domingo, maio 20, 2018

A Igreja dos “chineses”

Não tenho nada contra os chineses, nem contra as suas lojas que proliferam por todo o lado. Também não questiono a qualidade dos seus produtos. Poderia questionar o facto de eles não pagarem impostos, mas não sei o suficiente do assunto, nem é sobre isso que pretendo escrever. O título que escolhi também não é depreciativo, nem pressupõe que haja uma Igreja chinesa. 
Já aqui utilizei uma expressão da qual não sou propriamente dono, embora me tenha apoderado dela, a “Igreja supermercado”. É com base nessa expressão que hoje reflecti sobre esta Igreja que as pessoas procuram apenas quando querem algum sacramento, e que, no restante espaço das suas vidas, não procuram nem pretendem procurar. Essa Igreja que alimenta serviços mas não alimenta a fé. Essa Igreja que alimenta tradições, mas não se preocupa com o anúncio da Boa Nova. Essa Igreja a que se vai quando se precisa de alguma coisa materialmente ou ritualmente falando. 
É essa Igreja-loja que hoje me ocorreu comparar com a loja dos chineses na medida em que as pessoas a procuram, independentemente da qualidade da oferta e exigindo preços de saldo ou preços baixos. Apetece-me manifestar a minha tristeza por um tipo de pessoas que não vivem na e para a comunidade cristã, não contribuem ou partilham com a comunidade paroquial, e exigem todas as regalias possíveis, quando bem lhes apetece, só porque no escaparate se pode ler “Igreja”. 
Na conjectura de alguns, a Igreja tem de ser desprendida, pobre, miserável, e assim o mais injusto que ela poderia fazer era tentar manter uma gestão equilibrada das suas contas, da sua administração e dos seus bens. Como Igreja que é, teria de ser espaço gratuito e aberto para todas as necessidades, mesmo que se esvazie de conteúdo e se aproxime da falência.
Enfim, eu também gostava que tudo fosse como nas primeiras comunidades cristãs, que tudo fosse partilhado e tudo fosse gratuito. 

8 comentários:

Anónimo disse...

Escolhi este post porque até à data não tem nenhum comentário!
Porque estão as igrejas cada vez mais vazias?
Há inumeras razões , mas a meu ver a principal é só uma.
porque a igreja apresenta Deus como um PAI ou até como uma MÂE e já todos fizemos a experiência, de, no meio da aflição recorrer a esse PAI ou MÃE e do lado de LÁ só haver silêncio!
Eu só posso falar das coisas do mundo, porque só conheço o mundo. Mas custa imenso ver em Deus uma mãe que fica em silêncio perante a dor dos filhos.
A igreja diz que Deus responde sempre e que se fizermos silêncio ouvimos a Sua voz.
E essa é a maior das minhas frustrações. Se assim é, como se reconhece no nosso intimo essa voz que me dizem ser de Deus?
Acredito que muitos padres que abandonam o sacerdócio, ou até em casos extremos, cometem o suicídio , o fazem porque se deparam com esse "silêncio", para o qual a igreja não os preparou.
Não é fácil amar a Deus.

Confessionário disse...

Olá, anónimo de 22 maio, 2018 15:28

Não é fácil amar. Nunca foi!

Sobre o silêncio de Deus, já viste o filme "O Silêncio"? aconselho vivamente... aliás, escrevi um posto sobre isso: http://eupadre.blogspot.pt/2017/01/o-silencio-de-deus.html

Mas é verdade que custa não perceber o que Ele diz e o que quer... Custa quando sofremos e não conseguimos perceber que sentido faz isso... Eu creio que faz sentido, mas também me custa imenso...

Anónimo disse...

Obrigado Confessionário pelas tuas palavras.
Mas é no mínimo desconcertante o silêncio de Deus!
À luz do mundo e da realidade que conhecemos, como compreender um PAI/MÃE que perante o sofrimento dum filho, fica mudo?
Se Deus é infinitamente bom, como consegue ficar calado?
Quando ainda tinhas a tua mãe neste mundo, conseguirias entender se num momento de dor recorresses a ela e ela ficasse impassível perante ti?
E mesmo no meio da sua imperfeição, consegues imaginá-la ausente a ver-te sofrer?
Se o ser humano por norma não fica indiferente,como compreender que Deus aparentemente , o faça?
Eu creio que é por aí que se esvai a nossa fé?
Ultimamente tenho sido assaltada por uma série de duvidas que não sei se vão ser motor de busca para procurar mais a Deus, ou âncora que me vai prendendo ao cais do desânimo !
E olha que quem está deste lado não é ninguém estranho á igreja, nem usa a mesma como "lojas dos chineses".
Tenho questionado muito a minha relação com Deus, a maior parte das vezes "vejo" só um Deus e não um Pai.
Por isso compreendo que as mesmas vão ficando vazias. Num tempo em que tudo está á distância dum "clik", compreender o "tempo" de Deus é uma grande tarefa.
(E não, ainda não vi o filme.Mas vou fazer todos os possíveis por ver. Obrigada pela sugestão)

Ana Melo disse...

Isto foi-nos tudo dado, (as nossas ansiedades não nos deixam ver!/se não quiséssemos comprar tudo o que nos querem vender!!), é quase só usufruir.

Somos miseráveis, queremos mandar em Deus/Criador.

Realmente! alguns de nós nascem em lares que parecem não ter condições nenhumas!!! Nascem em países, comandados por alguns de nós completamente desumanos. Por isso é preciso que as gerações se renovem.

Quem sabe, (encontraram-se duas pessoas que se gostaram/reproduziram-se) se também foram os únicos momentos felizes que tiveram – ver nascer um rebento, normalmente saudável. E que nòs “filhos” continuamos a querer repetir…


Tenho uma amiga que aos 15 anos, perdeu a mãe. (morreu afogada num poço quando apanhava azeitona mais o marido - as botas de borracha complicaram o salvamento).

Para mim, o continuar a crescer sem mãe, era um pensamento aterrorizador!, mas fomos crescendo, (as farturas não eram nenhumas na altura-30 anos), eu fiquei meia traumatizada com aquilo, mas a minha amiga, começou muito cedo a dizer quantos filhos queria ter e os “sonhos” que tinha com uma família “feliz”…. O marido levou algum tempo a fazer o pedido de casamento!!! E já comentava-mos, se ele seria pai dos filhos dela, casado ou não casado…. Continuam juntos, intratáveis um com o outro… mas juntos c/ 2 filho/a adolescentes.

Portanto!!!, usufruíamos!, fazendo o nosso melhor, cuidando da Quinta do Criador o melhor que pudermos, para que os que nasçam, vejam este Milagre que é a Vida… mais curta ou mais comprida…..

Anónimo disse...

Já la vão anos a ver o mesmo. A maioria das pessoas a colocarem a espiritualidade ao serviço da tradição e o Padre, com as suas palavras e com toda a paciência a tentar reverter a situação, colocando a tradição ao serviço da espiritualidade. E assim os padres vão gastando o seu tempo, na esperança que alguma alma se encontre nas suas palavras... Bem sei que que nos devemos alegrar mais por uma alma que "se encontra" do que pelas 99 que já se "encontraram". Mas eu gostava de progredir e não consigo porque este circulo vicioso de tradições ocupa o tempo todo da Igreja...Ainda não desisti, mas já estive mais longe...

SL

Anónimo disse...

Sou católica, mas creio na reencarnação e acho essa basicamente a única justificativa para o silencsi de Deus: aprendizado e crescimento espiritual. Porém, nesse " silêncio", vc apenas aceita o que tem e tentar viver da melhor forma.
Tbém não tenho ouvido Deus para as minhas diversas dúvidas, confusões internas, não aceitação e não entendimento de muitos tormentos pelos quais tenho passado. E por isso rezo para passar por tudo da melhor forma possivel e para enfrentar essas tempestades tbém da melhor forma possível.
Com tudo isso, so me resta crer que Deus tudo sabe, quer nosso melhor e que, se passamos por tudo que passamos, é para nossa evolução.

Cassi.

Confessionário disse...

Cassi, com essa afirmação (que acaba sendo pouco católica!), não será caso para perguntar se não andarás enganada?! Como compaginar ressurreição com reencarnação?!

E sobre o silêncio de Deus, remeto de novo para o post que sugeri... Deus nunca se cala. Nós é que o calamos muitas vezes...

Confessionário disse...

SL; é bem verdade essa do "circulo vicioso das tradições" que quase mata a fé! Ou pelo menos vai matando muitos à volta dela.

Mas não desistas. Pensa como para aqueles que querem caminhar de verdade é importante sentirem que não estão sozinhos.