terça-feira, maio 03, 2016

Falar de Deus

Para se falar de Deus há tanto para dizer. Fica sempre tanto por dizer. Parece que duas centenas de mãos cheias nunca chegariam. Quanto mais duas mãos meio vazías. Porém, quando se abre a boca, que é como quem diz, a vontade de falar de Deus, parece que algo nos cala ou nos força a emudecer. Verdade seja dita que não há palavras suficientes para falar de Deus. E será por isso que muitas vezes usamos as palavras formatadas. Ditas de cor e salteado, rapidamente, para não se esquecer ou não se enganar. Já me aconteceu não saber que falar de Deus, que é mais acertado dizer apetecer falar de Deus, e depois de começar há um sem fim de palavras que não me deixam acabar o que digo. Eu diria que são palavras arrastadas de emoções. Não sei se já te aconteceu sentires que devias falar das coisas de Deus a propósito ou a despropósito. A mim já. Muitas vezes. Quase sempre que encaro um rosto que olha para mim como padre. E depois tolhem-se-me as palavras. Tinha vontade de dizer qualquer coisinha, nem que fosse apenas um piscar de palavras. Mas saem formatadas porque me obrigo a dizer qualquer coisa. Quem é que porventura tem dificuldade em falar de Deus? Escondo-me atrás da cortina da janela, que quase não tapa nada, mas enfim, e digo baixinho para ninguém ouvir. Eu. O eu sai-me mais rápido e fácil do que o Deus. Espero não ser o único, porque senão isto descamba. 
E desculpem, amigos, este deambular de palavras. Estava aqui a querer escrever algo que tivesse a ver com Deus e só me saiu isto. Para falar da dificuldade que é forçarmo-nos a falar de Deus. Vale mais deixarmos Deus falar por nós.

10 comentários:

Unknown disse...

Você tem um texto, rápido, constante, engraçado e irreverente. A vezes me lembra um menino inocente falando de tudo com grande alegria e entusiasmo. E na outra um adulto formado e feliz na sua escolha. Mas você me lembra mais uma criança no corpo de um adulto. Bom é isso...Jovial, alegre e incostante.

Paula Ferrinho disse...

Ou oferecer-Lhe o silêncio... às vezes, basta isso... de coração!

Confessionário disse...

Úrsula, gosto imenso da tua análise... Obrigada!

Confessionário disse...

Paula,
o problema é que é difícil quando tens de falá-lo, ficares em silêncio porque esperam palavras! Mas sim, é verdade: o silêncio une-nos mais a Ele, isto é, o silêncio das palavras...

Anónimo disse...

Quando chega aquele momento em que o Sr. Padre fica sem palavras ou profere palavras imperceptíveis para falar de Deus é porque elas já não são necessárias naquele local específico onde já deu tudo de si tão sacrificada e abnegadamente em cumprimento da sua missão salvífica… se calhar o bom era o Sr. Padre reconhecer que o seu trabalho ali já foi concluído com sucesso, libertar os fiéis costumeiros, e partir para outras paragens onde as suas palavras e os seus silêncios fossem deveras apreciados e escutados por tantos e tantas que delas carecem. Tenho a certeza que as suas dificuldades de oratória se desvaneceriam num piscar de olhos porque não se sentiria obrigado a nada, nem obrigaria ninguém a nada e até se iria sentir muito mais descansado.

Paulina Ramos disse...

Falar de Deus só é possivel quando se faz a partir do "coração", qundo faltam as palavras não tenhamos vergonha em admiti-lo mesmo em publico pois este se estiver em sintonia com o orador percebe quem não perceber ainda não se apaixonou por Ele.
Os que dançavam foram considerados tolos por aqueles que não conseguiam ouvir a melodia.

Anónimo disse...

Padre, faz-me pensar sempre muito. Obrigada

Anónimo disse...

Fiquei mesmo a rezar seriamente o teu poema Padre!
Fez-me entrar no silêncio de Deus.
Para falar com Ele temos de ter o coração
perto do Seu. Pois só no silêncio O escutaremos.
Doutra forma chegamos junto do Senhor com as "duas mãos
mais que vazias"...
Boa noite. Obrigado

Irene disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Paulina Ramos disse...

Anonimo 5-5 22:23
Tu ficaste a rezar o poema do confessionario e eu fiquei a rezar o teu. Muito belo o que escreveste.