei a "contemplar" as galinhas enquanto bebiam. É uma espécie de ritual, (desculpe Padre se estou a proferir alguma blasfêmia) para beber baixam a cabeça para apanhar a água e depois levantam a cabeça até ao máximo que conseguem. E a minha pergunta: Ó pai, porque as galinhas levantam a cabeça depois de beberem? E a resposta que até hoje, e já lá vão muito anos, não esqueci: "Estão a agradecer a Deus!" Talvez hoje nos falte, esses gestos de levantar os olhos para Deus para agradecer. E temos, diariamente, tantos motivos para o fazer, é só estarmos atentos e poderíamos compôr uma longa ladainha de gratidão para oferecermos ao Menino Deus na Noite Santa de Natal.

Confessionário disse...

06 dezembro, 2020 16:02
Fabulosa a sua pequena história.
O seu pai deve ser muito especial.

Gostei imenso de a ler...

Ailime disse...

Boa tarde Senhor Padre,
Pequenos grandes gestos que ficam para a vida.
Bom domingo.
Ailime

JS disse...

A fronteira entre anúncio/testemunho e proselitismo é ténue. Numa sociedade cada vez mais distante dos tempos da cristandade e que assume como princípio ético e político a laicidade (nem sempre bem entendido), a postura do cristão exige um processo de discernimento.

Em se tratando de uma escola pública, a dita funcionária só ganhará em ser alertada. As suas belas intenções não evitarão a possibilidade de ter de se confrontar com a reacção legitimamente negativa de alguma professora ou algum pai.

Confessionário disse...

JS,
Os discernimentos são importantes, mas também há muito cristão que fica pelos discernimentos e não faz nada com receio de cometer erros que o seu discernimento lhe propõe.

Concordo que a fronteira entre anúncio/testemunho e proselitismo é ténue. E não sou favorável ao proselitismo.
Mas também é importante recordar como pequenos gestos podem fazer a diferença. Não os fazer é não fazer a diferença.

Por isso me/te pergunto como deve proceder um cristão diante do compromisso de ser testemunhoe de anunciar a Boa Nova da Salvação?

JS disse...

O que eu pretendia pôr em evidência é que o testemunho e o anúncio do cristão dependem das circunstâncias existenciais que o rodeiam e definem.

A lei da laicidade tem já um século, o processo de secularização mais tempo tem e, no entanto, continuamos ainda num registo de aprendizagem, de sabermos viver bem numa época nova, realmente diferente da do tempo de Jesus ou do povo bíblico.

Sobretudo sente-se que persiste esta espécie de desconfiança, de ressentimento e de resistência perante um paradigma que resulta essencialmente do dinamismo interior da fé que professamos. Mesmo que a sua concretização apareça em muitos momentos como promovida por sectores exteriores à Igreja, e seja sentida como algo de forçado e imposto a nós, crentes, e a História revele amplos excessos cometidos neste domínio.

Mas não: em verdade está no cerne do cristianismo o reconhecimento da autonomia das realidades terrestres, a defesa da separação entre religiões e Estados, o acolhimento da relatividade e da subjectividade como dimensões legítimas do crer, a aceitação de coração aberto de conviver numa sociedade pluralista.

JS disse...

Pegando no exemplo mencionado (no caso de se tratar de uma funcionária de escola pública, ressalvo): a pessoa em causa deverá ter consciência de, no seu posto de trabalho, ser empregada e representante do Estado, e ter assumido uma missão pública. Como cristã, não pode senão levar a sério esse compromisso e esse dever de lealdade. Deverá estar informada das normas e regras que enquadram a expressão e ensino religiosos em âmbito escolar, e que foram objecto de discussão, diálogo e acordo democráticos. Nesse contexto, deverá abraçar convictamente a postura de neutralidade que é esperada dela e dos outros intervenientes. Ali, o seu testemunho de fé passará, de forma inexorável e paradoxal, pelo silêncio, pelo abscôndito, pela contenção.

Insisto: mesmo que pareça, não se trata aqui de renegar a fé, de se envergonhar dela, de se deixar tomar pela timidez ou cobardia, de desaproveitar oportunidades de evangelização, de ceder à hipocrisia e à incoerência. Esta forma de ser e de estar perante a res publica é uma real impulsão e exigência da fé cristã no mundo moderno, e sumamente difícil de pôr em prática. Viver “etsi Deus non daretur”, seguindo o exemplo de um Deus que recusa ser intervencionista, retirando-se, escondendo-se, impulsionando no puro segredo.

Confessionário disse...

No caso concreto em causa, conhecendo bem a situação, penso que não há risco de a funcionária sofrer qualquer represália.

Quanto ao restante das tuas afirmações, apenas refiro que, mesmo sendo impreterível separar as Religiões do Estado (um dos maiores erros da história da Igreja foi exactamente essa junção algo disfuncional da sua essência verdadeira), não podemos minimizar o sentido da "construção do Reino", já, aqui na terra!