quarta-feira, outubro 14, 2015

A salvação dos sem culpa

Na conversa de café de há uns dias, aquela conversa que contei onde estavam vários padres, sendo um deles missionário, recordo também uma das afirmações que me chocou do padre mais idoso que la se encontrava. Insisto que a idade não deveria contar para a reflexão ou para a situação. Era apenas o padre que naquela conversa tinha mais idade, e ponto final. Era também o colega que discretamente se escandalizara com o modo de estar do tal padre missionário entre os índios na Amazónia. 
Depois do acto de escandalizar-se, perguntou, dirigindo-se a todos os presentes, como poderiam estes índios salvar-se. Entrei na conversa para dizer que talvez eles se salvassem melhor que qualquer um de nós. E não é que o tal senhor padre concordou comigo! Mas estragou o companheirismo quando acrescentou que decerto se salvariam pela sua ingenuidade. Como não haviam tido hipótese de conhecer a Deus, e eram ingénuos em relação a Deus, se calhar – dizia – salvavam-se. Não gostei. Até porque talvez estes índios fossem mais coerentes que nós para com Deus. Mais íntegros, mais genuínos com o Criador. Mais puros. Ele insistiu na sua teoria, explicando que se estava a referir ao facto de eles não terem culpa. E nesse momento o padre missionário perguntou. Mas culpa de quê? A pergunta respondeu tudo. Eu fiquei um pouco chocado com a afirmação do tal senhor padre. Não quero pensar que não gosto dele. Quero percebê-lo, e até certo ponto percebo o que ele arrasta de tantos anos formatado numa forma de ser Igreja “societas perfecta”. Mas fiquei chocado deveras.
Valeu a pergunta ou resposta final do padre missionário. Se valeu. Já para não falar que a salvação vem da graça de Deus e não dos homens, sejam eles quem forem.

10 comentários:

Emmanuel disse...

um post assaz enigmático se pensarmos no seu post anterior

Anónimo disse...


Mesmo os que não têm fé podem ser melhor cristãos, se pela sua própria natureza agirem como ele pede.

Confessionário disse...

Emmanuel,
num fala-se de fé e noutro de salvação!

Confessionário disse...

14 outubro, 2015 19:03
E como podem ser melhores cristãos se não sabem propriamente o que Deus pede?!

Paulina Ramos disse...

"Entrei na conversa para dizer que talvez eles se salvassem melhor que qualquer um de nós."
Bravo Padre por essa afirmação.

O papa Francisco terá afirmado que "Quem é da luz não mostra a sua religião mas sim o seu amor."

Com ou sem religião importa sim o Amor.

Anónimo disse...

Por um bocadinho vamos deixar de lado os índios da Amazónia e pegar noutros exemplos.
Dois sonantes: Mahatma Gandhi (hindu) e Dalai Lama (budista). Por certo, estes dois homens têm conhecimento do que Cristo pede, mas não foi por Ele que se deixaram seduzir. No entanto mesmo não o fazendo intencionalmente, seguindo as suas próprias convicções, as suas vidas comungam da de Cristo. Neste sentido, não são cristãos oficiais e diplomados, mas podem ser melhores do que muitos dos “legítimos”.
Agora um ateu. Por definição não crê em Deus, embora possa saber o que ele pede. Também este pode ser um grande ser humano e, agindo em sintonia com os seus próprios valores, ser um excelente cristão no sentido acima exposto.
Finalmente os nossos índios. Vamos supor que Cristo é para eles um absoluto desconhecido ou que dele pouco ouviram falar. E então?
De certa maneira, ser cristão não é só um saber, um conhecimento, nem uma fé específica, é um viver à sua imitação, ainda que não se haja em nome dele ou não se saiba o que ele pede. Nestes casos, Cristo continua a ser porta de salvação.

Anónimo disse...

Quando pensamos na salvação e a estendemos ao “justo”, há algumas dificuldades que se colocam. O “justo” tem de ter capacidade para distinguir o bem do mal e optar pelo bem, ou, pelo menos, esforçar-se activamente por isso. Como nem todo o ser humano a tem, por causas que não lhe são imputáveis, não parece completamente descabida aqui a questão da culpa na salvação. Quem pratica o mal sem consciência, nem a obrigação de a ter, não será salvo? Aliás, a culpa é um peso-pesado que todos os cristãos carregam. Se não fosse a culpa, precisaríamos de Deus?

PFALCosta disse...

Deus é amor, Deus vive no coração, Deus fala através do coração, logo Deus não pede, sentimos a vontade de Deus, quanto mais nos guiarmos pelo coração mais a vontade de Deus é feita.
Os índios tem uma maneira diferente de "olhar" para Deus, uma vida no dia a dia diferente da nossa, mas são seres humanos, com as mesmas qualidades e defeitos. Pecam como todos nós, ninguém é perfeito. Acredito que Deus espera que nos tornemos melhores, apela à nossa consciência independentemente da raça, religião, ou meio onde cada pessoa está inserida. Deus é o mesmo para todos nós, os sentimentos estão no interior de cada um de nós apenas a maneira de orar é diferente.

Anónimo disse...

Padre, disse aí que uma coisa é a fé e outra a salvação. Mas não devem ir as duas coisas juntas?

Confessionário disse...

Olá 15 outubro, 2015 15:4

A fé é supostamente necessária para a Salvação. Mas a Salvação não depende só da fé. Depende também das obras, e sobretudo da Graça de Deus. Disso falarei em breve.
Espero ter resumidamente ajudado