sexta-feira, agosto 14, 2015

As mordomas das festas

Entregaram-me um papel com seis nomes dias antes da festa para que, por ocasião da mesma, nomeasse as novas mordomas. Pelos nomes não as conhecia. Mas como estas coisas se comentam, alguém me veio contar que não deveria nomear algumas delas. Uma era divorciada. Outra tinha fama de se meter na cama com homem alheio. Pelo menos essas. Que o senhor padre não deveria nomear.
Na verdade, faço questão de que algumas das pessoas que fazem parte de uma mordomia de festa assegurem o sentido de fé nas festas religiosas e que todas as pessoas nomeadas aceitem as normas que nos são propostas para este tipo de festas. Porém, como pároco, sinto o dever de acolher todos, indistintamente da sua estrada de vida. Judeus ou gregos, escravos ou homens livres, pecadores ou que não se sabem pecadores.
A Igreja não é uma comunidade de perfeitos. O papa Francisco tem dito isso imensas vezes. Aliás, não podia ser de outro modo, porque não há gente perfeita. Além disso temos de confiar na mão de Deus.
E respondi a quem me chamou a atenção. Nas minhas paróquias quero que todos se sintam acolhidos. Repare que as mordomas deste ano, por exemplo, depois da proposta que lhes fiz, confessaram-se. E a maior parte delas já não o fazia há dezenas de anos.
Não basta abrir portas às nossas igrejas. É preciso deixar a porta aberta.

9 comentários:

Paulina Ramos disse...

" alguém me veio contar que não deveria nomear algumas delas. Uma era divorciada. Outra tinha fama de se meter na cama com homem alheio."
Ora ora, e eu a pensar que só na paróquia onde moro é que se passavam estas coisas.
Concordo que tem de existir coerência mas antes de tudo tem de haver acolhimento.
Se acolhidas e tratadas com dignidade as pessoas sentem vontade de mudar.
O que será pior uma pessoa divorciada a colaborar ou alguém aparentemente cristão mas que maltrata a familia?
Esse cinismo essa mesquinhez "embrulha-me" o estômago.
Penso que o padre lá da paróquia deveria ser surdo, (acho que ele até é boa pessoa) evitaria muitos deslizes causadas pelos "ditos" das "Dªs Olgas" que expõem a vida dos outros para desviar a atenção dos podres que carregam secretamente.


Emmanuel disse...

Por vezes penso que a cruz dos padres são os seus paroquianos. Sobretudo aqueles que é suposto mais "ajudarem" a paróquia e o padre.

Anónimo disse...

Se não me falha a memória, Jesus disse que não eram os sãos que precisavam de médico, mas os doentes. Também disse que nem todo aquele que diz "Senhor, Senhor" entrará no reino dos céus. Admiro a sua coragem... Não é fácil

JS disse...

Alguns considerandos:

Por um lado, se o sistema de mordomas se mantém numa determinada comunidade, se a tradição se conserva, isso será indício de que ainda existe uma certa coesão social e que as pessoas a valorizam. Ora, as disfunções familiares são sempre um elemento perturbador dessa coesão. Por outro lado, as mordomas são uma montra: dão visibilidade, reconhecimento, legitimidade às pessoas escolhidas. Às pessoas e às suas circunstâncias, às suas histórias de vida. E nem todas essas histórias são lindas ou dignas de louvor. Em privado tolera-se e compreende-se; mas em público...

Uma mulher divorciada colocada em destaque pode ser vista/sentida por outras mulheres como um perigo de contágio. E por isso reagem, mesmo que de forma inconsciente ou sem saber explicar o porquê. É um certo mal-estar que advém do temor de que sejam criados bichinhos na própria cabeça, de que se ponham com ideias de que também elas poderão querer fazer o mesmo, dar o mesmo passo que a outra. A reacção, portanto, pode ser aqui uma espécie de auto-defesa, de preservação da própria paz de espírito.

Uma mulher divorciada ou uma mulher "oferecida" serão também vistas por outras mulheres como ameaça/concorrência. Também a aqui a reacção pode ser mais instintiva que esclarecida; mas não necessariamente mal-intencionada. Costuma-se dizer que as mulheres sabem bem os homens que têm em casa. E os ciúmes não são coisa para brincadeira.

Anónimo disse...

E eis que esse “alguém”, cuja identidade o Sr. Padre omitiu, de repente toma género e é uma “ela”.
Só uma “ela” é linguaruda.
Só uma “ela” cria caraminholas na cabeça.
Só uma “ela” pode querer imitar outra “ela”.
Só uma “ela” se sente ameaçada por uma “ela”.
Só uma “ela” é ela por ela.

JS disse...

Cara anónima (só pode ser uma "ela", pelo comentário que deixou):

Os homens raramente têm problemas com mulheres "oferecidas" ou divorciadas. A não ser num caso: quando se trata da própria mulher. Mas aí, dificilmente os verás a fazer queixinhas ao padre. O mais certo é irem buscar a caçadeira a casa.

Paulina Ramos disse...

"Os homens raramente têm problemas com mulheres "oferecidas" ou divorciadas. A não ser num caso: quando se trata da própria mulher. Mas aí, dificilmente os verás a fazer queixinhas ao padre. O mais certo é irem buscar a caçadeira a casa. "
:) :) :)
JS foi o teu melhor comentário (na minha opinião)bem humorado, com nível.
Ri com gosto.
Obrigada

Anónimo disse...

Tudo depende do que “ele” tem a perder. Quando se quer uma no saco e outra no papo…
Passada a festa, esquece-se o santo.

Anónimo disse...

Tudo depende do que “ele” tem a perder. Quando se quer uma no saco e outra no papo…
Passada a festa, esquece-se o santo.