O meu cunhado é sócio de um restaurante onde vou de vez em quando visitá-lo e comer. Por lá sabem e comenta-se que ele tem um cunhado padre. Há dois dias fiz uma dessas visitas, e pedi, com fome, uma sopa e um segundo prato. Ainda não acabara a sopa quando um dos empregados me perguntou se o senhor ao balcão se podia sentar na minha mesa para conversar. Respondi que sim e fiz espaço.
O dito senhor apresentou-se como um charlatão de há três meses a esta parte. Advertiu que não acreditava em Deus, mas precisava falar. Enquanto espetava umas garfadas na comida, escutei os últimos três anos da sua vida, que vai nos setenta. A esposa tinha falecido com cancro há três anos e a filha há um com uma doença fulminante. Há três meses tinha-lhe sido diagnosticado um cancro inoperável, pois já não havia nada a fazer de tantas metástases. Não tinha medo da morte, mas precisava falar e eu, porventura, era um bom alvo de conversa. Ouvi sem o interromper muito, até nos fazerem sinal de que tinham de levantar a mesa. No final falei-lhe rapidamente de alguns casos idênticos que acompanhara e aos quais a fé ou a certeza de Deus dera a força que precisavam. Que Deus não nos resolvia os problemas, pois eles fazem parte da nossa vida aqui na terra, mas que dava a força necessária para os viver e para que o sofrimento pudesse ser algo revelador. Não quis concordar muito, mas à despedida, num aperto de mão agradecido, foi dizendo que ia pensar no que lhe disse e quem sabe se não se convertia.
Ao que lhe respondi que por algum motivo escolhera sentar-se ao lado de um padre para que o escutasse, e que eu aceitara exactamente pelo mesmo motivo.
2 comentários:
Bom dia!
Deste relato depreendo que nada acontece por acaso.
Será que é mesmo assim?
Precisava acreditar que ainda que eu não entenda de imediato, tudo tem um motivo para acontecer.
Permite-me partilhar aqui um pedaço de silêncio que alguém trouxe até mim, e que de igual forma eu passo para ti... Depois dessa conversa saberá bem o silêncio.(?)
"Fiquei à espera que o sol acendesse o dia. O mar marulhava, enrolando o calhau da Barreirinha. Manso. Dando sentido à brisa que embriagava as gaivotas. Revestindo de sentido o silêncio da manhã, biografando-o em mim.
Tive tempo de parar, de ouvir os segredos da maré, de interpretar o bailado das nuvens que o céu de junho coreografava. Tive o tempo da liberdade e apresentei-me a mim própria. Despida. Sem precisar de dizer nada, nem de explicar o olhar. Eu comigo. Desprendida. Apenas à espera que o sol acendesse o dia e me encantasse.
Afinal, eu era parte daquela manhã. Eu era a manhã. E o mar. E o voo das gaivotas.
E a brisa . Agradeci a Deus aquela solitude que (já) me fazia falta. E a pacificação azul destes momentos em que somos o universo inteiro.
Na geografia do coração, estes momentos de nada preenchem os caminhos desertos e cheios de banalidades dos dias loucos das nossas vidas. Mostram lugares antigos com cheiro de cerejas e gargalhadas de manjericos. Transportam, em si, a essência de todas as coisas e a simplicidade da natureza.
Não preciso de muito para ser feliz. Basta-me este estar-assim, de volta à minha casa de dentro, peregrinando em mim, encontrando-me com o melhor do meu peito, atirando ao mar os meus medos e libertando-me do que não me faz falta. Basta-me esta vontade de agradecer a vida e este lugar e de me deixar guiar pelo som do mar que me chama para si.
É sempre de manhã que começam os dias novos. E o futuro. São manhãs destas que nos ajudam a continuar a caminhar.
Ah! Já me esquecia: o sol veio dar-me um beijo. E o mar estava de veludo. Trouxe de lá o silêncio. Para si."
Bom dia rouxinol!
Pobre homem. Vive confundido pelos problemas da vida. Deus dar o melhor caminho. Mas o homem segue o errado, depois fica culpando Deus e o mundo todo pelos seus problemas. Acho que este homem precisa de um abraço, bom, eu o daria. Um simples e caloroso abraço. Então é isto.
Thau rouxinol.
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