quarta-feira, janeiro 17, 2018

Esta dor que não me consome

Hoje não quero saber se me dói alguma parte do corpo ou da alma. Enquanto fumo o último cigarro da noite, à janela que dá para as luzes da igreja, deixo que o tempo apenas passe por mim como o vento numa manhã de praia que avizinha o sol. Geralmente o tabaco ocupa aquela parte da meditação que faço, rabugento com o tempo, para me entregar a ele. Mas hoje quero que ele passe por mim, me cumprimente e se despeça no mesmo instante. É que, às vezes, damos tanta importância ao tempo que nos sobra que não damos conta do sol que desponta cada dia ao amanhecer. Sei que há algo de mim, neste corpo entregue a Deus, que precisa de algo mais do que o tempo. Mas hoje não quero mais pensar nisso. Vou apagar o cigarro, e deixar que as cinzas voem para longe. Lá, onde só eu e Deus daremos as mãos. Sorrio e digo. Bem-haja, Senhor meu Deus, que és tão generoso em mim, mesmo quando permites que uma dor perturbe a nossa amizade. Eu sei que há algo em nós que não se prova mas se sabe, como o sal que não se vê, mas que tempera o que comemos.

4 comentários:

Anónimo disse...

Como é engraçada a nossa vida estranha. Estamos em um ciclo vicioso, entre o Diabo e Deus. Num planeta tão pequeno e grande ao mesmo tempo. Mas é engraçado, quando olho meu rosto no espelho. Eu vejo outra coisa dentro desta linda podre carne. Somos sujos e limpos ao mesmo tempo que obra mais imperfeita e perfeita. A dualidade da minha cabeça, a docialidade de uma besta que poderia matar beijando sua presa. Então minha carne queima, e minha carcaça se consome num fogo azul, como se fosse uma estrela a explodir. Mas lá vem ele...Me beija, me abraça, me assusta e coloca seu anel de ódio e ossos sobre minha mão esquerda. Sobre meu pequeno dedo anelar. Me agarra e beija meu colo, e diz a mim muma explosão de raiva. Tu és minha e eu sou teu. Não renegue onde tu se deitou. Abro meus olhos e acordo apavorada. Realmente foi um sonho? E a palavra "esposa" entra na minha cabeça, como um berro. Então eu corro e caio sobre a terra. Mas uma voz boa me diz. "Queime-se, liberte-se. Lembra de onde tu veio. Solte tua verdadeira essência." Logo, quando olho. Meus gritos rasgam a garganta, a pele derrete e se desfaz, e como uma explosão a chama azul consome tudo em volta e a mim mesma. Liberte-se anjo. É só isso que escuto.

Anónimo disse...

Hoje gostei particularmente de te ler e sentir teu estado de espírito.
Força, padre

Anónimo disse...

Gostei mesmo muito.
Quando estamos a ler um livro, ou somente um texto, temos, ou pelo menos eu tenho, a sensação de estar a "ver", o cenário, claro que cada um o imagina á sua maneira...e hoje imaginei mesmo este cenário, de calma de entrega e de uma "intimidade" com Deus, que...não tenho palavras para descrever.
Gostei mesmo muito.
Bj

Anónimo disse...

Acalme o espirito, deixe Deus lhe guiar, seja confiante, e lute ate no ultimo momento pela vida.