sábado, outubro 10, 2020

Uma fé que quer Deus sem esforço

A Olívia é uma jovem mãe com duas filhas em idade de crescimento e andam na catequese. Tem olhos de quem Deus lhe diz alguma coisa. Tem expressões que me parecem do mesmo som das de Deus. Ressoa um pouco de Deus. Mas não vai à missa, esse acto relacional da comunidade a que chamamos, e bem, sacramento da eucaristia. Tem as suas ideias. Gosta de Deus. Quer que Ele esteja presente na sua vida, sobretudo agora que está doente. Mas não quer esforçar-se por Ele. 
Eu não posso afirmar que a Olívia não esteja a fazer um caminho de fé interior. Mas, às vezes, de tão interior que a fé se torna, ela passa ao plano do privado e esquece que a própria intimidade com Deus é uma relação de afecto que precisa de aprender-se no afecto com o outro ou os outros. Ela não quer esforçar-se ou não sabe que precisa de se esforçar por Deus. Como no namoro ou no matrimónio, quem ama precisa esforçar-se pelo amado. Ao menos para explorar o profundo desse sentimento relacional. Quem ama não pode contentar-se com o sentimento que nutre pelo amado. Precisa esforçar-se por ele! Torná-lo fecundo. 
É um pouco assim que eu vejo a fé de muitas outras olívias pelo mundo fora, que até são coerentes e autênticas num certo sentimento que têm com Deus, mas não se querem esforçar para além desse sentimento, fruto de uma sociedade sem compromisso, responsabilidade e sacrifício, uma sociedade líquida à qual basta a superficialidade das relações, mesmo que sejam verdadeiras. 
 
A PROPÓSITO OU A DESPROPÓSITO: "Queria saber como posso ter fé"

3 comentários:

Anónimo disse...

adorei:
"Mas, às vezes, de tão interior que a fé se torna, ela passa ao plano do privado e esquece que a própria intimidade com Deus é uma relação de afecto que precisa de aprender-se no afecto com o outro ou os outros."

"...num certo sentimento que têm com Deus, mas não se querem esforçar para além desse sentimento, fruto de uma sociedade sem compromisso, responsabilidade e sacrifício, uma sociedade líquida à qual basta a superficialidade das relações, mesmo que sejam verdadeiras"

Ailime disse...

Boa noite Senhor Padre,
Conheço algumas olivias e nunca tinha pensado nesse aspeto do não querem "esforçar-se por Deus" .
E é isso mesmo. Talvez uma certa preguiça espiritual.
Fico-me por aqui, porque o seu texto/reflexão é sublime e ao mesmo tempo de uma clareza que veio de encontro a algumas das minhas interrogações.
Obrigada
Desejo-lhe um bom domingo.
Ailime

Anónimo disse...

... quem ama precisa esforçar pelo amado...sim verdade todo esforço é pouco, é recompensa de um amor mútuo. As vezes sinto-me com baixa frieza nesse sentido, a dor e o sofrimento muita vezes nos consome. A distância é outra vilã. Daí surge uma pontinha de esperança e renova a fé pra seguir enfrente. Chm