terça-feira, março 28, 2017

A minha mãe não me leva

Andava no quarto ano da Catequese. Viera ter comigo para se confessar, a mando da sua mãe, por causa da festa da Catequese em que vai participar, com o seu grupo, na próxima semana. Trazia as mãos nos bolsos e, como lhe disse que ficava mais bonita se as tirasse de lá, colocou-as uma na outra, com os dedos a entrelaçarem-se e a estalarem ao mesmo tempo. 
Pela reação pareceu-me que estava com algum receio de confessar-se. Ou do que ia confessar. Por isso, ainda antes de darmos início ao sacramento da confissão, perguntei-lhe se estava com medo. Não respondeu, mas fez uma cara de quem não sabia o que dizer porque tinha receio do que pudesse dizer. Eu sei que, na verdade, não se voltara a confessar desde a Primeira Comunhão. Sei que não costumava ir à Eucaristia. Sei que quase tudo lhe parecia meio estranho. Estar ali porque a mãe lhe dissera para estar. A mesma mãe que não a levava à Eucaristia. 
Como me apercebera disso, e porque, infelizmente, não é caso único, perguntei-lhe se era por nunca mais ter ido à missa que estava assim. E aquela criança, afastando os dedos e as mãos, baixou ainda mais os olhos e disse. A minha mão não me leva.

6 comentários:

Gui disse...

E os pequenitos a sentirem-se culpados pelas nossas asneiras e "faltas de tempo"...
Boas noites

Ana Melo disse...

Sabemos lá nós!, que marido tem a mãe, que pai/mãe/irmãos/sogros/cunhados, tem a mãe.

Sabemos lá nós, os pacotes em que nos vamos (todos) deixando embrulhar, quais as dificuldades quais os encontrões da vida.

A mãe com as suas limitações faz o que pode (entendo aqui quase um pedido de ajuda), o padre com as suas limitações, deve também, ACOLHER, o melhor que sabe e pode.

E a nossa miúda, (agora também nossa), com o pequeno empurrão da mãe, com o a pequeno empurrão do padre, (e com o nosso normal espezinhar), um destes dias está a falar “sozinha” (Deus já está a ouvi-la com certeza), que não pediu nada disto! que sentido faz tudo isto! e onde pode arranjar forças, para se desviar, de parte, dos pontapés da vida.

Enfim a nossa miserabilidade, em três ou quatro gerações.

Reza em mim Espirito Santo.

Anónimo disse...

Concordo com a Ana Melo, sabemos lá nós o que se passa por detrás disso! Conheci uma mae que nao era baptizada, os filhos é que quiseram ir para catequese, que por ela, eles nao iam, mas eles queriam muito! Leva-los à catequese ainda os levava, mas para missa ela não. Cada um sabe de si e Deus de todos!

Confessionário disse...

"Cada um sabe de si e Deus de todos!"
Essa não será a desculpa que damos para não nos incomodar o assunto?

Mesmo tendo em atenção as mil e uma circunstâncias que existem na vida, algo que é bastante generalizado não nos deve preocupar? Relativizamos o assunto só por causa dessas circunstâncias?

São apenas questões que lanço

Anónimo disse...

Olá

A semana passada estive numa formação de catequistas (mas não sou catequista) e reparei que muitos catequistas se queixam dos pais e da sua não colaboração com a catequese. É claro que compreendo os catequistas, mas pensei também nos pais! A catequese da infância acaba muitas vezes por ser o primeiro anuncio para os pais ou o despertar de um Deus adormecido nos seus corações, sabe-se lá porque! É importante ajudar essas crianças que não os levam à missa de alguma maneira, não sei como! Para reflectir!
bj

Anónimo disse...

Não sr. padre do confessionário, o "Cada um sabe de si e Deus de todos" naõ o disse apenas para desculpabilizar os pais e nao nos preocuparmos. A verdade é que Deus trabalha de maneira que nem sempre entendemos! Essa história que contei da mãe que não era batizada, mas os filhos quiseram ir para catequese, acabou com mãe a ser batizada e hoje ser até catequista!