sexta-feira, dezembro 18, 2015

não vida [poema 87]

Vivo sem viver em mim
Vivo na rua das cores e das lojas
Que é mais fácil, mais comum
Fingir que se é o que se assiste

3 comentários:

Anónimo disse...

"Vivo sem viver em mim". Acredito que o teu viver já
tem uma centelha de Luz. "Vivo na rua das cores"... Formidável!
Se é fácil fingir o que se não é, eu não quero tomar esse rumo
que me pode levar ao abismo.
Sinto de qualquer modo a tua dor. Queria ser o teu anjo de conforto.
O nosso Deus, amigo, está à nossa frente. Coragem.
Vive a tua vida em ti. Não a atires pras ruas ou praças.
Aperta ao coração e verás a luz na noite.
bj.

Anónimo disse...

heart and heartbreak

Hurt a heart
Already so hurt ...
There is no pleasure in it
Charity and compassion
Where are?
There are places and moments
where necessary
only peace
It is too much to ask ?
I need your prayers
when I own
my not live.

Anónimo disse...

A Estrela

Eu caminhei na noite
Entre silêncio e frio
Só uma estrela secreta me guiava

Grandes perigos na noite me apareceram
Da minha estrela julguei que eu a julgara
Verdadeira sendo ela só reflexo
De uma cidade a néon enfeitada

A minha solidão me pareceu coroa
Sinal de perfeição em minha fronte
Mas vi quando no vento me humilhava
Que a coroa que eu levava era de ferro
Tão pesado que toda me dobrava

Do frio das montanhas eu pensei
“Minha pureza me cerca e rodeia”
Porém meu pensamento apodreceu
E a pureza das coisas cintilava
E eu vi que a limpidez não era eu

E a fraqueza da carne e a miragem do espírito
Em monstruosa voz se transformaram
Disse às pedras do monte que falassem
Mas elas como pedras se calaram
Sozinha me vi delirante e perdida
E uma estrela serena me espantava

E eu caminhei na noite minha sombra
De desmedidos gestos me cercava
Silêncio e medo
Nos confins desolados caminhavam
Então eu vi chegar ao meu encontro
Aqueles que uma estrela iluminava

E assim eles disseram “Vem connosco
Se também vens seguindo aquela estrela”
Então soube que a estrela que eu seguia
Era real e não imaginada

Grandes noites redondas me cercaram
Grandes brumas miragens nos mostraram
Grandes silêncios de ecos vagabundos
Em direcções distantes nos chamaram
E a sombra dos três homens sobre a terra
Ao lado dos meus passos caminhava
E eu espantada vi que aquela estrela
Para a cidade dos homens nos guiava

E a estrela do céu parou em cima
De uma rua sem cor e sem beleza
Onde a luz tinha a cor que tem a cinza
Longe do verde azul da natureza

Ali não vi as coisas que eu amava
Nem o brilho do sol nem o da água

Ao lado do hospital e da prisão
Entre o agiota e o templo profanado
Onde a rua é mais triste e mais sozinha
E onde tudo parece abandonado
Um lugar pela estrela foi marcado

Nesse lugar pensei: “Quanto deserto
Atravessei para encontrar aquilo
Que morava entre os homens e tão perto”

Sophia de Mello Breyner Anderson