Já em tempos contei como era a dona Olímpia. O seu coração puro via em tudo algo de bom. Uma maneira de ver que eu cuido muito parecida à de Deus.
Hoje a Olímpia vai a sepultar depois de dois ou três anos a sofrer com um cancro e a sofrer por não poder fazer mais pelos outros, como era seu costume, numa simplicidade que fazia questão de sublinhar, Porque eu não sei nada, senhor padre, não sei dizer as coisas, não valho nada, mas amo muito a Deus. Uma dádiva de toda uma vida em favor dos outros. Por isso tomara conta de pessoas em sua casa que não lhe eram de sangue. Gente difícil, gente que precisava de um cuidado tão bonito como o que Olímpia era capaz de por em prática. Foi a primeira pessoa que me abriu as portas de sua casa quando cheguei a estas paróquias. Até se dar o processo da doença, todos os sábados comia em família. Sim, porque me haviam recebido como família. Era assim a Olímpia. Recebia todos no seu coração como se fizessem parte dele e do sangue que ele tinha a palpitar.
No período da doença tivemos oportunidade de conversar bastas vezes. Sempre aprendi com ela como se vive com fé o sofrimento, como se encara a dor com o amor de Deus. Mas numa das últimas vezes foi-me dada a graça de ouvir-lhe algo sobre a morte, que ela encarava de forma sublime e natural, e que não vou mais esquecer. Senhor padre, o maior milagre da vida é a morte!
E a dona Olímpia, que afirmava não saber dizer as coisas, ensinou-me de forma convicta uma verdade teológica que só os doutores da fé conseguem afirmar, que só os santos dizem de forma tão sábia. De facto, quem acredita na ressurreição e no caminho que nos é dado fazer aqui na terra, sabe que a morte é apenas a expressão máxima da vida.
Obrigada, amiga Olímpia, pelo dom tão grande da tua vida. Junto com a minha mãe, olha por nós do céu.
4 comentários:
Gosto muitíssimo de o ler. Obrigada por estas reflexões que nos abrem janelas, nos deixam a pensar, e nos levam mais longe...
Bela reflexão.
Pena é que neste mundo haja poucas "Olímpias". Só Deus sabe o privilégio que é quando temos oportunidade de partilhar-mos um pouco da nossa vida com uma dessas poucas "Olimpias" que ainda vamos conhecendo. É uma experiência que não tem palavras suficientes para se descrever.
Descansa em paz.
Bem-Aventurados os Puros de Coração, porque verão a Deus!
Se os puros de coração verão a Deus, com certeza enxergarão muitas outras coisas mais que nos passam ao lado. E a morte é uma delas.
Só uma alma com muito entendimento e com muita Luz do Espírito Santo pode dizer que "O Maior Milagre da Vida é a Morte"
E isto não tem nada a ver com saber isto ou aquilo, com saber falar ou não: este entendimento não é adquirido na escola, é "DADO" a quem tem Amor no Coração.
Jesus falou deles quando disse:
"Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelastes aos pequeninos".
"a morte é apenas a expressão máxima da vida."
Uma "expressão" brilhante esta que tu utilizaste para definir a morte.
Será a vida ao encontro de uma nova vida.
Profunda e belíssima esta tua afirmação.
Gostei imenso de a ler.
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