sábado, março 11, 2017

Quaresma despojada de cristãos

Éramos dez pessoas. Ou em tom jocoso, como alguém poderia dizer, eram nove pessoas e um padre. Eu mais nove pessoas. Despojados de tudo para iniciarmos a Quaresma. Repito De tudo mesmo. Despojados até de pessoas. Claro que a Quaresma não vale pelo número dos que participam na missa de quarta-feira de cinzas ou na cerimónia da Imposição dessas cinzas. Mas fez-me impressão começar a Quaresma deste modo. Que o meu primeiro acto celebrativo ocorresse com um tão reduzido número de cristãos. Não meço a fé ou o cristianismo por números. Esse assunto daria linha para muita renda. Contudo, a minha sensação foi ter começado a Quaresma num total despojamento. E isso fez-me pensar muito.

13 comentários:

Anónimo disse...

Oh! Padre tomo sua dor/desapontamento como minha, foi muita cinza para pouca quarta-feira. Que pena, não souberam apreciar o significado dessa belíssima celebração. Aqui na minha comunidade, no Brasil a igreja ficou repleta, nem pude entrar na igreja.
Deus te abençoe com coragem e perseverança. Receba um abraço caloroso. Precisamos de ti.

Gui disse...

O seu texto deixa-me muitos pensamentos e comentários presos mas deixo-lhe apenas um abraço.

Anónimo disse...



Quaresma despojada de cristãos, ou cristãos despojados da
quaresma?
para essa totalidade de cristãos não existe critérios!!!
É mais um dia que passou, mais cinzas menos cinzas...
Que Deus te dê forças!!!
Um abraço.

JS disse...

E que tal fazer a cerimónia noutro dia, possivelmente até no domingo? Calculo que seja um dia sobrecarregado, mas abreviando certos elementos da missa, talvez se conseguisse encaixar o rito sem grande transtorno e para proveito de maior número de fiéis.

Ou então, que tal pedir ao centro social que prepare uma boa panela de sopa e convidar as pessoas no fim da missa para uma malga de caldo? Seria uma forma de valorizar a penitência alimentar desse dia, e de mostrar que o jejum/abstinência ganha em ser vivido comunitariamente. E até as pessoas podiam deixar uma pequena contribuição que significaria também o exercício da esmola em favor do projecto quaresmal assumido pela diocese ou pela vigararia.

E ainda, que tal fazer uma pequena catequese no domingo anterior, com a despedida do aleluia, o anúncio da retirada dos arranjos florais, a apresentaçào do molho de ramos de oliveira guardado do último domingo de Ramos e que será queimado para proporcionar as cinzas para a cerimónia, a entrega da mensagem quaresmal do Santo Padre ou da do bispo diocesano?...

Confessionário disse...

JS,
essas ideias são todas boas, mas...
1. eu tb tive cerimónia de imposição de cinzas na quinta, no sábado e no Domingo
2. e se não ha centro social?!
3. e se não tiveram missa no Domingo anterior?!
4... e tb tive outras comunidades com mais gente nessa eucaristia de início de quaresma

Na verdade, eu até entendo esta comunidade em particular. Mas isso não signfia que fique impávido e sereno perante a situação.

JS disse...

Um pastor com nove ovelhas...
Uma oportunidade para uma celebração diferente? Para o senhor padre tratar cada um pelo nome, poder abraçar cada um no momento da paz, propôr uma homilia dialogada, convidar a uma oração dos fiéis espontânea, juntá-los em torno do altar para a oração eucarística, dar a comunhão também do cálice?...

E se fosse um momento de graça, do pastor dar conta de que o pequeno rebanho não lhe vai dar desculpa para, aflito com a caminhada dos outros, se abstrair da que lhe compete fazer, ele que também é ovelha? Desculpa perguntar, Confessionário: pediste a algum dos presentes que te impusesse as cinzas? Ocupaste o lugar que eles ocuparam quando se aproximaram para as receber?

JS disse...

Confessionário, em relação às alíneas:
2. para preparar um caldo, só é preciso uma panela e reler a história da sopa da pedra... :)
3. bem, a ser assim compreende-se melhor: a quebra do ritmo semanal da celebração eucarística tem um preço. Mas, cá está, podes ter outras comunidades na mesma situação e que estejam a reagir melhor...

Ana Melo disse...

E MUITOS de nós que lá vamos, é MESMO só por DEUS, porque quando pensamos/olhamos para os vossos patrões, Cardeais, Bispos, Arcebispos, Cônegos, Monsenhores, e todos os artefactos inerentes, perdemos muita da vontade.

JS disse...

Cara Ana:

Os títulos, as vestimentas e as vaidades eram perfeitamente excusados na igreja de Cristo. Mas - sei que não é nada fácil - tenta ver por detrás desses artefactos gente de carne e osso, nossos irmãos na fé, pessoas carregadas de responsabilidades muitas vezes pesadas e ingratas. Não deviam deixar-se obcecar pelas honrarias; mas acho que em muitos casos também não merecem o desprezo a que são votados.
Dizes que não vais à igreja por causa deles; mas se puderes rezar também por eles...

Anónimo disse...

Mas alguém vai à igreja senão por causa de Deus? Acho que nao!

JS disse...

Anónimo(a), se há coisa que Jesus nos ensinou é que nunca poderemos encontrar Deus a não ser através dos irmãos.
Portanto, mesmo indo à igreja apenas com vontade de estar a sós com Deus, estarás lá "com" os teus irmãos, com aquilo que viveste e experienciaste com eles e por meio deles, com o que lhes fizeste e deixaste de fazer, com o que te fizeram e deixaram de fazer. E a tua visita terminará sempre com Deus a reenviar-te aos irmãos, a ires para o meio deles, a seres mão, ou pé, ou coração de Deus para eles.

Anónimo disse...

Tens razão JS, obrigado, gosto imenso de te ler neste blog . bjs

Anónimo disse...

Fiquei triste, agora. Comigo própria. Vim aqui parar por acaso. Agradeço por me lembrar que estamos na Quaresma. Uma pessoa por vezes anda tão perdida que nem sabe quem é. Que esqueceu o caminho para o próprio coração. Oh sim, Ele escreve sempre direito, seja a 3 dimensões, seja na física quântica :-D. Muito bem haja pela janela que me abriu de uma forma tão inesperada. Continue neste seu bom caminho. A diversidade é o sal da vida e só nos enriquece!

Victória S.