Estávamos à mesa de um café vários padres, pouco conhecidos na verdade, mas unidos pelo mesmo ideal, o sacerdócio. As diferentes idades e experiências eram patentes na conversa. Uma deles era missionário. Estivera vários anos na Amazónia, no Brasil, no meio de uma população indígena. Totalmente indígena, referia, no sentido de que estavam afastados do mundo civilizado, nómadas, índios que viviam da terra, da pesca e da caça como já só se vê em filmes. Um outro colega de uma geração mais velha que a minha perguntou-lhe como faziam, que faziam, como evangelizavam. E o padre missionário respondeu que apenas estavam com eles, que os ajudavam a procurar, por exemplo, deixar de se guerrear. O padre mais velho voltou com nova pergunta sobre como eram os baptismos, e o padre missionário informou que não tinham feito nenhum. Que a vida e cultura deles era muito diferente da nossa. E que Deus estava e manifestava-se por lá de outra forma. Que alguns dos índios se questionavam do que faziam lá três homens que se chamavam padres, e chamava-lhes a atenção do que faziam de diferente. Mas em termos daquilo que é a fé que nós conhecemos aqui na Europa, talvez tivessem dado poucos passos.
O padre mais velho, evitando demonstrar o seu escândalo, repetiu a pergunta. Ou melhor, fez a mesma pergunta de outro modo. Mas a resposta foi a mesma.
Eu, pessoalmente, fiquei encantado por perceber como a nossa missão sacerdotal não passa pelo proselitismo, mas pelo mostrar ou manifestar Deus através da nossa vida e acções. Fiquei encantado por perceber que Deus está muito para além do baptismo e qualquer outro sacramento. Muito para além da Igreja e da minha fé. Afinal Deus não pode nunca formatar-se, enformar-se. Ele entra em tudo e em todos de formas tão variadas, tão impensáveis. Mas entra.
9 comentários:
do que ouvi de vários testemunhos missionários digo-lhe a igreja e Deus está muito para lá dos sacramentos. Deus faz-se presente em todas as periferias ainda que não seja reconhecido como tal. Deus faz-se presente em muitas pessoas ainda que não batizadas. Deus está nelas. Elas é que não sabem. Tal como disse uma vez a um amigo: "Tu não acreditas em Deus. Mas Deus está em ti e acredita em ti."
A urgência é dar-lhe nome. É dar-lhe voz.
Termino com a frase de S. Francisco de Assis: "Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras.”
Deus está. Está em tudo e em todos, não porque desejemos ardentemente que ele esteja, mas por ser quem é, um Deus de amor e misericórdia. Um Deus connosco, está. Nunca abandona. Mesmo quando não o reconheço em mim, em tudo e em todos, está. A íntima convicção de que “está” liberta-nos da procura incessante de sinais e manifestações exteriores. A vontade agora é outra: estreitar, estreitar, estreitar, até alcançar um único respirar. A de ser para estar, mais do que estar para ser.
não sei que diga
nem sei que dirá meu pároco
e que diria o Papa?
Os discípulos de Jesus quando estavam a pescar e que foram chamados por Jesus, vem comigo deixa tudo!...eram Batizados?. Jesus como é que fez o primeiro anuncio?. Interrogo-me muitas vezes, Jesus caminhava com o povo, e estava com o povo...Não julgava, não condenava, porque tudo está diferente?.
Santo Padre Papa Francisco está a dar lições de Missão, estar com, ir ao encontro de...li e partilho:
"“Pelos seus frutos, os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Pelos frutos, pois, os conhecereis.” (Mateus 7, 16-20)
A cultura dos nossos dias é, em muitos aspetos, cada vez mais hostil e ignorante em relação à Igreja Católica (uma consequência do que aconteceu anteriormente). Isto significa, que raramente ouvimos ou somos informados sobre a enorme quantidade de bondade e quão fascinante a Igreja Católica realmente é, inclusive enquanto instituição.
Dito isto, a informação existe e está ao dispor para quem a procura. Quanto mais nós aprendemos sobre a Igreja, melhor seremos capazes de a servir e dar o nosso testemunho ao mundo.
O papa Bento XVI relembra-nos que:
'A Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por 'atração' e testemunho. Contudo, o testemunho requer uma cara e uma boca. Estatísticas guardados num servidor no meio do nada não trazem, de todo, nenhum benefício. Se somos autênticos e testemunhas convictas, muitos responderão como ao profeta Zacarias: “Nós queremos acompanhar-te”.'.
Bem Hajam.
http://os-pilares-da-fe.webnode.com/sacramentos/necessidade-dos-sacramentos/
As razões antropológica, encarnatória, soteriológica, pneumatológica, eclesiológica e criatural-cósmica (esta fascina particularmente) explicam claramente porque não pode existir Igreja sem sacramentos. Já os princípios ontológico, antropológico e teológico a que corresponde a essencialidade da sacramentalidade, assentam nas ambivalências claro-escuro, desvelamento-velado, totalidade não-plena, trans-parentação da imanência, o que não deverá ser causa de frustração para um cristão até porque poderão ser vistas de um modo directo no final dos tempos. Esta é uma boa matéria para o Sr. Padre Missionário introduzir os índios na cultura religiosa europeia, sem grandes choques culturais. O efeito deve ser tal e qual o de uma trip de ayahuasca.
Eu gosto de imaginar DEus para lá da Igreja!
O pároco da freguesia onde vivi 16 anos e onde os meus filhos foram batizados, resolveu em determinada altura, e para "obrigar" os miudos e pais a irem à missa, distribuir no fim da eucaristia dominical uns cromos que os miudos teriam que colar em casa numa caderneta. Quem não fosse à missa não teria hipotese de adquirir o cromo e quem não tivesse a caderneta devidamente preenchida não poderia fazer o sacramento da 1ª comunhão e/ou confirmação.
Ora, eu não era natural daquela freguesia, e, a maior parte dos domingos, optava por participar da eucaristia da minha terra natal seguindo-se o almoço em familia em casa dos meus pais. Consequentemente, os miudos não completaram caderneta alguma.
Numa preparação para o sacramento da 1ª comunhão, o padre pediu a caderneta aos miudos para verificação. O meu filho tinha escrito na caderneta "não é uma coleção de cromos que atesta a minha fé" - o padre não gostou, fez-lhe a vida negra nas restantes sessões de "catequese". Mudamo-nos entretanto para outra localidade, um sábado em que fomos de visita à dita paróquia, os meus filhos pediram para ir à igreja na hora da catequese para reverem os amigos. O padre mandou-os embora porque não se responsabilizava se lhes acontecesse alguma coisa no adro da igreja...
- podem agora os que me lêm estar a pensar: "ai e tal se calhar os miudos estavam a fazer disparates" - não era o caso, mas mesmo que fosse, o bom pastor acolhe. O bom pastor repreende e coloca as ovelhas desordeiras novamente no seu lugar do rebanho, não as manda embora. E estamos a falar de miudos com 7 e 8 anos na altura.
Posto isto, deixamos de nos dizer "cristãos" enquanto membros de uma instituição corrupta. Não precisamos de missa, não precisamos de ritos batismais, nem crisma. Não precisamos de uma hóstia. Preferimos os pequenos almoços lentos, os almoços barulhentos em familia, observar o por do sol ou simplesmente partilhar o sofá e uma manta numa tarde chuvosa de domingo. Preferimos preguiçar os 4 na mesma cama numa manhã de domingo. Os dias da semana são loucos e sem grandes horários de convivio familiar. Os domingos servem para honrar a unidade familiar que somos, com os nossos ritos, não com os ritos repetitvos e monocórdicos de terceiros. A nossa eucaristia é o convivio com a familia e os amigos. É a partilha daquilo que temos com os nossos colegas no trabalho, na escola, os vizinhos. E para isso, não precisamos de sacramentos, precisamos sim, de ter respeito pelo próximo.
Olá, anónima de 30 setembro, 2015 10:05
Entendo o que dizes, como um desencanto com a Igreja, mas não podes confundir a Igreja de Cristo com a Igreja estrutura humana. Nós precisamos da Igreja de Cristo que se vive na comunidade dos seus discípulos. E precisamos tb dos sacramentos, que são momentos especiais visíveis da sua presença nomeio de nós. Aliás, são geralmente a fonte para vivermos a nossa fé, para a enchermos e podermos viver com sentido. Não obstante, Deus não se fica ai. É verdade. Mas aí O encontramos de uma forma muito especial...
abraço
Sacramento divino é ver o sol nascer no alto da serra.
Sacramento divido é dormir debaixo de uma arvore e ouvir-lhe o cantico das folhas.
Sacramento divino é andar descalça sobre a terra e sentir-lhe a energia.
Sacramento divino é dormir abraçada aos meus filhos.
Sacramento divino é ver as plantas a crescer no quintal e saboreá-las na mesa.
...
Sacramentos para fotografia, nao obrigada.
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